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26/05/2006
-
05h00
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
Um dos tipos mais promissores de terapia genética experimental pode ser fatal quando administrado sem controle, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira. O trabalho descreve a morte de 23 camundongos em um teste da chamada interferência de RNA (ácido ribonucléico), técnica que se aproveita de propriedades da molécula-irmã do DNA (ácido desoxirribonucléico), envolvida na síntese de proteínas.
Os roedores morreram durante um experimento clínico de terapia contra hepatite B, liderado por Mark Kay, médico da Universidade Stanford, na Califórnia. Na técnica da interferência, fitas duplas de RNA são usadas para silenciar genes relacionados com a doença --no caso, pertencentes ao vírus causador da doença. Para levar o RNA terapêutico às células do fígado dos animais, os pesquisadores usaram um outro tipo de vírus, inofensivo.
"Não acho que o resultado seja um sinal vermelho para a terapia", disse Kay à Folha. "Mas é um sinal de que se deve dar mais atenção à questão da segurança e da dosagem."
De acordo com o cientista, as células hepáticas dos camundongos mortos sofreram com o excesso de RNA estrangeiro chegando a elas não porque essas moléculas fossem nocivas em si, mas porque elas acabavam competindo por nutrientes com outros componentes da célula. Fitas pequenas de RNA que existem naturalmente no organismo humano acabavam impossibilitadas de se manifestar por serem obstruídas pelo RNA terapêutico.
Em seu estudo publicado na revista "Nature" desta semana, Kay relatou que o experimento teve sucesso com alguns animais. O resultado era diferente, dependendo do tipo de seqüência de RNA usada para neutralizar os genes do vírus da hepatite B. "Em alguns casos, tivemos resultados extremamente positivos, mas ainda não sabemos por quê", diz. "Talvez os perfis de toxicidade [das seqüências] sejam diferentes."
No estudo, Kay mostra que a redução da dose também pode resultar em sucesso. "Pretendemos agora estender os experimentos para tratamento de hepatite C", diz.
A notícia sobre a morte dos roedores "não foi nada de inesperado", diz Iscia Cendes, professora da Unicamp que trabalha na mesma linha de pesquisa. "Nós vivemos um momento eufórico em relação à interferência de RNA, mas até agora há poucos estudos sobre efeitos adversos, principalmente os de longo prazo", diz.
Cendes não acredita, porém, que a dificuldade seja uma barreira intransponível e nem que vá aparecer necessariamente em outras técnicas para interferência de RNA.
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da Folha de S.Paulo
Um dos tipos mais promissores de terapia genética experimental pode ser fatal quando administrado sem controle, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira. O trabalho descreve a morte de 23 camundongos em um teste da chamada interferência de RNA (ácido ribonucléico), técnica que se aproveita de propriedades da molécula-irmã do DNA (ácido desoxirribonucléico), envolvida na síntese de proteínas.
Os roedores morreram durante um experimento clínico de terapia contra hepatite B, liderado por Mark Kay, médico da Universidade Stanford, na Califórnia. Na técnica da interferência, fitas duplas de RNA são usadas para silenciar genes relacionados com a doença --no caso, pertencentes ao vírus causador da doença. Para levar o RNA terapêutico às células do fígado dos animais, os pesquisadores usaram um outro tipo de vírus, inofensivo.
"Não acho que o resultado seja um sinal vermelho para a terapia", disse Kay à Folha. "Mas é um sinal de que se deve dar mais atenção à questão da segurança e da dosagem."
De acordo com o cientista, as células hepáticas dos camundongos mortos sofreram com o excesso de RNA estrangeiro chegando a elas não porque essas moléculas fossem nocivas em si, mas porque elas acabavam competindo por nutrientes com outros componentes da célula. Fitas pequenas de RNA que existem naturalmente no organismo humano acabavam impossibilitadas de se manifestar por serem obstruídas pelo RNA terapêutico.
Em seu estudo publicado na revista "Nature" desta semana, Kay relatou que o experimento teve sucesso com alguns animais. O resultado era diferente, dependendo do tipo de seqüência de RNA usada para neutralizar os genes do vírus da hepatite B. "Em alguns casos, tivemos resultados extremamente positivos, mas ainda não sabemos por quê", diz. "Talvez os perfis de toxicidade [das seqüências] sejam diferentes."
No estudo, Kay mostra que a redução da dose também pode resultar em sucesso. "Pretendemos agora estender os experimentos para tratamento de hepatite C", diz.
A notícia sobre a morte dos roedores "não foi nada de inesperado", diz Iscia Cendes, professora da Unicamp que trabalha na mesma linha de pesquisa. "Nós vivemos um momento eufórico em relação à interferência de RNA, mas até agora há poucos estudos sobre efeitos adversos, principalmente os de longo prazo", diz.
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