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28/12/2000 - 14h37

Pescadores ameaçam as ilhas Galápagos

do "New York Times"

A exótica diversidade natural das ilhas Galápagos inspirou Charles Darwin a desenvolver a teoria da evolução e a noção de sobrevivência do mais apto. Agora, o arquipélago é palco de outra disputa: pescadores que não respeitam os limites das áreas de pesca estão minando os esforços do governo equatoriano para preservar o ecossistema da região.

Nas últimas semanas, pescadores invadiram áreas de conservação, bloquearam portos e agrediram grupos de turistas. Na ilha Isabela, eles deixaram o escritório do Parque Nacional de Galápagos em chamas, saquearam a casa de um funcionário do parque e levaram um grupo de tartarugas gigantes do centro de reprodução.

Os pescadores e seus aliados _entre eles, empresas do Equador com interesse comercial no arquipélago_ estão protestando contra uma lei de 1998 que confere aos moradores das ilhas Galápagos maior autonomia.

A lei também estabelece uma reserva marinha de mais de 64 quilômetros da costa onde a pesca é proibida para todos, à exceção dos residentes locais que usem formas artesanais de pesca e que respeitem um sistema de cotas para a lagosta e o pepino-marinho.

"Eles estão tentando destruir nossas vidas com suas regras e suas leis", afirma Leonardo Rosero Atocha, presidente da Cooperativa de Pescadores de Isabela, a mais pobre das quatro ilhas habitadas de Galápagos.

"Mas não permitiremos que isso aconteça. Aqui é a nossa casa. Sabemos melhor o que deve ser feito para preservar o ambiente, e ninguém tem o direito de vir do continente até aqui e dirigir nossos negócios."

Cientistas argumentam, no entanto, que se a pesca não for limitada a vida marinha será fatalmente destruída.

"Uma das razões das ilhas Galápagos serem tão importantes é que elas funcionam como um ponto de referência sobre como era o ambiente no passado. Precisamos preservar isso", afirmou Carl Safina, vice-presidente de conservação marinha da Sociedade Nacional Audubon.

Apesar da imagem de paraíso terrestre, onde vivem criaturas estranhas que não demonstram medo do homem, as Galápagos sempre foram um lugar difícil para os seres humanos viverem.

Devido às oportunidades de trabalho e ao aumento da riqueza no Equador, a população das ilhas Galápagos _cerca de mil pessoas em 1950_ já atingiu 16 mil e continua crescendo a uma taxa estimada em 6% ao ano, apesar da repressão à imigração, incluída na lei de 1998.

Doadores internacionais financiam a pesquisa e os esforços de conservação, mas a população local depende muito do governo central _que está praticamente falido_, e essa disparidade tem provocado ressentimentos.

"Por que eles mandam cientistas para estudar iguanas e não médicos para cuidar dos seres humanos que vivem aqui?", pergunta Manuel Caiza, um pescador da ilha Isabela. "Eles nos insultam, pois demonstram que animais valem mais do que nós."

Como resultado do conflito, os pescadores obtiveram um aumento sobre as cotas de lagosta, de 50 toneladas para 80 toneladas e a extensão da área de pesca.

Empolgados com esse sucesso, eles agora estão reivindicando um calendário de pesca anual, a suspensão da proibição da pesca de tubarões e a anulação de um acordo, no qual os pescadores se comprometiam a não pescar pepinos-marinhos em 2001.
 

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