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19/02/2007 - 09h17

Especialistas pedem embargo à pesca em águas profundas

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RAFAEL GARCIA
Enviado especial da Folha de S. Paulo a San Francisco

Um grupo internacional de especialistas em biodiversidade marinha lançou ontem um apelo em favor de um embargo à pesca de espécies de águas profundas (mais de 500 metros abaixo da superfície).

Em uma série de palestras na reunião anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em San Francisco, os pesquisadores mostraram indícios de que os navios pesqueiros já estão fazendo estrago em lugares onde biólogos nunca estiveram.

Divulgação
O grenadier, peixe de águas profundas que integra o "cardápio proibido" dos cientistas
O grenadier, peixe de águas profundas que integra o "cardápio proibido" dos cientistas
"O que é triste é constatar que, à medida que descobrimos novas espécies, vemos que elas já estão impactadas", diz Murray Roberts, da Associação Escocesa para Ciências do Mar. "E nós já sabemos que essas populações de peixes podem levar de centenas a milhares de anos para se recuperar."

O problema deriva, em grande parte, do tipo de vida que é encontrada em grandes profundidades. "A adaptação biológica para viver nessas águas extremamente frias é tornar-se lento", explica a bióloga Selina Heppell. "Alguns peixes demoram até 36 anos para atingir a maturidade sexual e podem viver até 150 anos."

Com esses ciclos de vida longos, dificilmente uma espécie poderá sobreviver à voracidade da indústria pesqueira, que nos últimos anos tem lançado mão de técnicas novas para levar redes de arrasto cada vez mais fundo. Além de conseguir estender as redes, o transporte por grandes distâncias está facilitado por técnicas de refrigeração instantânea e pelo rastreamento de cardumes com uso de aparelhos de GPS.

Segundo o pesquisador Sumaila Hashid, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), é um tipo de pesca pouco rentável, que só prospera por causa de incentivos governamentais. "Nossa estimativa é de que os subsídios para essas frotas de navios hoje somem US$ 152 milhões, o que representa 15% do valor da frota estacionada", diz o pesquisador. "Mas o lucro obtido por esse grupo de navios em geral não passa de 10% do valor da frota."

Entre os países que subsidiam a prática estão Japão, Espanha, Rússia, Coréia do Sul, Austrália, Ucrânia e França.

Pessoas que assistiram à palestra dos pesquisadores em San Francisco receberam um folheto para orientar o consumo responsável de frutos do mar, uma das grandes atrações turísticas da cidade.

Entre espécies listadas no pequeno "cardápio proibido" figuram peixes como a merluza-negra (Dissostichus eleginoides). Ela é capturada com redes de arrasto de alcance profundo. Outro grupo ameaçado é o dos grenadiers (Macrouridae).

Como se não bastasse a sobrepesca, algumas dessas espécies já estão ameaçadas pela deterioração de corais profundos causada pela acidificação do oceano, uma conseqüência do aquecimento global que já se faz sentir.

Moratória

A boa notícia é que o pedido de moratória já está sendo discutido na ONU com o apoio de Brasil, EUA, Chile, Noruega e outros países. A medida sofre resistência do Japão e do Canadá, mas em dezembro todos entraram em acordo para que se produza uma avaliação mais precisa dos estoques de peixes no fundo do mar.

"O ônus da prova mudou de lado", diz Mathew Gianni, da Coalizão de Conservação do Mar Profundo. Pelo acordo preliminar, por enquanto, os recursos pesqueiros de áreas internacionais profundas só podem ser acessados se o país que deseja fazê-lo provar que o ecossistema a ser explorado não está ameaçado. "Mas precisamos ver se, na prática, o acordo será cumprido", diz Gianni.

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