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28/12/2000 - 12h53

Cientistas procuram remédio anti-ressaca

DO "THE NEW YORK TIMES"

Enquanto sobram trabalhos científicos estudando a intoxicação por álcool, parece que poucos pesquisadores até hoje resolveram se devotar ao próximo passo lógico: o estudo da ressaca. Mas parece que isso está mudando.

Para entender o porquê, é só seguir o dinheiro. O uso abusivo de álcool custa, só nos EUA, US$ 148 bilhões por ano, em razão de trabalhos perdidos e de baixo rendimento profissional -principalmente por culpa de ressacas, segundo um dos estudos citados na revisão escrita pela equipe de Jeffrey Wiese, da Universidade da Califórnia em San Francisco.

O grupo, composto por Wiese e outros dois médicos, fez uma extensa análise da literatura médica e encontrou cerca de 4.700 estudos sobre intoxicação por álcool, mas apenas 108 sobre a ressaca, que, segundo eles, custa em média US$ 2.000 por ano a cada trabalhador norte-americano.

Se fosse desenvolvida uma droga capaz de prevenir a ressaca -ou ao menos tratar os sintomas rápida e efetivamente- alguns desses bilhões poderiam ser economizados, além de acabar com todas as teorias sobre o que previne ou cura os efeitos, como aquela água com gás antes de beber ou aquele café quente depois.

Isso sem falar no dinheiro que renderia a quem obtivesse o medicamento. "É uma aposta segura dizer que alguém que conseguisse curar ressacas poderia fazer milhões", diz Michael Shlipak, um dos colegas de Wiese.

Para encontrar a cura definitiva, o fundamental seria achar a causa. Existem atualmente algumas teorias que vão além da simples desidratação para explicar as raízes do problema. Desidratação é um grande fator, mas os pesquisadores estão olhando além.

"O ângulo inflamatório é o mais interessante e promissor", diz Shlipak. Alguns pesquisadores apostam nas citoquinas, pequenas moléculas que transmitem sinais de inflamação pelo corpo. Elas são liberadas pelos glóbulos brancos do sangue durante o combate a invasores, como os vírus. São as citoquinas que fazem com que a gripe seja sentida e reconhecida como uma gripe.

Segundo Shlipak, elas também podem fazer a ressaca ser sentida exatamente do mesmo modo que a gripe. Ele acredita que a náusea, a dor-de-cabeça, a diarréia e as dores e fraquezas musculares causadas pela ressaca são basicamente as mesmas produzidas pelo vírus da gripe, o influenza.

Adoçando o problema
Somada ao aumento de produção de citoquinas induzidas pelo consumo de álcool, há a redução no processamento de glicose. Como todas as células do corpo precisam da glicose no sangue para realizar suas atividades, sintomas como diminuição dos reflexos e fraquezas podem aparecer em razão da escassez energética.

O coração também trabalha mais durante uma ressaca: a pressão sanguínea aumenta e o músculo cardíaco bate mais rápido e mais forte, provavelmente acompanhando a liberação de hormônios como a adrenalina.

O cérebro sofre também. O álcool suprime a atividade dos neurônios. "No dia seguinte, conforme o álcool vai saindo, as células começam a se recuperar e ficam muito sensíveis", diz Wiese. "Elas ficam tão excitáveis que o cérebro não consegue se concentrar."

Beber café e água, um procedimento comum, não leva alguém de ressaca a nenhum lugar, exceto ao banheiro. O café pode ajudar a curto prazo, mas seu efeito diurético aumenta a desidratação. A água ajudaria a combater a desidratação, mas os experimentos que Wiese estudou mostraram que a melhora da condição dos voluntários foi mínima.

Embora nenhuma droga esteja disponível para remediar a situação, Wiese e Shlipak afirmam que o futuro dos tratamentos contra a ressaca está na prevenção da liberação de citoquinas.

"Nosso interesse é descobrir um modo de bloquear a inflamação, de modo que a pessoa não experimente os efeitos (da ressaca) enquanto espera que as impurezas sejam retiradas", diz Wiese.

Enquanto isso, o melhor conselho dos especialistas que estudaram toda a literatura médica é um clichê: moderação. Pare de beber cedo, beba muita água e tenha uma boa noite de sono. (DIANNE PARTIE LANGE)
 

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