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02/01/2001 - 09h36

Animal transgênico é resistente à mastite

ISABEL GERHARDT
da Folha de S.Paulo

Várias proteínas de interesse farmacêutico e industrial vêm sendo produzidas no leite de animais transgênicos, especialmente camundongos.

A mais nova delas protege os ratinhos da infecção causada pela bactéria Staphylococcus aureus. O objetivo é, com essa técnica, desenvolver um gado leiteiro resistente à mastite.

A mastite é a infecção das glândulas mamárias, causada pela ação de diversas bactérias. No Brasil, cerca de 72% das vacas leiteiras apresentam pelo menos uma glândula infectada. O estafilococo é responsável por até 30% das infecções do gênero.

Segundo David Kerr, da Universidade de Vermont (EUA), autor do estudo publicado na revista "Nature Biotechnology" deste mês, a dificuldade em combater esse microrganismo é que o antibiótico não penetra completamente em todas as células da glândula, permitindo a sobrevivência dos mais resistentes.

O uso de uma proteína chamada lisostafina já havia mostrado ser eficiente no combate à bactéria. Injeções da proteína na teta, tanto de camundongos como de vacas leiteiras, conferiram proteção contra a mastite, mas por um período curto de tempo.

Com base nesses resultados, Kerr e sua equipe decidiram isolar o gene da lisostafina e acrescentá-lo a células de camundongos, acreditando que "engenheirar" um animal para a produção da proteína no leite poderia conferir proteção a mais longo prazo contra a mastite.

Especificidade de ação

A lisostafina é, na verdade, uma proteína também produzida por um estafilococo, no caso, o Staphylococcus simulans. Ela é usada por ele para degradar a parede celular de estafilococos de outras espécies.

"Apesar de restringir sua ação antibactericida a apenas um microrganismo, essa especificidade da lisostafina a torna ideal, pois ela não é capaz de degradar proteínas do leite, preservando sua composição", diz Kerr.

Para que a proteína controle a infecção das glândulas mamárias, é preciso que ela seja secretada no leite. Por isso, os pesquisadores isolaram o gene da lisostafina do estafilococo e o colocaram sob o controle da região regulatória (que sinaliza onde e quando um gene deve ser ativado) de outro gene, a lactoglobulina, que, como o nome indica, é ativada no leite.

Os ratinhos transgênicos foram capazes de produzir até 1,3 mg de lisostafina em 1 ml de leite. Para testar a capacidade de combate desses animais ao S. aureus, os cientistas inocularam nas glândulas mamárias 10 mil unidades do microrganismo. "Esse número provoca uma infecção severa, mais forte do que comumente ocorre na natureza", afirma Kerr.

Enquanto os animais-controle (não-transgênicos) desenvolveram a doença, os ratinhos geneticamente modificados apresentaram glândulas mamárias livres da bactéria, mostrando-se completamente resistentes à infecção.
Kerr afirma que o tecido das glândulas dos camundongos transgênicos era normal, e o padrão de proteínas do leite, similar ao dos animais-controle.

Atualmente, a terapia para a mastite envolve o uso de antibióticos como aqueles derivados da penicilina, além de práticas preventivas que proporcionam a higiene na ordenha.

Existe o temor de que o uso de antibióticos na pecuária contribua para o desenvolvimento de bactérias cada vez mais resistentes. Isso é particularmente relevante no caso de antibióticos usados oralmente pelo homem.

O uso de proteínas antimicrobianas, como a lisostafina, dificilmente será estendido aos seres humanos, pois, se for ingerida, será digerida e inativada após a administração oral. Esse fato contribui ainda mais para seu emprego em terapias de animais.
 

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