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12/02/2001 - 07h57

Para cientistas, ainda há muito por fazer

ISABEL GERHARDT
da Folha de S.Paulo
Enviada especial a Lyon

"Não creio que o trabalho tenha terminado. Temos vãos a preencher, temos genes para completar. O trabalho continua. E não vai ser fácil produzir conhecimento a partir desse enorme volume de dados que temos."

A afirmação de Jean Weissenbach, do Genoscope (Centro Nacional de Sequenciamento de Genes Francês), a respeito da publicação dos artigos científicos sobre o genoma humano, foi dada durante o jantar organizado pela Celera, durante o Fórum Mundial sobre Ciências da Vida, que terminou na semana passada em Lyon, França.

O jantar, cujo tema foi justamente "Sequenciando o Genoma: E Daí?", reuniu num debate regado a Crozes-Hermitage alguns cientistas -entre eles Craig Venter, presidente da Celera- para discutir o que se pode esperar do pós-genoma.

Fase pós-genoma? Não para Craig Venter. "A genômica recém começou. O que precisamos agora é de mais genomas. O do camundongo já está a caminho, a Celera começou o do cachorro. Com amostras de DNA extraídas do meu poodle", brincou.

Piadas à parte, certamente o que se pode esperar de mais imediato é o crescimento da genômica comparativa -a comparação dos dados de vários genomas, na busca por semelhanças (ou diferenças) que ajudem a explicar por que os organismos são como são.

"Não temos algoritmos para prever todos os genes humanos desse volume de informação. Vamos ter de partir para genômica comparativa", afirmou Venter.

Os cientistas presentes no jantar foram unânimes em concordar que o que nos difere de um cachorro, gato ou chimpanzé talvez não seja nem diferentes tipos de genes regulatórios (responsáveis pela produção de proteínas que interferem na ativação de outros genes), mas a quantidade e o momento em que essas proteínas que eles codificam são produzidas.

Outra área que deverá atrair atenção (e que na verdade poderá ser mais um foco de competição entre Craig Venter e Francis Collins, do Projeto Genoma Humano) é a dos SNPs (ou "snips").

Os SNPs (sigla em inglês para polimorfismo em um único nucleotídeo) são variações na sequência de DNA, de pessoa para pessoa, e que ocorrem a cada 100 ou 300 pares de bases. Um exemplo: Maria tem em seu genoma a sequência AAATTTCGCCGGTA. Essa mesma sequência em João pode ser AAATTTCGCCGGTT. Ou seja, houve uma alteração em um único nucleotídeo.

Essa alteração pode ser a diferença entre Maria ter um gene que produz uma proteína defeituosa ou não.

Enquanto o Consórcio de SNPs (que reúne instituições públicas e empresas) se dispõe a depositar nos bancos de dados todos os SNPs encontrados, a Celera tem seu próprio banco de SNPs -com mais de 4 milhões de exemplares. O consórcio chegou, neste mês, a 3 milhões de SNPs.

Tanto Venter como Collins chamaram a atenção para três aspectos que deverão ser mais estudados a partir de agora. O primeiro deles está relacionado a interações dos genes com o ambiente -como fatores ambientais podem influenciar a ação dos genes.

Aqui, a tecnologia que deverá ser utilizada é a dos chips de DNA. Esses chips indicam quais os genes ativados e com que intensidade quando submetidos a condições ambientais diferentes.

O segundo aspecto, que está de certo modo aliado ao primeiro, é a alteração de características herdáveis que ocorrem sem que haja mudança na sequência de DNA.

Ao reconhecer a importância da ação do ambiente sobre as funções do organismo, os cientistas precisarão descobrir, então, como atuam as proteínas. Afinal, são elas os blocos construtores de células e tecidos e os agentes responsáveis pelo funcionamento do corpo humano. Certamente outra área que significará muito no futuro, mas que ainda requer muito trabalho para o desenvolvimento de tecnologias rápidas e baratas é a da proteômica -o estudo de todas as proteínas que existem em uma célula, tecido ou organismo.

Proteínas são muito mais complexas e difíceis de trabalhar do que DNA. Exigem etapas de produção e purificação para seu manuseio que são trabalhosas.

O objetivo final de um projeto proteoma -a determinação da estrutura tridimensional das proteínas- exige técnicas caras, como cristalografia de raios X, ressonância magnética e espectrometria de massa.

Leia mais notícias sobre o projeto genoma
 

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