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19/02/2001 - 09h12

Célula-tronco pode ser usada para combater mal de Parkinson

ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
enviada da Folha a San Francisco

A cura para o mal de Parkinson, que afeta 4 milhões de pessoas no mundo, ainda está longe. Mas pesquisadores estão apostando suas fichas em tratamentos com células-tronco, que têm apresentado resultados promissores.

Doença neurodegenerativa (que causa a morte de certas células do cérebro), lentamente progressiva e incurável, o mal de Parkinson tem como principal sintoma a perda do controle sobre os movimentos, inclusive a fala. Leva à morte neurônios produtores de dopamina, substância envolvida no controle de movimentos automáticos e involuntários do corpo.

Por afetar principalmente idosos (apenas 3% dos portadores têm menos de 50 anos), com o envelhecimento progressivo da população mundial a preocupação com o distúrbio cada vez mais se torna questão de saúde pública.

Até o momento, não existe tratamento eficaz. No encontro anual da AAAS (Sociedade Americana para o Progresso da Ciência, na sigla em inglês), dois grupos diferentes, um da Escola de Medicina da Universidade Harvard e outro dos NIH (sigla em inglês para Institutos Nacionais de Saúde), testaram com sucesso transplantes de células-tronco em ratos e camundongos com a doença induzida artificialmente.

Células-tronco estão em um estágio indiferenciado de desenvolvimento, podendo se transformar em vários outros tipos de célula e conseguindo se multiplicar -capacidade que células como neurônios não têm. São difíceis de obter, podendo vir de embriões ou do cordão umbilical de recém-nascidos, por exemplo, e seu uso em pesquisas levanta uma série de discussões éticas.

Metamorfose

Usando abordagens diferentes (o grupo dos NIH cultivou células-tronco in vitro, isto é, diferenciadas em laboratório e depois inseridas no animal receptor, enquanto o de Harvard usou células-tronco fetais in vivo, ou seja, que se diferenciaram depois de implantadas no corpo), ambos os laboratórios transformaram essas células em neurônios produtores de dopamina, substituindo aqueles mortos em razão da doença.

"Mostramos que os implantes de células fetais de neurônios dopaminérgicos funcionam. Os resultados são altamente encorajadores", afirmou Ron McKay, do Laboratório de Biologia Molecular dos NIH. "Mas temos um longo caminho pela frente."

Os pesquisadores não entraram em grandes detalhes sobre os resultados, afirmando que ainda esperam a publicação dos trabalhos. Em ambos os experimentos, as células-tronco se diferenciaram em células neuronais e se multiplicaram com sucesso.

"O desafio agora é obtê-las com mais facilidade, pois são muito frágeis, e conseguir com que trabalhem de uma maneira homogênea", afirmou à Folha Ole Isacson, líder do grupo de Harvard.

A equipe de Isacson já havia tentado, com algum sucesso, implantar células-tronco de porcos em um pequeno grupo de humanos. Um dos pacientes, que morreu sete meses depois do implante -de ataque cardíaco-, sofreu autópsia, que mostrou que as células haviam sobrevivido e se reproduzido. Três dos pacientes apresentaram melhora de 50%.

Passado algum tempo, notou-se que as células implantadas produziam uma reação imunológica do corpo, fazendo cessar o efeito da intervenção. Agora, afirmou Isacson, o desafio é desenvolver porcos transgênicos sem a substância agressora.

Outros tratamentos

O problema do mal de Parkinson é que, além de não ter cura, os tratamentos para o controle de seus sintomas são pouco eficazes e têm fortes efeitos colaterais.

A principal forma de terapia usa a levodopamina, descoberta nos anos 60, que age como substituto da dopamina. Ela controla sintomas da doença, mas provoca fortes efeitos colaterais, como alucinações, psicose e alteração do equilíbrio. Com o tempo, seu efeito diminui e ela não impede a progressão da moléstia.

Um novo tratamento em fase de testes é a implantação de eletrodos no cérebro. A vantagem seria que, se causarem efeitos colaterais, os eletrodos podem ser desativados imediatamente. O problema é que, como a técnica é nova, esses efeitos ainda são desconhecidos. Os resultados também mostraram que o tratamento é mais eficaz em pacientes mais jovens, que são minoria.
 

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