Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
09/02/2001 - 02h31

Espécie humana tem poucos genes, revela cientista

ISABEL GERHARDT
enviada especial da Folha a Lyon

"Sinto desapontar quem achava que os humanos eram seres muito mais complexos e superiores aos demais. Temos bem menos genes do que imaginávamos."

Essa foi a única dica que Francis Collins, o diretor do Projeto Genoma Humano, se permitiu revelar sobre o conteúdo dos esperados artigos com a sequência do genoma humano, que serão divulgados na próxima semana. Ela foi dada na sessão de abertura do Fórum Mundial sobre Ciências da Vida (BioVision), que começou ontem em Lyon, França.

Collins, que chegou em cima da hora para sua conferência e partiu logo em seguida, salientou o tempo todo o caráter público e internacional do projeto. "Nossos dados, desde o primeiro instante, estavam disponíveis nos bancos de dados, para quem quisesse acessá-los", afirmou.

"Nossos colegas da Celera (empresa presidida por Craig Venter, que compete com o consórcio público pela primazia dos dados do genoma humano) estarão publicando seus resultados também na semana que vem, na revista 'Science'. No entanto, os dados terão algumas restrições de acesso", provocou, referindo-se à comercialização dos dados pela Celera.

Ainda falando sobre o genoma humano, Collins disse que a sequência de 3 bilhões de letras de DNA é um livro-texto de medicina "escrito numa linguagem que ainda não podemos compreender totalmente". Segundo ele, em junho do ano passado, quando foi feito o anúncio da conclusão do sequenciamento, havia 94% de informação disponível, mas ainda não era possível tirar muitas conclusões sobre o genoma.

Propriedade intelectual

Collins fez também considerações sobre a propriedade intelectual dos dados sobre o genoma. Usou a imagem de uma estrada, com o ponto de partida na pesquisa básica, e o de chegada, nos produtos biotecnológicos.

"Eu posso concordar que seja permitida a colocação de uma barreira no final da estrada, para que um produto seja desenvolvido. Mas, não no início, não muito próximo do ponto de partida da ciência básica. Isso pode impedir justamente que alguém ache uma aplicação para aquilo que se está estudando", disse.

Collins revelou que o Projeto Genoma Humano está lançando luzes sobre outras descobertas científicas, especialmente aquelas que envolvem doenças com componentes genéticos. "E virtualmente todas as doenças têm um componente como esse."

Segundo ele, a identificação de um gene tem três consequências. A primeira leva à possibilidade de desenvolvimento de terapia genética. A segunda contribui para um melhor diagnóstico, que, por sua vez, pode levar à medicina preventiva e ao desenvolvimento da farmacogenômica (uso da informação do genoma para descobrir como um indivíduo responderá a certo medicamento). E a terceira envolve a compreensão de características biológicas básicas e o desenvolvimento de novas drogas.

Apesar de suas previsões otimistas, Collins incluiu em sua análise as implicações éticas, legais e sociais que deverão surgir das pesquisas com o genoma humano. "Um casal pode programar seu filho para ser um músico maravilhoso e, ao invés disso, vê-lo se transformar em um adolescente fechado e que fuma maconha."

Para Collins, é preciso que se forme um consenso sobre os limites da tecnologia genética para "melhorar" as características humanas e evitar a discriminação genética. Para isso, devem-se buscar soluções legislativas que garantam que, na busca de um emprego ou no acesso a um seguro-saúde, a informação genética do indivíduo seja deixada de lado.

Collins afirmou ainda que um dos maiores desafios é levar a informação do genoma para as pessoas comuns, de maneira que elas possam compreender - e não temer - os avanços que, disse acreditar, estão por vir.

Determinismo genético

O diretor do Projeto Genoma Humano acredita que a educação irá evitar que as pessoas sucumbam ao determinismo genético. "Não podemos deixar que elas tenham a falsa idéia de que somos controlados por sinais que vêm do nosso DNA. Compreender o genoma será bom para tratarmos de doenças, mas não irá nos dizer o que é o amor, por exemplo."

A jornalista Isabel Gerhardt faz a cobertura do fórum BioVision com as despesas de hospedagem pagas pelos organizadores do evento
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página