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04/04/2001 - 22h36

Explosões podem ajudar a entender "berçários de estrelas"

da Reuters, em Baltimore (EUA)

Uma explosão de raios gama mais poderosa que um quatrilhão (1014) de sóis pode ajudar cientistas a compreender o funcionamento das grandes nuvens de poeira cósmica, conhecidas como "berçários de estrelas", disseram pesquisadores na quarta-feira.

De fato, astrônomos presentes em uma conferência sobre estes misteriosos e energéticos estouros cósmicos conhecidos como explosões de raios gama disseram que uma explosão particular acontecida este ano pode ter ocorrido em um "berçário de estrelas".

Os astrônomos não sabem o que provoca as explosões de raios gama, ou mesmo o que elas são exatamente, mas um satélite ítalo-holandês, o BeppoSAX, conseguiu observar um destes flashes em 22 de fevereiro. Segundo os pesquisadores, foi a segunda explosão mais brilhante já observada, entre aquelas onde a distância da Terra era conhecida.

Luigi Piro, um cientista do projeto BeppoSAX baseado em Roma, descobriu que esta explosão e outras produziram um par de ondas de choque que se expandiram quase que instantaneamente, semelhante ao ato de encher um gigantesco balão no espaço.

Mas a bolha surgiu contra uma densa parede de gás que quase a encobriu completamente, disse Piro durante um encontro internacional sobre explosões de raios gama realizado hoje em Baltimore (EUA).

"Este nível de densidade só pode ser encontrado em regiões densamente preenchidas onde as estrelas nascem", disse Piro.

Se isto foi verdade, significa que as explosões de raios gama podem servir como imensos faróis cósmicos sinalizando onde estão berçários de estrelas, disse Fiona Harrison, uma astrônoma do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

"É um farol que mostra onde estrelas estão sendo formadas e é um sinal que brilha através de qualquer material que o cerque", disse Harrison, sobre as explosões de raios gama. Diferente das ondas luminosas visíveis a olho nu, raios gama não são detidos por poeira ou gás, eles passam direto.

Nasce uma estrela

"As estrelas nascem nestas lindas nebulosas [nuvens gigantescas de gás e poeira] com muita coisa ao redor, e essa coisa é o que impede você de ver o crescimento das estrelas", disse a astrônoma. "Se uma em cada cem destas [estrelas jovens] explode em um estouro de raios gama, então vai brilhar e você poderá dizer 'Ahá! É ai que as estrelas são feitas'."

Os maiores "bebês" dos berçários são os que têm a maior probabilidade de se tornarem explosões de raios gama, disseram Herrison e Piro, frisando que a origem destes fenômenos são ainda desconhecidos.

Este fenômeno pode ser a chamada hipernova — explosão de estrelas que têm 50 vezes a massa do nosso Sol. Estas estrelas monstruosas explodem quase no mesmo momento em que são criadas, o que torna difícil a observação. Mas se elas tornam-se jatos de raios gama, essa radiação emitida pode ser usada por observadores terrestre a grandes distâncias.

A explosão de 22 de fevereiro ocorreu a cerca de 10 bilhões de anos-luz da Terra, disse Piro. Um ano-luz equivale a 10 trilhões de quilômetros, a distância que a luz viaja em um ano.

As explosões de raios gama foram detectadas pela primeira vez na década de 1970 por satélites que monitoravam o cumprimento do Tratado de Proibição de Testes Nucleares. Somente 3 mil delas foram detectadas até agora, e destas apenas 40 tiveram sua localização encontrada. Elas ocorrem a uma taxa de uma por dia, em qualquer lugar do universo.

Estas explosões são consideradas como os eventos mais energéticos do universo depois do teórico Big Bang, a explosão primordial que criou o cosmo e a Terra.

A energia liberada nestes fenômenos é difícil de ser medida, mas cientistas dizem que se um por cento da energia emitida durante uma típica explosão pudesse ser armazenada, seria capaz de suprir todas as necessidades energéticas da Terra por pelo menos um quatrilhão de anos.

Infelizmente, se uma explosão de raios gamas acontecesse no centro da Via Láctea, nossa galáxia, e tivesse como direção a Terra, o planeta seria bombardeado por 100 mil vezes mais energia que normalmente recebe do Sol.

Os cientistas não sabem com qual frequência um evento como esse acontece na Via Láctea.
 

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