Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/02/2001 - 21h37

Cometa abriu caminho para hegemonia dos dinossauros

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Todo mundo conhece a triste história do asteróide que matou os dinossauros há 65 milhões de anos. O que ninguém sabia era a história de outro titã, que permitiu que os animais gigantes tomassem conta da Terra.

Agora, um grupo de cientistas de diversas instituições americanas, como a Universidade de Washington, a Universidade de Rochester e a Nasa (agência espacial dos EUA), mostrou que os dinossauros não podiam queixar-se de perseguição. Afinal, foi o mesmo tipo de evento que permitiu que passassem a dominar o planeta, 185 milhões de anos antes.

A equipe conseguiu provas de que a extinção maciça que aconteceu na Terra há 250 milhões de anos, eliminando 90% das criaturas marinhas, 70% das espécies vertebradas terrestres e quase todas as formas vegetais, também foi causada pelo impacto de um corpo celeste. Só depois desse cataclismo os dinossauros deram o ar da graça sobre a Terra.

Impressões digitais

Os cientistas encontraram as provas do impacto em rochas sedimentares de três diferentes regiões do globo: no Japão, na China e na Hungria.

Nessas rochas, de 250 milhões de anos, foram achadas moléculas orgânicas complexas conhecidas como "buckyballs", estruturas fechadas de carbono que mais parecem uma bola de futebol. Elas guardavam em seu interior certos gases nobres, precisamente hélio e argônio.

As proporções entre vários tipos (isótopos) do mesmo elemento não eram compatíveis com as existentes em rochas de períodos anteriores ou posteriores. Mais do que isso, eram muito mais parecidas com as encontradas em condritos (material muito comum em asteróides) do que com as proporções terrestres.

"Essa é a primeira vez que indicações claras de material extraterrestre são encontradas na fronteira entre o Permiano e o Triássico (transição ocorrida há 250 milhões de anos)", contou à Folha Michael Rampino, um dos autores da nova pesquisa.

O uso das "buckyballs" (que ganharam esse nome por seu formato de esfera geodésica, uma criação do arquiteto Richard Buckminster Fuller) como "guardadoras" naturais de informação já ajudou pesquisas com outro impacto de asteróide _o famoso, que matou os dinossauros.

"Pesquisas com gases presos em terrenos de 65 milhões de anos mostram um padrão de proporções de isótopos bem similar ao que encontramos", diz Rampino.

Essas moléculas são normalmente encontradas em asteróides e talvez ocorram em cometas. Seu conteúdo revela sua origem, dando aos pesquisadores pistas para saber se as "buckyballs" estudadas eram da Terra ou provenientes de um outro corpo celeste.

Comparando as pancadas

Embora a extinção de 250 milhões de anos atrás tenha sido ainda mais violenta que a dos dinossauros, acredita-se que o asteróide ou cometa tivesse as mesmas proporções nos dois casos, em torno de 10 km de diâmetro.

Andrew Hunt, um dos cientistas envolvidos no estudo, aposta em uma diferença. Enquanto o impacto dos dinossauros teria sido de um asteróide, o anterior teria sido por outra classe de objetos. "A falta de irídio nos sedimentos pode ser um indicativo de um impacto cometário", diz.

Dificilmente os cientistas conseguirão encontrar a cratera provocada pelo choque, como fizeram com aquela aberta pelo "carrasco" dos dinossauros. A configuração dos continentes mudou muito daquela época para cá.

De um jeito ou de outro, o choque teria desencadeado uma longa série de erupções vulcânicas, que também contribuiriam para a destruição em escala planetária.

"Não sabemos de todas as consequências ambientais, mas, com o impacto e com a atividade vulcânica, sabemos que a Terra não era um lugar feliz. Talvez os efeitos combinados do impacto e do vulcanismo fossem necessários para causar uma extinção violenta como aquela", disse Robert Poreda, outro dos autores, em nota.

O trabalho foi apresentado ontem numa entrevista coletiva no quartel-general da Nasa, em Washington. O estudo sai na edição desta semana da revista "Science" (www.sciencemag.org).

Próximos passos

Hunt acredita que a técnica utilizada para constatar o impacto do final do Permiano, há 250 milhões de anos, possa ajudar a explicar outras extinções.

"Esperamos poder resolver muitos problemas ligados às grandes extinções, como a do fim do Devoniano e a do Triássico/ Jurássico, que ocorreram ao longo do Fanerozóico (época que começou há 540 milhões de anos e ainda não terminou)", afirmou.

Já Rampino dá mais detalhes sobre os planos imediatos da equipe, que deve detalhar a constatação realizada pelo estudo atual _um trabalho feito durante dois anos, mas que é fruto de pesquisas anteriores do grupo com "buckyballs", iniciadas em 1994.

"Pretendemos procurar moléculas semelhantes em outras localidades, como por exemplo a África do Sul, onde elas estariam preservadas em uma camada de rochas com grande quantidade de animais que sofreram dramática extinção", diz o pesquisador.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página