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12/02/2001 - 08h09

Fapesp quer dez genomas em 2001

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Pelo menos dez novos genomas devem ter seu sequenciamento iniciado em 2001 no que depender da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A informação vem do diretor científico da instituição, José Fernando Perez.

Segundo ele, os novos organismos a serem sequenciados ainda não estão definidos, mas devem incluir um fungo responsável pela doença vassoura-de-bruxa no cacau (Crinipellis perniciosa) e uma "bactéria muito importante para a saúde pública brasileira", que ele não quis revelar.

Para Perez, a expansão dos programas genômicos brasileiros é apenas uma consequência da crescente evolução do país nessa área de pesquisa. "Quando se chega a uma estrada de alta velocidade, se quiser continuar no jogo, você não tem opção a não ser acelerar", compara.

A entrada nessa autopista aconteceu em janeiro de 2000, quando o Brasil entrou para o seleto grupo de países que chegaram a concluir a decifração do genoma de um organismo, ao sequenciar todas as letras que compõem as informações genéticas da Xylella fastidiosa, bactéria responsável pela doença do amarelinho, que assola as plantações de laranja.

O trabalho, realizado por 35 laboratórios e financiado pela Fapesp, levou os pesquisadores brasileiros para a capa da revista "Nature", em julho do ano passado, e abriu portas para novos estudos com Xylella -desta vez para analisar a variedade da bactéria que ataca vinhas na Califórnia.

Metade do financiamento da nova pesquisa veio dos EUA. O trabalho só veio para o Brasil após uma disputa com o JGI (Joint Genome Institute), renomada instituição de sequenciamento.

Assumindo a ponta
Foi uma das grandes vitórias brasileiras, segundo Perez. "O JGI tinha se oferecido para fazer muito mais rápido e de graça, mas, mesmo assim, acabamos ficando com o trabalho", conta.

E a investida brasileira na área não ficou na Xylella. Em janeiro deste ano, a Fapesp anunciou a conclusão de seu segundo genoma: o da bactéria Xanthomonas citri, responsável pela doença do câncro cítrico, que ataca 25% das plantas cítricas de São Paulo.

A bactéria teve seu código genético -5,2 milhões de letras, o dobro do da Xylella- sequenciado por apenas 14 laboratórios e em menor intervalo de tempo, demonstrando o progresso técnico obtido com o primeiro projeto.

Mas nem só de bactérias vivem os projetos da Fapesp. O projeto Genoma da Cana-de-Açúcar chegou aos 50 mil genes sequenciados em dezembro do ano passado. O estudo já está em uma fase que os pesquisadores estão chamando de "genoma aplicado", em que os cientistas estão procurando genes específicos para solucionar os principais problemas que assolam as plantações.

A abordagem do projeto é diferente da usada para as bactérias. Neste caso, a Rede Onsa (grupo de 65 laboratórios credenciados pela Fapesp) sequenciou apenas as letras que fazem parte de genes, em vez de sequenciar o genoma completo, como foi feito com a Xylella e a Xanthomonas.

Assim também é o Projeto Genoma Humano do Câncer, uma parceria entre a Fapesp e o Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer. Como o da cana, este projeto só trabalha com o sequenciamento de RNA (ácido ribonucléico, molécula que transmite os genes que efetivamente estão ativados na célula).

Até o final do ano passado, mais de 1 milhão de sequências genéticas já haviam sido depositadas em bancos de dados internacionais, fazendo do Brasil o segundo maior depositante de sequências humanas no mundo.

Genoma humano
"Esse projeto adquire uma importância ainda maior com a publicação do genoma humano", afirma Perez. "Embora nós não façamos parte do grupo que sequenciou o genoma, muitas das sequências deles foram obtidas a partir de nosso projeto."

E o estudo do genoma do câncer pelos grupos brasileiros deve tomar uma direção pioneira num futuro próximo. É o Genoma Clínico do Câncer, uma extensão do projeto que pretende ir "da bancada ao consultório".
A proposta, ainda experimental, é de unir a medicina e a genômica, fazendo o acompanhamento de casos clínicos usando a perspectiva da genética. "Pretendemos unir as duas pontas", diz.

Projeto federal
Indo na cola dos projetos genoma iniciados pela Fapesp, o Ministério da Ciência e Tecnologia anunciou em dezembro o Projeto Genoma Brasileiro, que irá sequenciar as bases genéticas da Chromobacterium violaceum, uma bactéria que processa minério de ouro, vive no rio Negro e poderia ser eficaz no tratamento de endemias, como a doença de Chagas e a leishmaniose.

O projeto está sendo coordenado por Andrew Simpson, pesquisador do Instituto Ludwig que coordenou o sequenciamento da Xylella. A verba, de R$ 8 milhões, é do Ministério da Ciência e Tecnologia e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

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