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22/03/2001 - 02h34

Amazônia absorve gás carbônico, diz estudo

MARCELO LEITE
editor de ciência da Folha

As revistas científicas internacionais de primeira linha continuam de olho na Amazônia. Agora é um artigo apontando a enorme capacidade de absorção de gases do efeito estufa pela floresta que encontra guarida na revista "Nature" (www.nature.com).

Trata-se de uma boa notícia: a floresta amazônica, a maior do mundo tropical, continuará contribuindo para atenuar o efeito estufa por pelo menos um século.

Em janeiro, a revista britânica e sua concorrente norte-americana "Science" (www.sciencemag.org) haviam publicado artigos com previsões catastróficas de desmatamento na região, em consequência de obras de infra-estrutura -como estradas- previstas no plano Avança Brasil, do governo federal brasileiro.

Desta vez, não será possível alegar que os autores não são brasileiros nem contam com o aval do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), de Manaus, como tentou fazer o Ministério da Ciência e Tecnologia com o norte-americano William Laurance. Niro Higuchi, um dos quatro pesquisadores que assinam o artigo "Sumidouro de carbono por um século", também é do Inpa.

Higuchi colaborou com pesquisadores da Califórnia (Jeffrey Chambers, Edgard Tribuzy e Susan Trumbore) para construir um modelo de computador capaz de simular a absorção de gás carbônico (CO2) pela floresta.

Ao crescer, as árvores funcionam como uma esponja de proporções continentais (4 milhões de quilômetros quadrados só no Brasil, metade do território nacional). Sugam parte do CO2 lançado na atmosfera pela homem, com a queima de combustíveis fósseis. Usado pelas plantas como matéria-prima da fotossíntese, o CO2 é fixado na forma de biomassa (principalmente madeira).

O CO2 que não é absorvido permanece na atmosfera e funciona como os painéis de vidro de uma casa de vegetação. Deixa passar a energia solar em direção ao solo, mas impede sua reflexão de volta ao espaço. O calor aprisionado esquenta a atmosfera, fenômeno conhecido como efeito estufa.

Desenvolvimento limpo

Há muita discussão sobre o papel das florestas tropicais nessa dinâmica planetária. Intactas, ajudam a combater o efeito estufa. Derrubadas e queimadas, liberam ainda mais gás carbônico na atmosfera, contribuindo para agravar o aquecimento global.

Com base nisso, alguns ambientalistas e pesquisadores defendem que países como o Brasil sejam remunerados para diminuir o desmatamento, com base no chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Ele faz parte do Protocolo de Kyoto, tratado internacional que prevê reduções na emissão de CO2 por países ricos, mas ainda não entrou em vigor. O governo brasileiro é contra.

O artigo "pode ser lido como argumento para conservar as florestas tropicais, independentemente do MDL", disse Higuchi, por e-mail, à Folha. "O Brasil poderia usar o MDL para diminuir (ou até zerar) o desmatamento."

Pelos cálculos de Higuchi e colegas, se cada tonelada de carbono absorvida pela floresta valer US$ 10, a floresta amazônica poderia gerar um rendimento de até US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões por ano.

É bom a Amazônia também começar a ficar de olho nas revistas científicas internacionais.
 

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