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29/11/2006
-
09h38
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
A maior fraude científica da década vai fazer com que periódicos que publicam artigos de pesquisadores adotem mais rigor --e burocracia-- na hora de avaliar os trabalhos. Essa foi a tendência apontada pelo resultado de uma comissão independente que investigou a possibilidade de negligência por parte da revista "Science", da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em se deixar enganar pelo veterinário coreano Woo-Suk Hwang.
O cientista falsificou dados em dois estudos sobre clonagem de embriões humanos para obtenção de células-tronco, em 2004 e 2005, e conseguiu driblar editores e revisores da revista. Segundo o comitê, porém, a "Science" fez tudo o que podia para evitar a entrada de informação incorreta.
"Os editores seguiram os procedimentos em operação na 'Science', um processo de revisão similar ao de outras grandes publicações científicas", disse John Brauman, líder do comitê. Para ele, contudo, "nenhum conjunto realista de procedimentos pode ser completamente imune à fraude deliberada". O "peer-review", sistema-padrão em que o estudo é submetido ao crivo de cientistas independentes, tem mais poder de flagrar inconsistências lógicas do que dados falsos.
Em relatório divulgado ontem, o comitê pede à revista que crie um sistema de "avaliação de risco" para detectar eventuais interesses de autores em cometer fraude. Áreas concorridas ou que atraiam a imprensa receberão mais atenção. "Poderemos pedir a autores para revelar informações sobre suas atribuições individuais nos trabalhos e, às vezes, enviar dados, imagens e materiais originais, quando forem questionados", disse Donald Kennedy, editor-chefe da "Science".
Mudança conjunta
Brauman sugeriu também que outras publicações científicas de impacto, como a "Nature" e a "PNAS", discutam uma política conjunta de mudança de critérios. O líder do comitê diz que parte da dificuldade de avaliação dos estudos fraudados de Hwang se deveu ao fato de os autores estarem em um país distante e se comunicarem entre si em outra língua. A "Science", porém, promete que isso não será usado para dificultar a entrada de autores estrangeiros.
"Talvez tenhamos de abandonar a esperança tradicional de que a confiança coletiva vai continuar funcionando", disse Kennedy. "Mas temos de ter a consciência de que, quando apertamos nossos procedimentos, haverá custos sociais associados a essa mudança."
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a "Nature"
Periódicos científicos adotarão mais rigor em suas publicações
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da Folha de S.Paulo
A maior fraude científica da década vai fazer com que periódicos que publicam artigos de pesquisadores adotem mais rigor --e burocracia-- na hora de avaliar os trabalhos. Essa foi a tendência apontada pelo resultado de uma comissão independente que investigou a possibilidade de negligência por parte da revista "Science", da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em se deixar enganar pelo veterinário coreano Woo-Suk Hwang.
O cientista falsificou dados em dois estudos sobre clonagem de embriões humanos para obtenção de células-tronco, em 2004 e 2005, e conseguiu driblar editores e revisores da revista. Segundo o comitê, porém, a "Science" fez tudo o que podia para evitar a entrada de informação incorreta.
"Os editores seguiram os procedimentos em operação na 'Science', um processo de revisão similar ao de outras grandes publicações científicas", disse John Brauman, líder do comitê. Para ele, contudo, "nenhum conjunto realista de procedimentos pode ser completamente imune à fraude deliberada". O "peer-review", sistema-padrão em que o estudo é submetido ao crivo de cientistas independentes, tem mais poder de flagrar inconsistências lógicas do que dados falsos.
Em relatório divulgado ontem, o comitê pede à revista que crie um sistema de "avaliação de risco" para detectar eventuais interesses de autores em cometer fraude. Áreas concorridas ou que atraiam a imprensa receberão mais atenção. "Poderemos pedir a autores para revelar informações sobre suas atribuições individuais nos trabalhos e, às vezes, enviar dados, imagens e materiais originais, quando forem questionados", disse Donald Kennedy, editor-chefe da "Science".
Mudança conjunta
Brauman sugeriu também que outras publicações científicas de impacto, como a "Nature" e a "PNAS", discutam uma política conjunta de mudança de critérios. O líder do comitê diz que parte da dificuldade de avaliação dos estudos fraudados de Hwang se deveu ao fato de os autores estarem em um país distante e se comunicarem entre si em outra língua. A "Science", porém, promete que isso não será usado para dificultar a entrada de autores estrangeiros.
"Talvez tenhamos de abandonar a esperança tradicional de que a confiança coletiva vai continuar funcionando", disse Kennedy. "Mas temos de ter a consciência de que, quando apertamos nossos procedimentos, haverá custos sociais associados a essa mudança."
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