Publicidade
Publicidade
04/01/2001
-
08h02
especial para a Folha
Os dentes molares dos mamíferos podem ter surgido duas vezes em dois pontos distintos e isolados do planeta, segundo uma nova interpretação do registro fóssil.
A hipótese dessa rara ocorrência deixa claro o quanto esses dentes versáteis foram importantes para o sucesso dessa classe animal à qual pertence o ser humano.
Apesar de não serem tão espetaculares quanto os dentes dos tubarões ou dos dinossauros carnívoros, os molares de animais como o homem, o cão ou o camundongo têm uma característica importante: são capazes de rasgar e também de amassar o alimento.
Essa inovação foi possivelmente a principal responsável pela grande disseminação e diversificação dos mamíferos.
Além disso, os dentes da arcada superior dos mamíferos modernos se encaixam com precisão naqueles inferiores, possuindo facetas complementares perfeitamente adaptadas para mastigar.
Esse tipo de dente é chamado "triboesfênico", junção de duas palavras gregas - "tríbein" ("triturar") e "sphen" ("cunha", "pontiagudo").
Richard Cifelli, do Museu de História Natural de Oklahoma, e seus colegas Zhe-Xi Luo e Zofia Kielan-Jaworowska estudaram fósseis -em especial mandíbulas e dentes- de cerca de 20 mamíferos com idades variando de 200 milhões a 65 milhões de anos.
Os mamíferos existentes hoje são divididos em três grupos -placentários (são a maioria, como o homem), marsupiais (como o canguru) e monotremados (dos quais só existem duas espécies, o ornitorrinco e a equidna, que botam ovos e não têm dentes).
Os mais primitivos desses animais tinham dentes com formas simples, que apenas se alinhavam quando a mandíbula fechava (como dois pentes se encaixando).
Os cientistas acreditavam que os dentes mais modernos, os triboesfênicos, tinham surgido apenas no hemisfério Norte, depois que o continente primordial, a Pangéia, se partiu em dois.
Há 160 milhões de anos surgiram então os continentes Gondwana (ao sul) e Laurásia (ao norte), separados pelo mar de Tétis.
Mas novos achados fósseis indicam que havia mamíferos antigos com esses dentes mais sofisticados também no hemisfério Sul.
A nova interpretação feita por Cifelli e colegas -publicada na edição de hoje da revista "Nature" - afirma que uma linhagem de mamíferos triboesfênicos se espalhou por Gondwana, mas que dela só restaram os dois monotremados sem dente, ornitorrinco e equidna.
A outra linhagem ficou isolada no norte do planeta e deu origem a placentários e marsupiais.
Descobertas recentes no hemisfério Sul estão na base da nova hipótese. É o caso do mamífero chamado Ausktribosphenos, de 120 milhões de anos, achado na Austrália, ou mesmo do Ambondro, ainda mais velho -167 milhões de anos- e encontrado em Madagascar. Para Cifelli e colegas, ambos seriam triboesfênicos.
O fato de uma mesma característica ter surgido independentemente em dois pontos não é tão incomum como se poderia pensar. Os mamíferos primitivos eram pequenos e tinham muita necessidade de alimento.
"Por isso a sobrevivência provavelmente dependia do processamento eficiente do alimento, e a dentição triboesfênica dá justamente isso", afirmou a pesquisadora Anne Weil, da Universidade Duke, de Durham (EUA), comentando a nova interpretação.
Dentes molares podem ter surgido em dois locais
RICARDO BONALUME NETOespecial para a Folha
Os dentes molares dos mamíferos podem ter surgido duas vezes em dois pontos distintos e isolados do planeta, segundo uma nova interpretação do registro fóssil.
A hipótese dessa rara ocorrência deixa claro o quanto esses dentes versáteis foram importantes para o sucesso dessa classe animal à qual pertence o ser humano.
Apesar de não serem tão espetaculares quanto os dentes dos tubarões ou dos dinossauros carnívoros, os molares de animais como o homem, o cão ou o camundongo têm uma característica importante: são capazes de rasgar e também de amassar o alimento.
Essa inovação foi possivelmente a principal responsável pela grande disseminação e diversificação dos mamíferos.
Além disso, os dentes da arcada superior dos mamíferos modernos se encaixam com precisão naqueles inferiores, possuindo facetas complementares perfeitamente adaptadas para mastigar.
Esse tipo de dente é chamado "triboesfênico", junção de duas palavras gregas - "tríbein" ("triturar") e "sphen" ("cunha", "pontiagudo").
Richard Cifelli, do Museu de História Natural de Oklahoma, e seus colegas Zhe-Xi Luo e Zofia Kielan-Jaworowska estudaram fósseis -em especial mandíbulas e dentes- de cerca de 20 mamíferos com idades variando de 200 milhões a 65 milhões de anos.
Os mamíferos existentes hoje são divididos em três grupos -placentários (são a maioria, como o homem), marsupiais (como o canguru) e monotremados (dos quais só existem duas espécies, o ornitorrinco e a equidna, que botam ovos e não têm dentes).
Os mais primitivos desses animais tinham dentes com formas simples, que apenas se alinhavam quando a mandíbula fechava (como dois pentes se encaixando).
Os cientistas acreditavam que os dentes mais modernos, os triboesfênicos, tinham surgido apenas no hemisfério Norte, depois que o continente primordial, a Pangéia, se partiu em dois.
Há 160 milhões de anos surgiram então os continentes Gondwana (ao sul) e Laurásia (ao norte), separados pelo mar de Tétis.
Mas novos achados fósseis indicam que havia mamíferos antigos com esses dentes mais sofisticados também no hemisfério Sul.
A nova interpretação feita por Cifelli e colegas -publicada na edição de hoje da revista "Nature" - afirma que uma linhagem de mamíferos triboesfênicos se espalhou por Gondwana, mas que dela só restaram os dois monotremados sem dente, ornitorrinco e equidna.
A outra linhagem ficou isolada no norte do planeta e deu origem a placentários e marsupiais.
Descobertas recentes no hemisfério Sul estão na base da nova hipótese. É o caso do mamífero chamado Ausktribosphenos, de 120 milhões de anos, achado na Austrália, ou mesmo do Ambondro, ainda mais velho -167 milhões de anos- e encontrado em Madagascar. Para Cifelli e colegas, ambos seriam triboesfênicos.
O fato de uma mesma característica ter surgido independentemente em dois pontos não é tão incomum como se poderia pensar. Os mamíferos primitivos eram pequenos e tinham muita necessidade de alimento.
"Por isso a sobrevivência provavelmente dependia do processamento eficiente do alimento, e a dentição triboesfênica dá justamente isso", afirmou a pesquisadora Anne Weil, da Universidade Duke, de Durham (EUA), comentando a nova interpretação.
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Gel contraceptivo masculino é aprovado em testes com macacos
- Sons irritantes de mastigação fazem parte do cérebro entrar em parafuso
- Continente perdido há milhões de anos é achado debaixo do Oceano Índico
- Por que é tão difícil definir o que é vida e o que são seres 'vivos'
- Conheça as histórias de mulheres de sucesso na Nasa
+ Comentadas
- Criatura em forma de saco e sem ânus poderia ser antepassado do homem
- Atritos entre governo estadual e Fapesp são antigos, dizem cientistas
+ EnviadasÍndice