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28/03/2001 - 23h36

EUA abandonam acordo internacional para redução do efeito estufa

da Folha de S.Paulo

Os EUA não irão implementar o Protocolo de Kyoto, tratado internacional formulado em 1997 com o objetivo de conter o aquecimento global. A decisão, anunciada hoje à tarde por um porta-voz da Casa Branca, é o maior retrocesso até agora nas negociações em torno das mudanças climáticas. E deixa o presidente George W. Bush numa posição delicada ante o resto do mundo.

"O presidente foi inequívoco. Ele não apóia o tratado de Kyoto", afirmou o porta-voz Ari Fleischer. A Casa Branca teria pedido ao Departamento de Estado recomendações sobre como poderia retirar sua assinatura do tratado.

Segundo Bush, o protocolo contraria os interesses econômicos norte-americanos ao exigir uma redução das emissões de gases-estufa como o dióxido de carbono, resultado da queima de combustíveis fósseis.

O corte exigiria uma custosa e rápida remodelação do modelo industrial americano, movido a carvão mineral e petróleo. Os EUA temem perder competitividade industrial caso se engajem nas metas do acordo.

Fleischer afirmou, sob gritos de protesto de ambientalistas, que Bush iria procurar uma alternativa ao protocolo que "incluísse o mundo todo".

Mas a maioria dos observadores internacionais não acredita que o presidente —um texano que, de resto, teve sua campanha financiada pelas multinacionais do petróleo— vá se esforçar para reduzir as emissões do país, que, sozinho, responde por um quarto das 6 bilhões de toneladas de gás carbônico que a humanidade lança anualmente na atmosfera.

Em meados deste mês, Bush já deu sinais de que não merecia crédito nesse assunto. Contrariando uma promessa de campanha, afirmou que não regulamentaria as emissões das centrais elétricas dos EUA, o que rendeu protestos de vários países europeus e até uma carta do chanceler alemão, Gerhard Schroeder.

Assinatura de peso

Firmado em 1997 no Japão, o Protocolo de Kyoto era considerado uma vitória da cooperação internacional. Pelo acordo, os países industrializados se comprometiam a trazer suas emissões de dióxido de carbono (CO2) a um nível 5,2% menor que o de 1990 entre 2008 e 2012.

O CO2 é o principal culpado pelo efeito estufa, a retenção do calor solar na atmosfera por uma espécie de "cobertor" de gases, como numa estufa de plantas.

O fenômeno acontece naturalmente e é essencial para a vida. Ele vira um problema quando a emissão dos chamados gases-estufa pelo homem aumenta. A retenção de calor cresce junto, e o termômetro sobe além do normal. O efeito mais imediato desse aquecimento é a elevação do nível do mar, provocando inundações. Os cientistas também prevêem, a médio e longo prazo, extinções em massa de espécies e a expansão de doenças tropicais para regiões de latitude mais alta.

No início deste ano, um painel de cientistas ligado à ONU confirmou definitivamente que o aquecimento é real, é provocado pelo homem e está acontecendo muito mais rápido do que se pensava. O planeta deverá terminar o século 21 até 6°C mais quente.

O Protocolo de Kyoto, único mecanismo já desenvolvido para conter a catástrofe global, precisaria de ratificações por parte de 55 países industrializados. Segundo Fleischer, só a Romênia o fez.

O ex-presidente Bill Clinton havia assinado o tratado em 98, mas o Congresso americano nunca chegou a ratificá-lo. Com a retirada do maior poluidor do planeta, o protocolo perde força.

Indisposição mundial

Segundo o presidente do Fórum Brasileiro sobre Mudança Climática, Fábio Feldman, a decisão de Bush é "difícil de entender do ponto de vista internacional, porque polariza o mundo contra os Estados Unidos".

A primeira indisposição vem de dentro de casa. Esta semana a administradora da EPA (Agência de Proteção Ambiental), Christie Todd Whitman, havia mandado um memorando ao presidente pedindo que ele reconhecesse o aquecimento global como um assunto sério, sob pena de prejuízos domésticos e internacionais.

A comissária do Meio Ambiente da União Européia, Margot Wallstrom, declarou que "é muito preocupante se as intenções dos EUA de se retirarem do tratado forem verdadeiras".

Para Feldman, o movimento pode ser uma manobra de Bush para ganhar maior poder de barganha na próxima reunião internacional para impulsionar a ratificação do tratado, prevista para acontecer em julho na Alemanha. "É um jogo de chantagem. É meio forte dizer isso, mas é chantagem", disse Feldman à Folha.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, principal negociador brasileiro no protocolo, não quis se pronunciar sobre a decisão americana.

O presidente Fernando Henrique Cardoso, que viaja amanhã para os EUA, deve tratar do assunto com George W. Bush.

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