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20/05/2006 - 14h32

Sob ataque de ecologistas, China constrói maior dique do mundo

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MARGA ZAMBRANA
da Efe, em Pequim

Orgulho do governo comunista e pesadelo de ecologistas e camponeses removidos, o maior dique do mundo foi finalizado neste sábado na represa das Três Gargantas, o megalômano projeto que vai entrar em funcionamento em 2008.

Os números são gigantescos. Só os camponeses desapropriados e removidos da região inundada são 1,3 milhão. Foram 100 operários mortos durante a épica construção e 200 mil metros cúbicos de águas residuais serão acumuladas no reservatório. O dique deverá acabar com as milenares cheias do rio Yang Tsé.

AP Photo
2.309 metros de extensão e 185 de altura tiram de Itaipu título de maior dique do mundo
2.309 metros de extensão e 185 de altura tiram de Itaipu título de maior dique do mundo
Os 2.309 metros de extensão e 185 de altura, perto da represa de Xiling (província central de Hubei) tiram de Itaipu, no Brasil, o título de maior dique do mundo. A propaganda comunista compara a obra com a Grande Muralha.

O projeto das Três Gargantas passou por cinco gerações de líderes chineses. Sun Yat-Sen, fundador da República, em 1911, sonhou com a construção. Mao Tsé-Tung, criador da República Popular, em 1949, fez dele sua ambição. E Deng Xiaoping, o "engenheiro" da abertura chinesa, negociou as obras. Aprovado pelo Legislativo chinês em 1992, começou a ser construído em 1993, sob o mandato de Jiang Zemin. Mas é a quarta geração de líderes comunistas, com Hu Jintao à frente, que deverá inaugurar o projeto.

O encerramento das obras hoje, com a última camada dos 28 milhões de metros cúbicos de cimento, anuncia que o projeto ficará pronto um ano antes do previsto, em 2008. Com um pouco de sorte, antes dos Jogos Olímpicos de Pequim.

A represa significa uma conquista histórica: controlar as periódicas cheias do Yang Tsé, o rio mais longo da China, com 6.380 quilômetros, terceiro do mundo depois do Amazonas e do Nilo. Durante milênios suas águas têm inundado as margens, e agora serão retidas para gerar energia.

Atualmente, 12 dos 26 geradores da represa estão em funcionamento. Os outros serão instalados nos próximos dois anos. Em 2008, a previsão é de gerar 84,7 bilhões de quilowatts-hora por ano, reduzindo o déficit energético das cidades do leste do país, as mais ricas.

O orçamento é, segundo Pequim, de US$ 22,5 bilhões; segundo analistas estrangeiros, US$ 50 bilhões, informou a agência oficial "Xinhua".

O dique foi projetado para "resistir a desastres naturais", como terremotos de até 7 graus na escala Richter, e "ataques terroristas", disse Cao Guangjing, subdiretor da China Yangtze River Three Gorges Project Development Corp. (empresa construtora) ao jornal "China Daily".

Reclamações

Mas os ecologistas não estão convencidos. "Não acho que o dique esteja pronto", declarou hoje à Efe Dai Qing, uma ambientalista que estuda o projeto desde os anos 80.

"Em 1980 o Departamento de Transportes se opôs, porque a represa bloquearia o transporte fluvial no Yang Tsé. Mas negociou com o Governo de Deng Xiaping a construção de um elevador para embarcações e cinco comportas. Quatorze anos depois, as obras não saíram do papel", explicou.

Portanto, "os navios têm que esperar até três horas para prosseguir seu curso. Prometeram que seriam 14 minutos de espera. Às vezes há 500 navios esperando", continua Dai.

Segundo Dai, o pior será o impacto ecológico. "Vai ser terrível. A imprensa é controlada pela propaganda", critica.

A boa qualidade do cimento "é mentira", a água vai provocar "desastres geológicos, erosão e infiltrações", prevê Dai. Ela dá como exemplo o que já aconteceu em outra represa do Rio Amarelo, onde a sedimentação passou para o reservatório e envenenou a água.

Ma Jun, analista em projetos hídricos, é comedido. "O projeto tem vantagens e desvantagens. Não adianta mostrar só um lado. O impacto é público", analisa. Para ele, os problemas "refletem as carências do estudo de viabilidade e as decisões originais".

"A China está tentando desde 2004 triplicar sua capacidade energética até 2020. Mas precisamos decidir o futuro dos próximos projetos através de uma participação mais aberta do público", diz Ma, referindo-se às novas leis sobre proteção ambiental aprovadas em 2003.

Segundo a imprensa, a construtora investiu US$ 2,5 milhões na construção de um navio de limpeza de dejetos, "o maior de seu tipo na China". E o Governo vai gastar anualmente US$ 1,25 milhão para limpar os até 200 mil metros cúbicos de águas residuais que se acumulam no reservatório em período de cheias.

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