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05/05/2006
-
10h55
CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo
Preste atenção nas fotos abaixo. A de cima mostra um "mar de dunas" no deserto da Namíbia, sul da África. A de baixo revela exatamente o mesmo fenômeno, só que a 1,3 bilhão de quilômetros daqui: em Titã, a maior lua de Saturno. Ironicamente, essa semelhança pode ser um indicativo de que os dois mundos são, de fato, bastante diferentes.
As próprias dunas só são similares na estrutura. Enquanto nos desertos da Terra as areias são feitas de minerais como quartzo e feldspato, em Titã, apostam os cientistas, elas são de hidrocarbonetos, compostos orgânicos.
O processo que formou as longas ondas paralelas de areia, no entanto, é o mesmo: o transporte pelo vento de grandes quantidades de grãos minúsculos de sedimento. No caso de Titã, os cientistas acreditam que esse tipo de transporte ocorra livre e desimpedido ao longo de quase toda a zona equatorial, o que significa que não há grandes massas de líquido para "segurar" a areia. Isso arrefece as esperanças dos pesquisadores de encontrar grandes rios ou mares naquele mundo gelado.
"Não achamos oceanos. Talvez haja laguinhos", brinca a vulcanóloga Rosaly Lopes, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (agência espacial dos EUA). A cientista, carioca radicada nos EUA, faz parte da equipe responsável pela sonda Cassini, cujo radar captou as imagens das dunas de Titã. Ela é co-autora do artigo que descreve o fenômeno, publicado na revista "Science".
Titã tem intrigado os cientistas há anos por ser relativamente grande (5.150 km de diâmetro) e ter uma atmosfera densa, com fluxo de líquidos em sua superfície e até chuvas --de metano líquido em vez de água. É considerado um modelo importante para o entendimento de como a vida surgiu na Terra, daí a vontade de ver a lua saturnina de perto.
Isso aconteceu no ano passado, quando a sonda Huygens, que viajava com a Cassini, pousou na superfície do astro. A própria Cassini tem feito vários sobrevôos de Titã, usando um radar para obter dados da superfície. Esse radar tem dado as imagens mais claras até agora do que existe na lua, mas até agora só 8% do astro foi imageado por ele. As dunas foram vistas em uma dessas passagens.
Lopes diz que tanto a geometria quanto o processo geológico que leva à formação das dunas aqui e em Titã são parecidos. O que deixa um mistério sobre a lua: se não há grandes massas de metano líquido, de onde vem o metano presente na atmosfera?
"Ainda não sabemos. Há áreas escuras no radar que podem ser líquidas. Eu pessoalmente acho que criovulcões [vulcões de gelo] podem ser uma fonte desse metano."
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da Folha de S.Paulo
Preste atenção nas fotos abaixo. A de cima mostra um "mar de dunas" no deserto da Namíbia, sul da África. A de baixo revela exatamente o mesmo fenômeno, só que a 1,3 bilhão de quilômetros daqui: em Titã, a maior lua de Saturno. Ironicamente, essa semelhança pode ser um indicativo de que os dois mundos são, de fato, bastante diferentes.
JPL/Nasa |
"Mar de dunas" no deserto da Namíbia, sul da África. |
JPL/Nasa |
"Mar de dunas" em Titã, a maior lua de Saturno |
O processo que formou as longas ondas paralelas de areia, no entanto, é o mesmo: o transporte pelo vento de grandes quantidades de grãos minúsculos de sedimento. No caso de Titã, os cientistas acreditam que esse tipo de transporte ocorra livre e desimpedido ao longo de quase toda a zona equatorial, o que significa que não há grandes massas de líquido para "segurar" a areia. Isso arrefece as esperanças dos pesquisadores de encontrar grandes rios ou mares naquele mundo gelado.
"Não achamos oceanos. Talvez haja laguinhos", brinca a vulcanóloga Rosaly Lopes, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (agência espacial dos EUA). A cientista, carioca radicada nos EUA, faz parte da equipe responsável pela sonda Cassini, cujo radar captou as imagens das dunas de Titã. Ela é co-autora do artigo que descreve o fenômeno, publicado na revista "Science".
Titã tem intrigado os cientistas há anos por ser relativamente grande (5.150 km de diâmetro) e ter uma atmosfera densa, com fluxo de líquidos em sua superfície e até chuvas --de metano líquido em vez de água. É considerado um modelo importante para o entendimento de como a vida surgiu na Terra, daí a vontade de ver a lua saturnina de perto.
Isso aconteceu no ano passado, quando a sonda Huygens, que viajava com a Cassini, pousou na superfície do astro. A própria Cassini tem feito vários sobrevôos de Titã, usando um radar para obter dados da superfície. Esse radar tem dado as imagens mais claras até agora do que existe na lua, mas até agora só 8% do astro foi imageado por ele. As dunas foram vistas em uma dessas passagens.
Lopes diz que tanto a geometria quanto o processo geológico que leva à formação das dunas aqui e em Titã são parecidos. O que deixa um mistério sobre a lua: se não há grandes massas de metano líquido, de onde vem o metano presente na atmosfera?
"Ainda não sabemos. Há áreas escuras no radar que podem ser líquidas. Eu pessoalmente acho que criovulcões [vulcões de gelo] podem ser uma fonte desse metano."
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