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07/04/2001
-
02h32
free-lance para a Folha
No lançamento marcado para hoje, a sonda Mars Odyssey leva uma carga muito maior do que seus meros 730 kg. Sobre ela pesa a responsabilidade de provar que a abordagem da Nasa (agência espacial dos EUA) para a exploração de Marte é de fato eficiente.
A filosofia "faster, better, cheaper" (mais rápido, melhor, mais barato), instituída pelo diretor Daniel Goldin, parecia o sonho dos contribuintes norte-americanos. Ela partia do pressuposto de que a Nasa poderia fazer seu trabalho melhor, sem levar dez anos para criar uma sonda e sem gastar bilhões para cada missão.
As primeiras sondas marcianas sob a nova política (Mars Global Surveyor e Mars Pathfinder) custaram juntas, em 1996, US$ 414 milhões. E foram um sucesso.
Em contraste, a missão anterior, Mars Observer, lançada em 1992, falhou ao chegar em Marte —desperdiçando sozinha cerca de US$ 1 bilhão. As Viking, dos anos 70, custaram mais de US$ 3 bilhões.
Não foi à toa que a Nasa ficou muito mais confortável depois de 1997, quando as novas missões de baixo custo atingiram seus objetivos além das expectativas.
Ninguém imaginava o revés que viria em 1999. Embalada pelo sucesso, a Nasa havia apostado em nova dobradinha em 1998, mas não deu certo: a Mars Climate Orbiter e a Mars Polar Lander falharam. Seu custo, pelo menos, foi inferior, US$ 320 milhões.
Os fracassos foram suficientes para desmoralizar a política da agência. Entre os engenheiros, dentro e fora da Nasa, circulava o comentário sobre a estratégia mais rápido-melhor-mais barato: "Escolha dois deles. Não se pode ter tudo junto, mais rápido, melhor e mais barato".
Pós-fracasso
A missão atual, a Mars Odyssey, é fruto do clima pós-fracasso. Ela segue a mesma estratégia, mas sinaliza mudanças. Originalmente, estava programada como uma missão dupla, como as anteriores.
"O aspecto mais desafiador para mim foi manter a equipe concentrada, porque o projeto passou por muitas mudanças. Começamos com um orbitador e uma sonda terrestre e tivemos de repensá-los várias vezes. Aí as missões de 1998 foram perdidas e, quando estávamos novamente repensando a sonda terrestre, nós a perdemos", relata George Pace, gerente do projeto, em depoimento publicado no site da missão (mars.jpl.nasa.gov/odyssey).
O custo também diz algo: US$ 297 milhões —a sonda marciana mais cara desde a Observer.
"Tivemos seis meses adicionais para testar, que não tivemos nas missões anteriores", disse à Folha Philip Christensen, um dos pesquisadores envolvidos na criação dos equipamentos da Odyssey.
O cientista reconhece a importância da missão, não só do ponto de vista científico, como também para levantar o moral da agência. Mas, segundo ele, a pressão maior vem de dentro, não de fora. "Ninguém quer mais que essa sonda funcione do que as pessoas envolvidas em sua criação."
Além do aspecto moral, a Odyssey deve fornecer dados científicos importantes, incluindo possivelmente a detecção de água.
Os instrumentos da sonda fornecerão dados sobre a composição do solo e do subsolo (alguns metros abaixo da superfície) marcianos. Os cientistas estão procurando especialmente minerais relacionados à presença de água, assim como sinais de hidrogênio.
Um outro experimento será relevante para os planos futuros de uma possível incursão tripulada ao planeta vermelho. Ele pretende medir a radiação no ambiente marciano. Sem um campo magnético forte que a proteja, a superfície de Marte está muito mais sujeita à radiação proveniente do Sol —uma ameaça potencial à vida dos astronautas.
Uma missão tripulada, se acontecer, não sairá antes de 2020. E não será "faster, better, cheaper".
Nasa envia nova sonda espacial a Marte nesta manhã
SALVADOR NOGUEIRAfree-lance para a Folha
No lançamento marcado para hoje, a sonda Mars Odyssey leva uma carga muito maior do que seus meros 730 kg. Sobre ela pesa a responsabilidade de provar que a abordagem da Nasa (agência espacial dos EUA) para a exploração de Marte é de fato eficiente.
A filosofia "faster, better, cheaper" (mais rápido, melhor, mais barato), instituída pelo diretor Daniel Goldin, parecia o sonho dos contribuintes norte-americanos. Ela partia do pressuposto de que a Nasa poderia fazer seu trabalho melhor, sem levar dez anos para criar uma sonda e sem gastar bilhões para cada missão.
As primeiras sondas marcianas sob a nova política (Mars Global Surveyor e Mars Pathfinder) custaram juntas, em 1996, US$ 414 milhões. E foram um sucesso.
Em contraste, a missão anterior, Mars Observer, lançada em 1992, falhou ao chegar em Marte —desperdiçando sozinha cerca de US$ 1 bilhão. As Viking, dos anos 70, custaram mais de US$ 3 bilhões.
Não foi à toa que a Nasa ficou muito mais confortável depois de 1997, quando as novas missões de baixo custo atingiram seus objetivos além das expectativas.
Ninguém imaginava o revés que viria em 1999. Embalada pelo sucesso, a Nasa havia apostado em nova dobradinha em 1998, mas não deu certo: a Mars Climate Orbiter e a Mars Polar Lander falharam. Seu custo, pelo menos, foi inferior, US$ 320 milhões.
Os fracassos foram suficientes para desmoralizar a política da agência. Entre os engenheiros, dentro e fora da Nasa, circulava o comentário sobre a estratégia mais rápido-melhor-mais barato: "Escolha dois deles. Não se pode ter tudo junto, mais rápido, melhor e mais barato".
Pós-fracasso
A missão atual, a Mars Odyssey, é fruto do clima pós-fracasso. Ela segue a mesma estratégia, mas sinaliza mudanças. Originalmente, estava programada como uma missão dupla, como as anteriores.
"O aspecto mais desafiador para mim foi manter a equipe concentrada, porque o projeto passou por muitas mudanças. Começamos com um orbitador e uma sonda terrestre e tivemos de repensá-los várias vezes. Aí as missões de 1998 foram perdidas e, quando estávamos novamente repensando a sonda terrestre, nós a perdemos", relata George Pace, gerente do projeto, em depoimento publicado no site da missão (mars.jpl.nasa.gov/odyssey).
O custo também diz algo: US$ 297 milhões —a sonda marciana mais cara desde a Observer.
"Tivemos seis meses adicionais para testar, que não tivemos nas missões anteriores", disse à Folha Philip Christensen, um dos pesquisadores envolvidos na criação dos equipamentos da Odyssey.
O cientista reconhece a importância da missão, não só do ponto de vista científico, como também para levantar o moral da agência. Mas, segundo ele, a pressão maior vem de dentro, não de fora. "Ninguém quer mais que essa sonda funcione do que as pessoas envolvidas em sua criação."
Além do aspecto moral, a Odyssey deve fornecer dados científicos importantes, incluindo possivelmente a detecção de água.
Os instrumentos da sonda fornecerão dados sobre a composição do solo e do subsolo (alguns metros abaixo da superfície) marcianos. Os cientistas estão procurando especialmente minerais relacionados à presença de água, assim como sinais de hidrogênio.
Um outro experimento será relevante para os planos futuros de uma possível incursão tripulada ao planeta vermelho. Ele pretende medir a radiação no ambiente marciano. Sem um campo magnético forte que a proteja, a superfície de Marte está muito mais sujeita à radiação proveniente do Sol —uma ameaça potencial à vida dos astronautas.
Uma missão tripulada, se acontecer, não sairá antes de 2020. E não será "faster, better, cheaper".
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