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30/09/2007 - 02h35

Artigo: Para que conquistar o espaço?

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GILBERTO CÂMARA
Especial para a Folha de S.Paulo

No imbatível filme de Stanley Kubrick "2001: Uma Odisséia no Espaço", astronautas e um computador onisciente viajam pelo espaço em busca de um monólito. O monumento em pedra impecavelmente polida se mostra tão inalcançável quanto os limites do conhecimento humano. Em outro belo filme, "Solaris", de Andrei Tarkovsky, os astronautas são vencidos por um oceano inteligente que captura e projeta os medos e remorsos de cada tripulante. Assim é o espaço. O homem tenta conquistá-lo apenas para descobrir que sua ligação com a Terra é definitiva.

O espaço é um ambiente inóspito para máquinas e homens. Os equipamentos enfrentam o bombardeio da radiação e, uma vez colocados em órbita, dificilmente podem ser consertados. Os homens só podem sobreviver se presos a cordões umbilicais de alta tecnologia, quando as atividades cotidianas viram proezas.

Diante de tantos desafios, poderíamos imaginar que a humanidade fosse parcimoniosa em seus projetos espaciais. Reservar o espaço apenas para as atividades socialmente benéficas. Mas o homem não deseja apenas o bem-estar e o conhecimento. Deseja também conquista, domínio e poder.

Os satélites de telecomunicações, científicos, de observação da terra e de navegação são partes de nossa civilização. Comunicar-se a qualquer tempo e em qualquer lugar era um sonho. Hoje é (quase) trivial. Em qualquer ponto do planeta, um receptor GPS conecta-se a uma constelação de satélites no espaço e diz ao homem exatamente onde ele está. Satélites científicos como o Telescópio Espacial Hubble ampliaram nossas conjecturas sobre o que pode ter acontecido nos minutos iniciais do Universo.

Mas não nos empolguemos. A maior parte dos recursos gastos no espaço atende a interesses de poder. Os objetivos científicos de projetos bilionários como a Estação Espacial Internacional poderiam ser obtidos por missões não-tripuladas. Projetos como a missão tripulada americana para Marte têm por objetivo real mobilizar o complexo militar-industrial das grandes potências.

E o Brasil? Nosso projeto de nação é ser uma potência ambiental, com um crescimento baseado em energias limpas e que preserva nosso meio-ambiente. O programa espacial brasileiro reflete este projeto, e nosso plano de satélites até 2020 considera prioritárias as áreas de observação da terra, ciência espacial e navegação.

No dia 19 de setembro, lançamos com êxito o CBERS-2B, o terceiro satélite da cooperação espacial Brasil-China. Já estão em construção os CBERS 3 e 4, com lançamentos previstos para 2010 e 2013. Esses três satélites custam ao Brasil R$ 600 milhões, a maior parte em contratos com a indústria brasileira, enquanto um único satélite americano semelhante (o LANDSAT-7) custou mais de R$ 1,2 bilhão. Os benefícios sociais e econômicos são grandes.

Ter lançadores e um centro espacial é importante para o Brasil, mas estamos limitados pelas fontes de financiamento atuais. Nos países desenvolvidos e nos demais BRICs, orçamentos militares cobrem a maior parte dos custos de desenvolvimento de lançadores. E isso nos falta hoje. No Brasil, quem paga as atividades espaciais é o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT).

O programa espacial enfrenta a competição bem-vinda e necessária de temas como biotecnologia, nanotecnologia, mudanças climáticas, além do apoio às ciências básicas. É pouco realista supor que apenas o orçamento de pesquisa civil possa atender a todas as demandas do programa espacial.

Num futuro desejável, o programa espacial brasileiro contará com orçamentos conjugados do MCT e do Ministério da Defesa. Teremos condição de ter contratos industriais em larga escala para foguetes e satélites, como fazem todas as demais potências espaciais.

Com um programa industrial de lançadores, o Brasil finalmente conseguirá o tão almejado acesso autônomo ao espaço. E neste momento nos afirmaremos como uma potência espacial plena.

GILBERTO CÂMARA, 51, é engenheiro, doutor em computação aplicada e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

 

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