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12/03/2001 - 08h16

Extinção dos dinossauros foi rápida, diz estudo

CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

A catástrofe natural mais ilustre da história da vida na Terra foi também a mais rápida. Pesquisadores dos EUA e da Itália afirmam que o cataclismo que atingiu o planeta há 65 milhões de anos levou apenas dez milênios para extinguir os dinossauros. Um piscar de olhos, geologicamente falando.

A hecatombe marcou o final do período geológico conhecido como Cretáceo, iniciado 144 milhões de anos atrás. Cerca de 70% de todas as formas de vida, incluindo os répteis gigantes, foram eliminadas do planeta.

Sua causa foi durante décadas o maior mistério da paleontologia. O quebra-cabeças havia sido parcialmente resolvido em 1980, quando os físicos Luís e Walter Alvarez propuseram que a megaextinção tivesse sido provocada pela colisão de um asteróide com a Terra. Além da tragédia imediata, a pancada teria mudado tanto o clima no planeta que só seres vivos pequenos e oportunistas, como os mamíferos (que comiam as carcaças dos dinossauros) conseguiram sobreviver.

Apesar de a teoria do impacto ser aceita pela maioria dos pesquisadores, seus detalhes ainda suscitam pedradas na academia.

Não se sabe, por exemplo, se o pedregulho assassino foi um asteróide, um cometa ou um membro de uma chuva de cometas. Também se discute o intervalo de tempo em que a tragédia aconteceu -uma extinção dessa magnitude deveria levar centenas de milhares de anos. Finalmente, especula-se que a matança foi tão grande que não poderia ter sido causada só por um meteorito. O bólido, propunham alguns, desencadeou uma série de erupções vulcânicas que acabaram consumando a catástrofe ambiental.

O estudo da equipe ítalo-americana, publicado na última edição da revista "Science" (www. sciencemag.org), começa a responder essas perguntas. Datando sedimentos em lagos da Itália e da Tunísia, os pesquisadores descobriram que a extinção do Cretáceo foi causada por um único objeto, que agiu de forma rápida e devastadora. E sem comparsas.



Pista extraterrestre

Datar o intervalo em que a megaextinção aconteceu sempre foi um problema para os geólogos. Tudo o que sobrou de testemunha daquele período turbulento foi uma camada de argila de uns poucos centímetros de espessura entre as rochas do Cretáceo e as do período seguinte, o Terciário.

"As técnicas tradicionais não têm resolução suficiente para intervalos pequenos", disse à Folha o geólogo indiano Sujoy Mukhopadhyay, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), nos EUA, principal autor do trabalho.

Para descobrir esse intervalo, Mukhopadhyay, ainda estudante de pós-graduação, apelou para um método "não-tradicional": eles resolveram medir as concentrações de um tipo raro de átomo de hélio, o He3, nos sedimentos.

Esse tipo de hélio é raro na Terra, mas abundante no espaço. Cerca de 86% dele vem de pequenas partículas de poeira cósmica que caem sobre o planeta.

Corpos maiores, como asteróides, também têm grandes concentrações de He3. Só que, ao entrar na atmosfera, eles acabam pegando fogo e o hélio se dissipa.

Os cientistas raciocinaram que, se o fim dos dinossauros tivesse sido provocado por uma chuva de pequenos cometas, a quantidade de poeira cósmica -e do hélio extraterrestre- nos sedimentos aumentaria. Se o carrasco tivesse sido um corpo maior, ela permaneceria mais ou menos constante.

A medição das quantidades de He3 na argila da transição Cretáceo-Terciário nos dois pontos pesquisados mostrou que a taxa de deposição do elemento não mudou durante a tragédia. A chuva de cometas estava descartada.

Conhecendo o ritmo normal de acumulação do hélio espacial no planeta, os geólogos conseguiram calcular em 10 mil anos o tempo de duração do cataclismo.

Com a data em mãos, a hipótese de erupções vulcânicas agravando a extinção também foi descartada. "O vulcanismo não teve um papel importante, porque durou 500 mil anos. Tudo indica que o principal responsável foi o impacto", disse Mukhopadhyay.

Segundo Kenneth Farley, co-autor do estudo, o mais impressionante é que 10 mil anos foram o tempo necessário para que a extinção acontecesse e a fauna se recuperasse. "Isso mostra que o ecossistema é frágil, mas que a vida pode recomeçar rápido."
 

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