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27/07/2001 - 22h05

Ministério faz raio-X da ciência e da tecnologia no Brasil

da Folha de S.Paulo

O Brasil precisa dar um salto tecnológico à maneira dos Tigres Asiáticos se quiser tomar o rumo dos países desenvolvidos ainda nesta década. Mas, para isso, deverá antes reverter a situação do ensino fundamental e atrair os investimentos do empresariado para ciência e tecnologia.

Essas são as principais conclusões do relatório "Ciência, Tecnologia e Inovação: Desafio para a Sociedade Brasileira - Livro Verde". Produzido por mais de 400 especialistas, a pedido do MCT, o livro faz uma radiografia da ciência e da tecnologia no Brasil.

O Ministério espera transformá-lo num "livro branco", ou seja, num plano estratégico consolidado para o tal salto tecnológico. Para isso, está organizando uma conferência nacional de ciência e tecnologia, que deverá se realizar entre os dias 18 e 20 de setembro, em Brasília.

Segundo o MCT, a idéia da conferência é colocar ciência e tecnologia (C&T) no topo da agenda política do país. Mas o "livro verde" foi concebido com um propósito mais prático: arrumar um jeito de administrar os R$ 648 milhões dos fundos setoriais _verbas originadas de taxação sobre empresas de setores com alto uso de tecnologia, como o petrolífero.

"Os fundos são a grande novidade no setor de ciência e tecnologia nos últimos anos", disse à Folha um dos coordenadores do "livro verde", o físico Cylon Gonçalves da Silva, do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron). "Mas era necessário um planejamento a longo prazo para usá-los bem. Não podemos dá-los como uma aquisição permanente."

Gargalo em inovação

O "livro verde" revela que a pesquisa no Brasil vai bem, obrigado. O país é o oitavo do mundo em número de doutores em ciências e engenharia e surge como potência em áreas estratégicas, como a biotecnologia. Mas não conseguiu converter a ciência básica, tarefa pública (de universidades e órgãos de fomento), em inovação tecnológica _a transformação de conhecimento em riqueza_, responsabilidade do setor privado.

As grandes exceções, que confirmam a regra, são a Petrobras, uma estatal, e a Embraer, uma ex-estatal, ambas produtoras e usuárias de tecnologia de ponta.

"Se a oferta de ciência e tecnologia vai bem, a demanda pelo setor privado é pequena", disse Silva.

Que o digam os números. O maior financiador do setor no Brasil ainda é o governo, que responde por mais de 60% dos gastos em pesquisa e desenvolvimento. Nos países ricos, essa proporção se inverte. Outro dado do diagnóstico do MCT que confirma a baixa capacidade de inovação é o número de patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

Apesar de o governo oferecer incentivos fiscais às empresas que queiram investir em pesquisa desde 1993, um levantamento feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrou que 80% deles ignoravam o fato.

Outro pé de barro do sistema, segundo o "livro verde", é o ensino fundamental. O relatório aponta que o nível de escolaridade médio do brasileiro cresceu, desde 1981, em apenas dois anos _de quatro anos para seis.

A Coréia do Sul, um dos exemplos apontados pelo ministério, tem mais do que o dobro disso. "Quase 95% dos sul-coreanos têm segundo grau completo", afirmou Silva. Segundo ele, isso é importante porque "talento é algo estatístico em qualquer sociedade. Quanto mais alta a base, maior o número de futuros inovadores."

Para a presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Glaci Zancan, o caminho de colocar a pesquisa como prioridade é difícil porque nem mesmo quem deveria fazer pesquisa nas universidades o faz, lembra ela. "A maioria do corpo docente não faz pesquisa. Não há coisa mais difícil do que emplacar avaliação de mérito nas universidades", afirma Glaci. "Tem doutor que não faz pesquisa", diz, "e, sem pesquisa, a universidade não alavanca o resto do sistema."
 

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