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25/02/2001
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04h01
Com a destruição da Mir, a Rússia abandona o último grande símbolo do outrora glorioso programa espacial soviético. E as perspectivas apontam para um futuro não muito animador. Os temores chegam a abalar até o presidente russo, Vladimir Putin.
"Seria imperdoável dissipar tudo que foi conquistado pelas gerações anteriores. Infelizmente, essa é a direção exata em que estamos nos movendo", afirmou, em janeiro, ecoando preocupações de cientistas russos. A razão para o medo é uma só: dinheiro.
A falta de verbas para manter dois projetos simultâneos -a Mir e a Estação Espacial Internacional- estava causando atrasos no novo projeto, para revolta da Nasa (agência espacial dos EUA), que constantemente pressionava a Rússia para que abandonasse a velha estação em favor da ISS.
Além disso, a permanência da Mir em operação não mais servia a interesses científicos. "Os cosmonautas que iam para a Mir não tinham mais tempo para realizar experimentos. Todas as missões eram totalmente dedicadas a reparos", disse à Folha Alexander Sukhanov, pesquisador da Academia de Ciências da Rússia que participou da elaboração de diversos experimentos conduzidos a bordo da estação russa.
Para ele, a Rússia não só voltará a ter a chance de realizar experimentos no espaço, a bordo da ISS, como também poderá entrar em uma nova era -a da cooperação, ainda que por falta de alternativa.
"Agora, uma estação como a Mir ou a ISS seria muito cara para um único país. A competição no espaço deve ser substituída pela cooperação", disse Sukhanov. "Nesse aspecto, a ISS é uma boa decisão para a Rússia."
Nem todos pensam assim. Anatoly Artsebarsky, um cosmonauta que esteve na Mir em 1991, participou recentemente de um programa de televisão na Rússia e questionou justamente a decisão de abandonar a estação.
"Com a destruição da Mir, toda a atividade russa será reduzida a fornecer aos americanos os materiais necessários, conduzindo vôos de naves Progress ou Soyuz à ISS", afirmou o cosmonauta.
Embora não defenda a manutenção da Mir no espaço, Sukhanov admite que pouco restará do programa espacial russo além de vôos para a nova estação. "Existem outros projetos. Eu mesmo já projetei sondas para ir a todo lugar. Há, por exemplo, projetos de sondas para Marte -até com recolhimento de amostras de solo-, mas elas provavelmente não vão se realizar, porque são muito ambiciosas. A Rússia não tem como bancá-las", disse.
Para ele, é tempo de pensar pequeno. "O jeito para a Rússia agora não é olhar para projetos ambiciosos, como missões a Marte ou missões tripuladas à Lua. Os russos deveriam procurar novas idéias, para resolver problemas interessantes, a baixo custo."
Nem parece o país que lançou o primeiro satélite, em 1957, e realizou o primeiro vôo espacial tripulado, quatro anos depois.
Aliás, nem é. Há duas semanas, o ministro da Indústria, Ciência e
Tecnologia russo, Alexandr Dondukov, relatou que o investimento em pesquisas é hoje um sexto do que era quando a União Soviética foi extinta, há dez anos.
(SN)
Falta de dinheiro lança programa espacial num futuro de incertezas
da Folha de S.PauloCom a destruição da Mir, a Rússia abandona o último grande símbolo do outrora glorioso programa espacial soviético. E as perspectivas apontam para um futuro não muito animador. Os temores chegam a abalar até o presidente russo, Vladimir Putin.
"Seria imperdoável dissipar tudo que foi conquistado pelas gerações anteriores. Infelizmente, essa é a direção exata em que estamos nos movendo", afirmou, em janeiro, ecoando preocupações de cientistas russos. A razão para o medo é uma só: dinheiro.
A falta de verbas para manter dois projetos simultâneos -a Mir e a Estação Espacial Internacional- estava causando atrasos no novo projeto, para revolta da Nasa (agência espacial dos EUA), que constantemente pressionava a Rússia para que abandonasse a velha estação em favor da ISS.
Além disso, a permanência da Mir em operação não mais servia a interesses científicos. "Os cosmonautas que iam para a Mir não tinham mais tempo para realizar experimentos. Todas as missões eram totalmente dedicadas a reparos", disse à Folha Alexander Sukhanov, pesquisador da Academia de Ciências da Rússia que participou da elaboração de diversos experimentos conduzidos a bordo da estação russa.
Para ele, a Rússia não só voltará a ter a chance de realizar experimentos no espaço, a bordo da ISS, como também poderá entrar em uma nova era -a da cooperação, ainda que por falta de alternativa.
"Agora, uma estação como a Mir ou a ISS seria muito cara para um único país. A competição no espaço deve ser substituída pela cooperação", disse Sukhanov. "Nesse aspecto, a ISS é uma boa decisão para a Rússia."
Nem todos pensam assim. Anatoly Artsebarsky, um cosmonauta que esteve na Mir em 1991, participou recentemente de um programa de televisão na Rússia e questionou justamente a decisão de abandonar a estação.
"Com a destruição da Mir, toda a atividade russa será reduzida a fornecer aos americanos os materiais necessários, conduzindo vôos de naves Progress ou Soyuz à ISS", afirmou o cosmonauta.
Embora não defenda a manutenção da Mir no espaço, Sukhanov admite que pouco restará do programa espacial russo além de vôos para a nova estação. "Existem outros projetos. Eu mesmo já projetei sondas para ir a todo lugar. Há, por exemplo, projetos de sondas para Marte -até com recolhimento de amostras de solo-, mas elas provavelmente não vão se realizar, porque são muito ambiciosas. A Rússia não tem como bancá-las", disse.
Para ele, é tempo de pensar pequeno. "O jeito para a Rússia agora não é olhar para projetos ambiciosos, como missões a Marte ou missões tripuladas à Lua. Os russos deveriam procurar novas idéias, para resolver problemas interessantes, a baixo custo."
Nem parece o país que lançou o primeiro satélite, em 1957, e realizou o primeiro vôo espacial tripulado, quatro anos depois.
Aliás, nem é. Há duas semanas, o ministro da Indústria, Ciência e
Tecnologia russo, Alexandr Dondukov, relatou que o investimento em pesquisas é hoje um sexto do que era quando a União Soviética foi extinta, há dez anos.
(SN)
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