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22/06/2001 - 21h17

Pesquisa genética brasileira atrai capital de risco

ISABEL GERHARDT
da Folha de S.Paulo

Uma levedura que sabe a hora certa de ir para o fundo do tanque de fermentação não só reduz os custos de produção de álcool e vinho, como também é exemplo da pesquisa que está saindo da universidade e migrando para empresas nascentes de biotecnologia, com a ajuda do capital de risco.

"O retorno da ciência é a tecnologia", diz Gonçalo Guimarães Pereira, professor da Unicamp e coordenador do projeto que criou a levedura inteligente.

Leveduras são fungos microscópicos usados no processo de fermentação, que transforma açúcar em álcool. São utilizadas pela indústria da cana, do vinho e da cerveja. Ao final da fermentação, ficam boiando no álcool. Para eliminá-las, os produtores empregam centrífugas, que respondem por 20% do custo de produção, afirma Pereira.

Com o objetivo de reduzir esses custos, Pereira "engenheirou" uma levedura capaz de responder aos níveis de glicose (açúcar). Quando a glicose termina de ser consumida pelas leveduras geneticamente modificadas no caldo de fermentação, essas se agrupam e, pelo peso, precipitam (afundam). "Evitando as centrífugas, eliminamos um dos gargalos da produção", completa.

Após mostrar no laboratório que a idéia funciona, Pereira fez um acordo com a empresa Genesearch, que investe em projetos de biotecnologia, da qual ele é consultor. A Genesearch financiará a ampliação de escala do projeto e comercializará a levedura. "A empresa já entrou em contato com usineiros, que mostraram interesse pela idéia", diz o pesquisador.

Pereira explica que o aumento de escala da produção é sempre um problema. E a participação do capital de risco é fundamental para que esse aumento ocorra.

Segundo o pesquisador, o capital de risco, que, no Brasil, nos últimos anos, vinha investindo em empresas de internet, passou agora a demonstrar interesse pela área biotecnológica. "Com os resultados dos vários projetos genoma e com estudos que exploram a biodiversidade nacional, para gerar produtos, a universidade precisará de capital privado e será preciso fazer parceria", diz.

Exportando dados

Fernando Reinach, coordenador do Projeto Genoma Xanthomonas citrii _agente causador do cancro cítrico_ da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), é um exemplo de professor-empreendedor, figura ainda pouco comum nas universidades brasileiras. Ano passado, pediu uma licença de tempo integral do Instituto de Química da USP e passou a se dedicar à comDomínio, uma empresa especializada na hospedagem de sites e servidores.

A empresa, que recebeu capital de risco não só de grupos estrangeiros mas também de nacionais, é um sucesso. "É um risco duplo: do capital, que não sabe se o empreendimento vai dar certo, e do professor, que larga sua carreira e aposta numa idéia", diz Reinach.

Para ele, com os projetos genoma, os grupos de capital de risco começaram a ver oportunidades de investimento na área biotecnológica no Brasil. E é preciso que os pesquisadores tenham a coragem de formar empreendimentos para explorar esses dados.

"Caso contrário, produziremos dados para outros explorarem. Pode ter certeza que, se você não levar adiante, alguém vai", diz.

Reinach cita o exemplo de algo que aconteceu com a Xylella, a praga do amarelinho, primeiro genoma a ser concluído no país.

"Após a publicação, como os dados estavam disponíveis na internet, empresas americanas pegaram esses dados e, depois de reinterpretá-los, passaram a vender essa nova informação. Depois do trabalho, vem uma empresa americana ganhar em cima?"

Segundo Reinach, é comum, nos EUA, que grupos de capital de risco venham até as universidades procurando no que investir. No Brasil, isso ainda não acontece.

"O que é uma pena, pois, na maioria das vezes, o pesquisador não está habituado a olhar o seu trabalho como algo capaz de gerar um produto", afirma.
 

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