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17/09/2001 - 18h19

Reunião debate rumo da ciência no Brasil

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Durante quatro dias, cerca de 1.500 representantes do governo, da comunidade científica e do setor privado da economia vão discutir o que é possível fazer para que a ciência e a tecnologia contribuam de fato para o desenvolvimento do país. A nova palavra-chave, incluída no próprio nome da conferência que começa hoje em Brasília, é "inovação".

O ambicioso objetivo final é obter um "livro branco" que consolide um "projeto nacional a ser executado nos próximos dez anos, em parceria com os diversos setores da sociedade", segundo propõem os organizadores.

Essa é a segunda grande conferência do gênero organizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia _a primeira foi em 1985. Desde então o Brasil aumentou sua participação na produção mundial de ciência, mas ainda importa muita tecnologia e não consegue traduzir o esforço de pesquisa na criação de inovações necessárias para estimular o desenvolvimento econômico.

Livro Verde

A conferência é restrita a convidados selecionados pelas instituições participantes. Para lastrear as discussões o ministério e a Academia Brasileira de Ciências produziram o "Livro Verde de Ciência, Tecnologia e Inovação", obra que procura mostrar um retrato detalhado do setor no país. O estudo envolveu mais de 400 pessoas, coordenadas pelos pesquisadores Cylon Gonçalves da Silva e Lúcia Carvalho Pinto de Melo.

O ministro da ciência e tecnologia, Ronaldo Sardenberg, lembra que a produção de artigos científicos por autores brasileiros têm crescido significativamente mais que a média mundial.

Poucos resultados

Esse esforço, entretanto, não se refletiu em inovações aproveitáveis pela indústria, agricultura e setor terciário, como demonstra o baixo gasto das empresas do país em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O gasto em P&D das empresas em percentagem do Produto Interno Bruto é de 2,2% nos EUA e de 1,8% na Coréia do Sul, mas apenas de 0,3% no Brasil.

Dois dos principais problemas para o desenvolvimento científico e tecnológico, e para sua aplicação na economia, são a baixa escolaridade média do brasileiro e a falta de investimento privado em pesquisa e desenvolvimento.

"O problema reside mais na falta de demanda, do que na falta de oferta de ciência e tecnologia", afirma o físico Cylon Gonçalves da Silva, que também é o responsável pela coordenação do programa da conferência.

"Você tem a capacidade instalada nas universidades para, se estimulada e cobrada, reagir e, frequentemente, com rapidez. Veja com que rapidez, quando foi preciso, o Brasil formou uma geração muito competente de engenheiros de telecomunicações, a partir de quase nada", diz da Silva, que até recentemente dirigiu a Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS), entidade que opera o mais importante equipamento da ciência do país, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), localizado em Campinas.

"A experiência do síncrotron mostra claramente as limitações dos investimentos privados em P&D no País. Usuários industriais do laboratório contam-se nos dedos de uma mão", afirma o físico.
As recomendações finais da conferência certamente vão incluir mecanismos de estímulo ao investimento privado em P&D.

Preocupação social

"A idéia da conferência é muito boa", diz a bioquímica Glaci Zancan, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), principal instituição representativa da comunidade científica.

"Nós gostaríamos de uma discussão para o livro branco voltada para o aspecto social", diz ela. "Ciência e tecnologia não podem se tornar mais um instrumento em prol da desigualdade", afirma a presidente da SBPC.

Dados no Livro Verde mostram que a escolaridade média do brasileiro cresceu, desde 1981, de apenas quatro anos para seis, o que representa metade do que se vê em um país em desenvolvimento como a Coréia do Sul.

"É um problema de conscientização da população de que, em uma nação democrática, ela tem mais do que o direito à educação, ela tem o dever também", declara da Silva. "O grande sucesso dos 'tigres asiáticos' provém em parte da papel que as famílias dão à educação dos filhos", conclui ele.

SERVIÇO

Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. 18 a 21 de setembro de 2001, só para convidados. Local: Americel Hall Academia de Tênis, SCES Trecho 4, lote 1B, Setor de Clubes Esportivos Sul, Brasília, DF. Tel.: 0/xx/61/447-5517 / Fax.: 0/xx/61/274-2962 / E-mail: conferencia@mct.gov.br
 

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