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02/11/2006 - 11h03

Dino "saci" encontrado no Brasil preenche lacuna na evolução

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CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

Por muito pouco o paleontólogo Jorge Ferigolo não passou batido por um pequeno osso que despontava de um afloramento de rochas em Agudo, Rio Grande do Sul, no ano 2000. Até onde ele sabia, não havia fósseis naquele local. "Começamos a escavar e apareceu uma mandíbula. E depois o resto", recorda-se. Seis anos depois, o achado improvável é oficialmente descrito como o mais novo dinossauro brasileiro.

O animal, batizado Sacisaurus agudoensis, tem 220 milhões de anos e está entre os dinos mais antigos do mundo. Sua descoberta completa uma lacuna na história dos maiores animais que já andaram sobre a terra --e pode ajudar a esclarecer o mistério de sua origem.

Edson Silva/FI
Dino "saci" de 220 milhões de anos, encontrado no Brasil, preenche lacuna na evolução
Dino "saci" de 220 milhões de anos, encontrado no Brasil, preenche lacuna na evolução
O Sacisaurus (literalmente, "lagarto saci") ganhou esse nome por uma brincadeira. Ossos desarticulados de vários indivíduos foram achados em Agudo, mas com um problema. "Temos 19 fêmures direitos e nenhum esquerdo", diz Ferigolo. O porquê disso é um mistério.

Ele pertence ao grupo dos ornitísquios, uma das duas linhagens principais dos dinossauros. É o mesmo grupo que produziu bestas gigantes comedoras de plantas, como o chifrudo Triceratops e o estegossauro, famoso pelas placas de osso nas costas.

O animal gaúcho, no entanto, é bem menor que seus sucessores ilustres: tinha apenas 1,5 metro de comprimento. E mais primitivo também.

Por "primitivo" entenda-se tanto "antigo" quanto "esquisito". A anatomia do Sacisaurus é diferente da de qualquer outro ornitísquio. Tanto que o artigo científico que o descreve, assinado por Ferigolo e por Max Langer, da USP de Ribeirão Preto, foi rejeitado duas vezes antes de ser aceito para publicação pelo obscuro periódico "Historical Biology".

É justamente essa esquisitice que o torna tão interessante para a dupla. Eles argumentam que o animal traz um registro precioso da origem do chamado osso pré-dentário, o "bico" curvo e sem dentes característico de todos os ornitísquios.

No fóssil gaúcho, o pré-dentário é duplo, formado pela fusão de duas projeções ósseas. Em animais como o Triceratops ele é um osso único. Os brasileiros dizem que se trata de uma transição: por ser um dos ornitísquios mais antigos, ele estaria no meio do caminho da formação do pré-dentário.

Nem todo mundo concorda. Isso foi um dos fatores que causaram a rejeição ao artigo original pelas revistas "Proceedings of the Royal Society B" e "Journal of Vertebrate Paleontology", a mais importante da área. "Se o mesmo artigo viesse do Paul [Sereno, paleontólogo-celebridade americano], teria sido aceito", reclama Langer.

"O trabalho é boa ciência", disse à Folha Farish Jenkins, da Universidade Harvard (EUA). "Esse animal é uma bonita transição para uma característica que aparece depois em todos os ornitísquios", disse.

O estudo sobre o "saci" gaúcho também esfria a fervura dos que se apressam em apontar uma origem sul-americana para os dinossauros.

Até agora, vários dos dinos mais antigos do mundo haviam sido achados no Rio Grande do Sul e norte da Argentina, o que levou alguns a propor essa região como berço dos dinos.

Só que entre esses dinos-avós havia apenas um provável ornitísquio, o pisanossauro argentino --cujos fósseis são notoriamente incompletos. A descoberta de mais um ornitísquio na região, em tese, reforçaria essa idéia. Mas comparações feitas por Langer e apresentadas no novo estudo acrescentam ao time dos ornitísquios um outro animal, o Silesaurus, descoberto na Polônia e ainda mais antigo que o saci.

"O pisanossauro e o Silesaurus seriam os ornitísquios mais basais [primitivos]", diz Langer. "Mas eles estão muito separados geograficamente. Isso vai contra a idéia de um centro de irradiação sul-americano. Na verdade, os dinossauros se espalharam muito rapidamente pelo mundo."

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