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18/05/2001
-
05h18
da Folha de S.Paulo
Peixes fluorescentes estão sendo usados para identificar genes responsáveis pela absorção de gordura no organismo. Os animais já permitiram a cientistas nos EUA identificar um novo gene ligado ao controle do colesterol, batizado "fat free" (sem gordura).
Eles também puderam mostrar o efeito de uma droga contra excesso de colesterol, o que permitirá acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos para doenças como aterosclerose, distúrbios biliares e alguns cânceres.
Isso tudo é possível porque a equipe de dez pesquisadores liderada por Steven Farber, da Instituição Carnegie, de Baltimore (Maryland, EUA), desenvolveu um alimento especial para os paulistinhas, nome científico Danio rerio _os peixes favoritos tanto dos aquaristas, por serem bonitos e fáceis de criar, como dos cientistas, por serem um bom modelo genético e por suas larvas terem visualização interna fácil.
O alimento consiste em um "fosfolipídio", isto é, uma gordura do tipo que forma as membranas das células, com uma propriedade original: é capaz de emitir uma luz verde fluorescente quando está sendo digerida. Ou seja, ele se "acende" sempre que uma enzima (um tipo de proteína) digestiva está em ação.
Ao enxergar o que está acontecendo no aparelho digestivo do peixe, os cientistas puderam então testar animais com diferentes mutações genéticas e observar diretamente a digestão.
"A maior parte dos genes em seres humanos está presente em peixes e são entre 70% e 90% os mesmos. Isso nós sabemos pelos projetos genoma sendo feitos no homem e no peixe-zebra", disse Farber à Folha. Peixe-zebra ("zebrafish") é o nome popular do paulistinha nos Estados Unidos.
"O peixe-zebra nos permite fazer mutações ao acaso no genoma e procurar peixes que tivessem o processamento de lipídios alterado", afirma Farber. "Então nós nos perguntamos qual gene foi afetado para causar um dado defeito", explica.
Assim que os pesquisadores são capazes de identificar com precisão o gene do peixe _por exemplo, um que regule a absorção de colesterol_, eles podem fazer o mesmo no ser humano, procurando pelo gene correspondente (homólogo). "Uma vez conhecido o gene, nós podemos projetar drogas para inibir a sua função", afirma o pesquisador.
Remédio para colesterol
Os pesquisadores também testaram, na digestão da gordura fluorescente, a ação de uma droga anticolesterol (a atorvastatina, de marca Lipitor, do laboratório Parke-Davis, que está entre os dez medicamentos mais vendidos nos EUA). A droga bloqueou totalmente a fluorescência, indicando que a gordura não chegou a ser digerida pois a vesícula biliar não liberou a bílis, substância essencial para a digestão de gordura.
Gordura em peixe brilha no escuro
RICARDO BONALUME NETOda Folha de S.Paulo
Peixes fluorescentes estão sendo usados para identificar genes responsáveis pela absorção de gordura no organismo. Os animais já permitiram a cientistas nos EUA identificar um novo gene ligado ao controle do colesterol, batizado "fat free" (sem gordura).
Eles também puderam mostrar o efeito de uma droga contra excesso de colesterol, o que permitirá acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos para doenças como aterosclerose, distúrbios biliares e alguns cânceres.
Isso tudo é possível porque a equipe de dez pesquisadores liderada por Steven Farber, da Instituição Carnegie, de Baltimore (Maryland, EUA), desenvolveu um alimento especial para os paulistinhas, nome científico Danio rerio _os peixes favoritos tanto dos aquaristas, por serem bonitos e fáceis de criar, como dos cientistas, por serem um bom modelo genético e por suas larvas terem visualização interna fácil.
O alimento consiste em um "fosfolipídio", isto é, uma gordura do tipo que forma as membranas das células, com uma propriedade original: é capaz de emitir uma luz verde fluorescente quando está sendo digerida. Ou seja, ele se "acende" sempre que uma enzima (um tipo de proteína) digestiva está em ação.
Ao enxergar o que está acontecendo no aparelho digestivo do peixe, os cientistas puderam então testar animais com diferentes mutações genéticas e observar diretamente a digestão.
"A maior parte dos genes em seres humanos está presente em peixes e são entre 70% e 90% os mesmos. Isso nós sabemos pelos projetos genoma sendo feitos no homem e no peixe-zebra", disse Farber à Folha. Peixe-zebra ("zebrafish") é o nome popular do paulistinha nos Estados Unidos.
"O peixe-zebra nos permite fazer mutações ao acaso no genoma e procurar peixes que tivessem o processamento de lipídios alterado", afirma Farber. "Então nós nos perguntamos qual gene foi afetado para causar um dado defeito", explica.
Assim que os pesquisadores são capazes de identificar com precisão o gene do peixe _por exemplo, um que regule a absorção de colesterol_, eles podem fazer o mesmo no ser humano, procurando pelo gene correspondente (homólogo). "Uma vez conhecido o gene, nós podemos projetar drogas para inibir a sua função", afirma o pesquisador.
Remédio para colesterol
Os pesquisadores também testaram, na digestão da gordura fluorescente, a ação de uma droga anticolesterol (a atorvastatina, de marca Lipitor, do laboratório Parke-Davis, que está entre os dez medicamentos mais vendidos nos EUA). A droga bloqueou totalmente a fluorescência, indicando que a gordura não chegou a ser digerida pois a vesícula biliar não liberou a bílis, substância essencial para a digestão de gordura.
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