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12/02/2001 - 08h06

"Brasileiro" trabalhou no projeto público

CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

Não há nenhum brasileiro entre os mais de 200 nomes que assinam o artigo do genoma humano na "Nature". Mas, pelo menos para um deles, o Brasil significa mais do que aquele país de Terceiro Mundo que sequenciou a Xyllela fastidiosa: o francês Patrick Winker, pesquisador-sênior do
instituto Genoscope, trabalhou por sete anos na Fiocruz, no Rio.

Winker, que guarda do país um português perfeito -com os "s" chiados dos cariocas- e uma paixão pelo estudo de doenças tropicais, foi o responsável pela geração das sequências brutas do cromossomo 14, que deve ser finalizado mês que vem.

Ele também faz parte da equipe francesa que está sequenciando o peixe Tetraodon nigroviridis, um baiacu, para o futuro trabalho de anotação -isto é, a localização dos genes- do genoma humano.

"Nós desenvolvemos programas informáticos para, quando você comparar o peixe e o ser humano, por exemplo, ter como resultado apenas o que está dentro das regiões codificantes (que carregam informação para produzir proteínas)", disse Winker, à Folha, por telefone, de sua casa em Evry, a "genópolis" francesa, a sudeste de Paris.

Serviço militar
Winker, 39, chegou ao Brasil em 1988 para fazer serviço militar. "Na França você tem a opção de trocar o Exército por um ou dois anos de trabalho em cooperação científica", afirmou.

O que seria uma estadia curta acabou virando um longo trabalho no Laboratório de Biologia Molecular de Tripanossomídeos da Fiocruz, então chefiado por Carlos Morell, hoje diretor de pesquisas sobre doenças tropicais da OMS (Organização Mundial da Saúde).

O trabalho do grupo chefiado por Winker era produzir um diagnóstico experimental do mal de Chagas por meio da identificação de sequências do DNA do tripanossoma (o protozoário causador da doença) no sangue.

"Muita coisa me atraía no Brasil, mas principalmente o trabalho na Fiocruz era muito interessante. Eu tinha contato direto com a doença e um certo envolvimento com os médicos, o que é interessante para alguém envolvido com pesquisa básica", disse. "Voltei pensando em mexer com doenças parasitárias, mas o que pintou para mim foi trabalhar no centro de sequenciamento."

Apesar da paixão pelo país, não perdeu o jeito francês. "Ele é um cara super sereno, que tinha um ótimo relacionamento com todo mundo, mas que não ia tomar cerveja com a moçada no final do expediente", lembra André Santoro, 26, que trabalhou como técnico no laboratório de Winker.

Gerente industrial
O geneticista francês se juntou ao Projeto Genoma Humano em 1997, convidado pelo diretor do Genoscope, Jean Wesseimbach -que fez o primeiro mapa genético humano, nos anos 90.

Sobre a sua parte do trabalho na pesquisa que mudou para sempre a cara da biologia, Winker fala sem emoção, comparando-a à função de um gerente de fábrica.

"O que você tem é uma forma de organização baseada na qualidade e na produtividade, aplicada ao processo de sequenciamento, com poucos pesquisadores e muitos robôs", disse, para decepção de quem achava que houvesse algo de heróico em desvendar os segredos do código da vida.
"Você deve ver o trabalho como uma sucessão de grupos especializados em um tipo de reação bioquímica, que tem como resultado a sequência, em escala industrial."

Winker afirma que o trabalho do genoma, em si, "não traz nenhuma grande novidade científica". Mas, segundo ele, a publicação marca o fim de uma era na biologia e o começo de uma outra, onde os dados do genoma serão usados para o estudo da expressão das proteínas -o proteoma. "Vamos trabalhar o ser humano como um organismo modelo."

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