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09/08/2001
-
22h15
da Folha de S.Paulo
Algumas vezes argumentos como o poder da mente ou a fé são usados para justificar a recuperação de pessoas doentes que não receberam nenhum tipo de tratamento convencional. Pois agora cientistas no Canadá apresentam evidências de que esse efeito psicológico é real _e de considerável magnitude_, pelo menos para aqueles pacientes que sofrem de mal de Parkinson.
Num estudo publicado na edição de amanhã da revista científica "Science", pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica afirmam que o simples ato de receber algum tipo de tratamento (seja ele ativo ou não) pode ser eficiente devido à expectativa de benefício que ele cria _o chamado efeito placebo.
No caso dos pacientes com Parkinson, a crença em estar tomando algo realmente eficaz contra a doença causaria a liberação da dopamina, um mensageiro químico do cérebro envolvido no controle dos movimentos automáticos e involuntários do corpo.
Os cientistas sempre acreditaram não existir nenhum tipo de resposta química do corpo ao placebo. Qualquer efeito seria apenas resultado de auto-sugestão.
No entanto, ao examinar pessoas com mal de Parkinson que receberam placebo, Jon Stoessl _coordenador do estudo da "Science"_ e seu grupo constataram que a história não era exatamente assim.
"Nossos resultados mostram que o efeito placebo não só é real como de considerável magnitude. As modificações observadas são comparáveis às que ocorrem naqueles que tomam anfetamina, conhecida por liberar quantidades substanciais de dopamina", disse Stoessl à Folha.
Segundo o pesquisador, esses resultados podem ajudar a explicar por que pacientes que participam de testes clínicos (nos quais a ação de um medicamento é avaliada) frequentemente respondem melhor à terapia do que aqueles que têm a mesma doença e recebem o mesmo medicamento numa situação de rotina.
Dor e depressão
Para Raúl de la Fuente-Fernández, pesquisador-visitante na Universidade da Colúmbia Britânica e principal autor do estudo, existem três condições médicas nas quais o efeito placebo já foi, repetidas vezes, constatado como sendo proeminente: dor, depressão e mal de Parkinson.
"Curiosamente, as três desordens estão associadas à disfunção de neurotransmissores [mensageiros químicos] no sistema nervoso central", disse de la Fuente-Fernández à Folha.
O pesquisador reconhece que, embora o impacto na ativação do sistema da dopamina possa ser maior nos pacientes com mal de Parkinson, a liberação desse neurotransmissor pode ser um mecanismo comum do efeito placebo nas três condições.
Stoessl pondera que outras substâncias químicas mais relevantes para as condições de dor e depressão podem ser liberadas em resposta ao placebo. "Peptídeos opióides [moléculas que imitam a ação do ópio], no caso da dor, ou mesmo uma combinação de ambas [dopamina e outras substâncias]", exemplifica.
O cientista afirma que esses resultados levantam também uma nova questão ética. "Será que o efeito placebo poderia ser deliberadamente usado no tratamento de alguma doença?", questiona. Para ele, tanto do ponto de vista científico como do ético, uma pergunta difícil de responder.
Fé em remédio melhora resultado de tratamento contra Parkinson
ISABEL GERHARDTda Folha de S.Paulo
Algumas vezes argumentos como o poder da mente ou a fé são usados para justificar a recuperação de pessoas doentes que não receberam nenhum tipo de tratamento convencional. Pois agora cientistas no Canadá apresentam evidências de que esse efeito psicológico é real _e de considerável magnitude_, pelo menos para aqueles pacientes que sofrem de mal de Parkinson.
Num estudo publicado na edição de amanhã da revista científica "Science", pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica afirmam que o simples ato de receber algum tipo de tratamento (seja ele ativo ou não) pode ser eficiente devido à expectativa de benefício que ele cria _o chamado efeito placebo.
No caso dos pacientes com Parkinson, a crença em estar tomando algo realmente eficaz contra a doença causaria a liberação da dopamina, um mensageiro químico do cérebro envolvido no controle dos movimentos automáticos e involuntários do corpo.
Os cientistas sempre acreditaram não existir nenhum tipo de resposta química do corpo ao placebo. Qualquer efeito seria apenas resultado de auto-sugestão.
No entanto, ao examinar pessoas com mal de Parkinson que receberam placebo, Jon Stoessl _coordenador do estudo da "Science"_ e seu grupo constataram que a história não era exatamente assim.
"Nossos resultados mostram que o efeito placebo não só é real como de considerável magnitude. As modificações observadas são comparáveis às que ocorrem naqueles que tomam anfetamina, conhecida por liberar quantidades substanciais de dopamina", disse Stoessl à Folha.
Segundo o pesquisador, esses resultados podem ajudar a explicar por que pacientes que participam de testes clínicos (nos quais a ação de um medicamento é avaliada) frequentemente respondem melhor à terapia do que aqueles que têm a mesma doença e recebem o mesmo medicamento numa situação de rotina.
Dor e depressão
Para Raúl de la Fuente-Fernández, pesquisador-visitante na Universidade da Colúmbia Britânica e principal autor do estudo, existem três condições médicas nas quais o efeito placebo já foi, repetidas vezes, constatado como sendo proeminente: dor, depressão e mal de Parkinson.
"Curiosamente, as três desordens estão associadas à disfunção de neurotransmissores [mensageiros químicos] no sistema nervoso central", disse de la Fuente-Fernández à Folha.
O pesquisador reconhece que, embora o impacto na ativação do sistema da dopamina possa ser maior nos pacientes com mal de Parkinson, a liberação desse neurotransmissor pode ser um mecanismo comum do efeito placebo nas três condições.
Stoessl pondera que outras substâncias químicas mais relevantes para as condições de dor e depressão podem ser liberadas em resposta ao placebo. "Peptídeos opióides [moléculas que imitam a ação do ópio], no caso da dor, ou mesmo uma combinação de ambas [dopamina e outras substâncias]", exemplifica.
O cientista afirma que esses resultados levantam também uma nova questão ética. "Será que o efeito placebo poderia ser deliberadamente usado no tratamento de alguma doença?", questiona. Para ele, tanto do ponto de vista científico como do ético, uma pergunta difícil de responder.
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