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21/02/2001 - 02h32

Sexo demais afeta seleção natural entre carneiros selvagens

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

O estudo em uma população de carneiros selvagens demonstrou que o esperma não é tão "barato" para os machos como se pensava, a ponto de eles poderem inseminar as fêmeas à vontade.

Os carneiros com chifres maiores têm mais filhotes que os menos dotados desse armamento, mas, no esforço de fazerem sexo com muitas fêmeas, eles acabam dando uma chance inesperada aos competidores mais fracos.

No final da estação de reprodução, seu esperma contém bem menos espermatozóides, fazendo com que os machos de menor qualidade também consigam ter filhotes. "Eles se tornam vítimas do seu próprio sucesso", disse à Folha o pesquisador Brian Preston, da Universidade de Stirling, um dos quatro autores do estudo, relatado na revista "Nature".

O estudo foi feito com uma espécie de carneiro das ilhas escocesas de Saint Kilda. Os carneiros Soay são uma espécie domesticada desde a Idade do Bronze. Uma população selvagem existe há um milênio nesse arquipélago.

A espécie é altamente promíscua. Os cientistas já observaram uma fêmea copular com sete machos durante o período fértil de dois dias. Viram machos copulando até 13 vezes por dia. Um dos resultados dessa promiscuidade é que 74% dos filhotes gêmeos tiveram pais diferentes.

Carneiros com corpo e chifres maiores têm vantagens no acesso às fêmeas, disputadas violentamente a cabeçadas. Exames de esqueletos mostraram que 60% dos machos tinham fraturas nas vértebras cervicais.

"Chifres grandes dão vantagem aos machos na competição do esperma. Machos maiores têm acesso mais frequente e por mais tempo às fêmeas e inseminam mais esperma", diz Preston.

Ele compara a reprodução a uma loteria, com o esperma no lugar dos bilhetes. "Quanto mais bilhetes comprados -no caso, esperma inseminado-, maior a chance de vencer a loteria da paternidade", afirma o pesquisador.

Os carneiros da espécie têm testículos relativamente grandes para fazer frente a essa necessidade de esperma. Mas o tamanho dos testículos não acompanha a frequência da cópula, não sendo suficiente para produzir todo o esperma que seria necessário.

Sêmen coletado nas duas últimas semanas da estação de acasalamento de 1999 entre os machos maiores, ou "dominantes", indicou que, apesar dos testículos maiores, eles ejaculavam cerca de mil vezes menos esperma que os carneiros menores.

"Em termos de evolução, a diminuição do esperma pode agir para reduzir a intensidade da seleção sexual que favorece chifres e corpos maiores, já que os machos menores também conseguem paternidades por meio da competição do esperma, em vez de diretamente através de interações agressivas", declara Preston.

"Mas, no final das contas, tamanho continua sendo documento", conclui o pesquisador.
 

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