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13/02/2001 - 02h32

Opinião - O genoma do futuro

DRAUZIO VARELLA
colunista da Folha

Para achar a cura do câncer é mais fácil sequenciar o genoma inteiro. Essa frase do professor italiano Renato Dulbecco, um dos mais respeitados oncologistas do século, foi talvez o argumento definitivo para o início do Projeto Genoma, em outubro de 1990.

Quando o Projeto foi lançado, estimava-se que custaria US$ 3 bilhões e chegaria ao final em outubro de 2005. O custo e a duração de 15 anos eram teóricos, no entanto; os organizadores contavam com o desenvolvimento de técnicas automatizadas de sequenciamento que ainda não estavam disponíveis na época. Caso essa tecnologia não fosse criada, os custos seriam mais altos, e a duração, mais longa, conforme contrapunham os críticos.

Numa demonstração inequívoca de que a criatividade científica não costuma decepcionar os que nela investem, chegamos ao final do projeto muito antes e com gastos bem menores.

O conhecimento da ordem segundo a qual os genes humanos estão alinhados nos 23 pares de cromossomos constitui uma quantidade de informação gigantesca. Levará séculos para ser decifrada em sua plenitude -se é que um dia o será.

A partir de hoje, e por várias gerações, biólogos e cientistas da computação estarão ocupados em encontrar o significado bioquímico de todos os genes que fazem de nós o que somos.

Para dar idéia do trabalho que nos espera, basta lembrar que, até a publicação dos dados atuais, e estimando em 30 mil o número de genes do corpo humano, as previsões eram de que se encontraria algo entre 50 mil e 150 mil. Isto é, alguns cientistas admitiam números três vezes maiores que outros.

E a quantidade de genes não é o mais importante, a função de cada um é o que realmente interessa. Por meio desta é que vamos entender como o genoma interage com o ambiente para dar origem a um indivíduo diferente de qualquer outro, identificar pessoas predispostas a determinadas doenças, corrigir eventos genéticos que levam ao câncer, ao diabetes, a ataques cardíacos, ao reumatismo ou às degenerações neuropsiquiátricas da velhice.

Vamos decifrar os mecanismos de envelhecimento, obesidade, tendência a comportamento violento, e vamos interferir no desenvolvimento intelectual.

No momento do parto, as crianças terão seus genes sequenciados a partir de células do cordão umbilical. A informação será encaminhada para centrais como o Gene Data Bank, de Los Alamos, que arquivarão o patrimônio genético da humanidade.

Conheceremos então a biodiversidade humana, e nascerá a verdadeira medicina preventiva, modelada individualmente, de acordo com as suscetibilidades de cada um. Surgirá a farmacogenômica, para indicar com precisão o remédio adequado ao funcionamento de cada organismo doente.

Além disso, estaremos mais perto de entender por que certos genes humanos são quase iguais aos das bactérias ou fungos. Ou por que os chimpanzés, que compartilham 98% de identidade genética conosco, não conseguem passar um fio de linha pelo buraco da agulha, compor sinfonias ou viajar pelo espaço sideral.
 

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