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02/07/2001 - 22h17

Ovelhas nascem de ovários congelados

FABIANE LEITE
enviada especial da Folha a Lausanne

Mais uma vez, as ovelhas. Três delas, da raça Grivette, recebem toda a atenção de cientistas franceses no desenvolvimento de uma técnica para que mulheres que ficaram estéreis em tratamentos contra o câncer possam recuperar a capacidade de reprodução.

O estudo foi apresentado hoje durante o 17º Encontro da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, que ocorre em Lausanne, Suíça.

As ovelhas, segundo os cientistas, são parte do primeiro grupo de grandes mamíferos nascidos vivos por meio da técnica, que utiliza o congelamento e o descongelamento de pedaços de ovário.

Entre setembro de 1999 e janeiro de 2000 cientistas do Departamento de Medicina Reprodutiva do Hospital Edouard Herriot, em Lyon, retiraram um dos ovários de seis ovelhas. Os órgãos foram cortados, congelados e armazenados em nitrogênio líquido, a uma temperatura de -196ºC, por períodos de até 45 dias.

Pesquisadores então descongelaram os pedaços de ovário, que foram incubados por 30 minutos. Depois, os tecidos foram enxertados de volta nas ovelhas, no lugar dos ovários extirpados.

De dois a quatro meses depois dos enxertos, os tecidos cresceram, recompondo aos poucos os ovários, que voltaram a funcionar, produzindo hormônios. Segundo especialistas, a área em que ficam os órgãos é muito vascularizada, daí a rapidez. No verão do ano passado, quatro ovelhas ficaram grávidas de seis filhotes, dos quais três ainda estão vivos. Um morreu logo após o nascimento e outros dois não resistiram após nascerem prematuros.

Segundo os pesquisadores, não há relação entre as mortes e a técnica. Para o grupo, o sucesso com as ovelhas traz esperança para mulheres esterilizadas por tratamentos contra o câncer, como a quimioterapia e a radioterapia.

"O próximo passo é fazer avaliações de maior duração [nas ovelhas] e tentativas em humanos", disse um dos pesquisadores, Bruno de Salle, durante a apresentação. O coordenador do estudo, Jean François Guerin, disse à Folha que a primeira tentativa da técnica em humanos pode ocorrer no próximo ano. "É uma técnica que permite a gravidez natural", destacou.

Segundo o médico húngaro Peter Nagy, especialista em reprodução humana radicado em São Paulo e participante do encontro, o congelamento de tecido dos ovários é realizado no Brasil em alguns casos de fertilização in vitro. Tenta-se amadurecer folículos retirados do tecido em laboratório até que eles se transformem em óvulos para a fertilização.

Segundo Nagy, no entanto, a técnica tem baixa eficiência até agora. Para ele, mesmo assim, as mulheres que forem passar por tratamentos que possam esterilizá-las devem congelar pedaços do ovário. "Talvez em alguns anos o método esteja melhor", afirmou. Para o médico, o estudo francês "é um passo importante".

Segundo o coordenador da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Edson Borges Júnior, que também participa do encontro, neste ano já foi realizado um estudo em que um pedaço do ovário foi implantado em uma mulher esterilizada. Apesar de inicialmente ela ter conseguido produzir hormônios, logo tudo voltou à estaca zero.

Razões do sucesso

Guerin afirmou durante entrevista que o sucesso da técnica aplicada nas ovelhas está relacionado à maneira como foram congelados os pedaços de ovário. Houve baixa mortalidade de folículos no descongelamento. A técnica de enxerto também ajudou.

Segundo Borges Júnior, outra possível aplicação do congelamento e do enxerto é a reposição hormonal durante a menopausa. Ele destacou, no entanto, que, nas mulheres com câncer, a técnica traz o risco de o pedaço do ovário ainda conter vestígios do tumor. "Todos estas tentativas ainda são experimentais", destacou o especialista brasileiro.

A repórter Fabiane Leite viajou a convite do laboratório Serono

Leia mais sobre o encontro:

  • Cientistas identificam síndrome de infertilidade masculina

  • Novo exame detecta síndrome de Down em embriões

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