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30/07/2007 - 08h51

Expedição russa ao Pólo Norte tem pretensões científicas e geopolíticas

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da Efe, em Moscou

Uma expedição russa iniciou mergulhos no mar próximo ao Pólo Norte, em uma missão que busca legitimar as pretensões da Rússia de ampliar suas águas territoriais e explorar os recursos minerais do Ártico. As atividades foram iniciadas no domingo (29).

Os cientistas trabalham no submarino-laboratório Acadêmico Fiódorov, seguindo um navio quebra-gelo movido a energia nuclear, o Rossia.

O submarino leva a bordo os batiscafos (minisubmarinos) Mir-1 e Mir-2, que mergulharão até 4.300 metros de profundidade no Pólo Norte.

São os mesmos batiscafos que o diretor de cinema James Cameron utilizou em 1995 para filmar "Titanic" (1997). E também os que foram usados, sem sucesso, nas tentativas de resgate do submarino nuclear russo Kursk, que afundou no Ártico com seus 118 tripulantes em agosto de 2000.

Os primeiros mergulhos começaram no mar de Barents, 47 milhas náuticas ao norte do arquipélago russo Terra de Francisco José, disse Vladimir Strugatski, vice-presidente da Associação de Exploradores Polares, a bordo do submarino, à agência russa Itar-Tass.

Ele afirmou que os dois minisubmarinos, que já mergulharam 1.311 metros nas águas do Ártico, podem descer a uma profundidade de seis mil metros e têm capacidade para um piloto e dois acompanhantes, além de reservas de oxigênio para 72 horas.

As imersões foram realizadas aproveitando um buraco no solo formado por gelo, a 82°29' de latitude norte e a 64°28' de longitude leste, onde a temperatura da água é de -1°C.

O primeiro a descer no Mir-1 foi o veterano oceanólogo Anatoly Sagalevitch, que acompanhou James Cameron na filmagem de "Titanic". Uma hora mais tarde, desceu o segundo batiscafo, pilotado por Yevgueni Cherniayev.

O Mir-1 chegou ao fundo do mar às 3h32 de Brasília e o Mir-2, às 4h10 de Brasília. Cerca de uma hora e meia depois, ambos começaram a retornar à superfície.

O chefe da expedição, Artur Chilingarov, disse que os mergulhos não estavam programados, mas que decidiu realizá-los para testar todos os equipamentos técnicos antes da "complicada e arriscada missão" prevista para os próximos dias.

"Tocar o fundo do Oceano Glacial Ártico, o mais perigoso de todos, no ponto onde convergem os meridianos no hemisfério norte, é um velho sonho da Humanidade", disse Chilingarov, veterano explorador polar e vice-presidente da Duma, como é chamado o Parlamento da Rússia.

Ele afirmou que, durante os mergulhos no Pólo Norte, serão recolhidas amostras de solo e água, e depositada no fundo do oceano uma cápsula de titânio com a bandeira russa e uma mensagem comemorativa da expedição.

Objetivo estratégico

Além disso, confirmou que a missão, empreendida no marco do 4º Ano Polar Internacional 2007-2009, além da realização de pesquisas científicas, tem um objetivo geopolítico: apoiar a ambição da Rússia de declarar como parte de seu território o Pólo Norte e toda a região submarina adjacente, com seus recursos naturais.

A Rússia quer provar à Organização das Nações Unidas (ONU) que a chamada cordilheira submarina Lomonosov, que chega a 3.700 metros de altura e vai além do Pólo Norte, é uma continuação da plataforma continental da Sibéria e do continente euro-asiático.

Com este argumento, a Rússia reivindica, desde 2001, uma área submarina de 1,2 milhão de quilômetros quadrados rica em petróleo, gás e outros minerais, incluindo diamantes.

O país também reivindica novas rotas marítimas através do Pólo Norte, que poderiam ser abertas entre icebergs devido ao aquecimento global.

"Devemos estabelecer a que Estado está ligada a plataforma Lomonosov", afirmou Chilingarov, lembrando que países como Estados Unidos, Canadá, Noruega e Dinamarca também têm reivindicação similares às da Rússia.

A imprensa destacou que o território reclamado por Moscou abriga cerca de 10 bilhões de toneladas de hidrocarbonetos, que permitiriam à Rússia reforçar sua liderança energética quando as reservas do Golfo Pérsico começarem a se esgotar.

Os meios de comunicação locais afirmaram ainda que a expedição russa foi acompanhada por aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e que, esta semana, saiu um navio quebra-gelo da Noruega. Nele, estaria uma missão americana, que também realizará mergulhos no Pólo Norte, embora não tripulados.

"É uma prova da competição geopolítica no Ártico, onde se destaca em primeiro plano a luta pelos recursos naturais e pela presença estratégica na área, por enquanto neutra", comentou o jornal "Viesti", da televisão estatal.

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