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19/06/2001 - 23h13

Cientistas querem impedir índios de enterrar fóssil nos EUA

da Folha de S.Paulo

Cientistas americanos estão processando o governo pela decisão de dar a cinco tribos indígenas a custódia dos fósseis do Homem de Kennewick, um dos esqueletos mais velhos - e polêmicos - da América do Norte.

O fóssil de 9.300 anos, descoberto em 1996 às margens do rio Columbia, noroeste dos EUA, está sendo disputado por antropólogos e líderes indígenas. Os primeiros acham que ele pode responder questões fundamentais sobre a origem do homem nas Américas. Os últimos querem simplesmente enterrá-lo, pois o consideram um ancestral, sagrado.

O caso foi parar nos tribunais, com vários lances desde 1998. O último lance aconteceu ontem, quando um grupo de oito antropólogos apresentou a um juiz de Portland, Oregon, argumentos sobre por que estudar o esqueleto. Eles afirmam que os ossos do Homem de Kennewick se parecem mais com os dos modernos habitantes do leste asiático do que com os dos índios americanos. Há quem diga, ainda, que o fóssil é de um homem caucasiano, ou que seria mais parecido com os habitantes da Polinésia.

Repatriação

Mas nenhuma dessas hipóteses pôde ser comprovada. Em setembro do ano passado, o Departamento do Interior dos EUA determinou que o esqueleto deveria ser devolvido às cinco tribos que o reclamam (umatilla, nez perce, yakama, colville e wanampum). O argumento foi uma lei de 1990, o Ato de Repatriação e Proteção dos Túmulos dos Nativos Americanos, conhecido como Nagpra.

O Nagpra foi criado para garantir a proteção e a devolução às tribos de artefatos e esqueletos indígenas em posse de museus.

O argumento dos pesquisadores contra a inclusão do esqueleto de Kennewick na lei é que ele não é culturalmente nem biologicamente associado às nações que o reclamam. E, pelo Nagpra, as tribos precisam comprovar sua filiação cultural aos vestígios.

Segundo os pesquisadores, o fóssil de Kennewick pertenceu a um grupo extinto, que ocupou um território que só muito tempo depois viria a ser habitado pelas tribos que reclamam os ossos.

Mas a história oral, uma das evidências apresentadas pelos indígenas para comprovar a ligação com o esqueleto, dá conta de que os índios habitam a região do rio Columbia, Estado de Washington, "desde o início dos tempos".

Teorias em jogo

Entretanto, é justamente quando os tempos começaram que os cientistas querem saber. E, para isso, o esqueleto de Kennewick pode ser uma peça importante.

Até pouco tempo atrás, era consenso que os primeiros seres humanos eram todos mongolóides (asiáticos) e chegaram à América há cerca de 12 mil anos, em busca de mamutes. A prova era um sítio no Novo México, Estados Unidos, onde pontas de lança de 11.500 anos foram encontradas.

Nos últimos anos, no entanto, novas pesquisas têm mostrado que o povoamento do continente foi muito mais complexo - e começou bem mais cedo. Artefatos humanos de 12.500 anos de idade foram encontrados no sul do Chile. Pontas de lança achadas nos EUA sugerem ligações com culturas européias da Idade da Pedra. E um esqueleto de 11.500 anos achado no Brasil, "Luzia", indica que os primeiros povoadores eram mais parecidos com os aborígenes da Austrália do que com os grupos indígenas atuais.

Aí que entra o Homem de Kennewick. Analisando as formas de seu crânio, alguns pesquisadores concluíram que ele parecia um cidadão europeu, possível indício de uma onda migratória extinta e desconhecida. Outros vêem nele semelhanças com "Luzia", outra pista de origem não-mongolóide.

A briga entre índios e cientistas está nas mãos do juiz John Jelderks. Mas o que quer que ele decida terá apelação. "Não acho que será o fim", disse à rede de notícias ABC o advogado dos antropólogos, Alan Schneider. Para ele, o caso acabará na Suprema Corte.
 

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