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15/05/2001 - 20h07

Empresas aceitam combater efeito estufa para evitar leis rígidas

KEITH BRADSHER
ANDREW REVKIN

do "The New York Times"

Apesar da decisão do governo Bush de voltar atrás na questão da limitação de gases que levam ao aquecimento global, muitas empresas multinacionais planejam continuar reduzindo emissões. Elas fazem isso porque enfrentam forte pressão na Europa e no Japão, porque temem um aumento nos custos de energia ou porque querem promover seus produtos como benéficos para o ambiente.

Alguns dos executivos que planejam reduzir emissões dizem que estão tentando ser bons cidadãos. Mas há todo um vasto leque de motivos empresariais, que têm pouco a ver com o ambiente ou com Washington. Eles também esperam que os Estados Unidos e outros países adotem restrições.

Em decorrência dos passos que estão sendo dados, as emissões de gases do efeito estufa pela indústria dos EUA estão caindo - e com uma velocidade surpreendente. Os grandes aumentos nos últimos tempos vêm mais de decisões tomadas pelos consumidores, não pelas corporações.

Carros e eletrodomésticos

Um exemplo é o contínuo aumento de emissões por automóveis e residências. Os americanos dirigem cada vez mais a cada ano, compram carros com sistemas de combustão menos eficientes e casas cada vez maiores, com cada vez mais eletrodomésticos.

"Em um dado momento vai ser necessário ter uma regulamentação restritiva de algum tipo", afirmou E. Linn Draper Jr., da American Electric Power, dona de usinas de energia à base de carvão no Meio-Oeste americano, que constrói usinas em outros países.

A mudança na forma de pensar das grandes empresas é tão marcante que alguns executivos que no passado lideravam a luta contra restrições aos gases que retêm a radiação solar na atmosfera estão agora exigindo ação.

Peter Pestillo, da Visteon Corp., um dos maiores fabricantes de autopeças do mundo, disse que muitas companhias descobriram que esforços para enfrentar questões climáticas e ambientais, em geral, não só têm valor de marketing, mas também podem ser obtidos a baixo custo. A condição é que os problemas sejam identificados precocemente, no planejamento de cada novo projeto.

"Não se debate mais o aquecimento global", afirma Pestillo. "Trata-se mais de galgar uma posição segura, para estar no futuro, do que ser empurrado até ela." O ponto de vista de Pestillo é significativo porque, como um dos principais executivos da Ford nos anos 90, ele coordenava a oposição da indústria automobilística a regras ambientais.

Cada vez mais indústrias estão dando passos com vistas a reduzir as emissões de gases-estufa:

  • Todas as grandes montadoras de automóveis estão investindo pesadamente em tecnologia de motores, para aumentar a economia de combustível, em parte porque sua queima por veículos é uma das maiores fontes de dióxido de carbono - o principal gás-estufa - e também uma das que mais crescem, mas principalmente porque o preço do combustível está subindo e os reguladores na Europa e no Japão estão exigindo grandes avanços no rendimento.

  • Na indústria petrolífera, multinacionais sediadas na Europa, como Shell e BP, estão tomando providências para acabar com a queima de gás natural em poços de petróleo - em parte para apaziguar ambientalistas em seu mercado interno, mas também na esperança de vender o gás e conquistar uma imagem mais "verde". Empresas dos EUA, como a ExxonMobil, estão começando a caminhar na mesma direção.

  • Empresas como a DuPont estão reduzindo a sua emissão de compostos que contribuem para o aquecimento global, uma ação iniciada anos atrás, em razão do dano que causam à camada protetora de ozônio.

  • Algumas grandes empresas de manufaturados, como a Alcoa, que liberam outros tipos de gases-estufa, estão adotando métodos que poluem menos, em parte para enfrentar a questão climática, mas também porque as melhorias dos processos industriais para reduzir custos têm o benefício adicional de reduzir gases-estufa.

  • Fornecedores de energia elétrica estão tentando reduzir a energia desperdiçada nas usinas, em parte para queimar menos combustível, mas também para evitar a intervenção do governo.

    "Muitas empresas perceberam, nos anos 90, que, se uma questão ambiental alcança um certo nível de seriedade e de conscientização pública, é melhor ser pró-ativo do que reativo", afirma Philip E. Clapp, do National Environmental Trust, um grupo privado de Washington que tem feito lobby para resgatar o Protocolo de Kyoto, o tratado climático que foi rejeitado pelo presidente dos EUA, George W. Bush, há dois meses.

    Papel do governo

    Clapp argumenta, por outro lado, que apenas uma ação governamental para restringir gases-estufa seria capaz de incentivar as mudanças necessárias. Alguns executivos são contrários a restrições fortes na emissão de gases-estufa, mas afirmam, ainda assim, que o governo deve exercer um papel, estabelecendo as regras e métodos - por exemplo, um plano de troca de créditos obtidos pelo corte de emissões. É isso que eles pedem a Bush.

    "A abordagem não pode ser totalmente a do mercado livre", afirma Norine Kennedy, vice-presidente para assuntos ambientais do Conselho para Negócios Internacionais dos EUA, que representa cerca de 300 empresas que fazem negócios no exterior.

    Funcionários da Casa Branca se recusam por ora a dizer como a administração vai lidar com essa questão polêmica. "O presidente prometeu revisar todas as opções", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Ken Lisaius. "Ele vai continuar a procurar uma vasta gama de grupos e a solicitar várias opiniões sobre o assunto."

    Tradução de Alexandra O. de Almeida
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