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05/10/2001 - 07h17

Nanotubo faz operações de computador

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A diferença entre carbono e silício já não serve mais para distinguir seres humanos de máquinas. Cientistas da Holanda construíram um circuito eletrônico utilizando como transistores arranjos montados com moléculas feitas de carbono. É mais um passo rumo à computação molecular _o uso de agrupamentos de átomos para processar informação.

Os pesquisadores da Universidade Tecnológica de Delft, liderados por Cees Dekker, já trabalham há um bom tempo em nanotecnologia _a criação de coisas cujas dimensões estão nos milionésimos de milímetro. O estudo, que será publicado na "Science" (só disponível on-line em www.sciencemag.org), é continuação de um trabalho anterior, publicado pela revista em julho.

Na primeira pesquisa, o grupo reportava a construção de um transistor feito a partir de um nanotubo de carbono. Agora, eles demonstram a viabilidade de um circuito completo, com até três transistores integrados.

O estudo reúne dois dos grandes ícones da tecnologia. O transistor, inventado em 1947 nos EUA, é a peça responsável pela existência dos computadores. É ele que traduz a corrente elétrica em "uns" e "zeros", a linguagem binária das máquinas.

Já o nanotubo de carbono é uma das grandes promessas da nanotecnologia. Composta por átomos de carbono encadeados na forma de uma tela de galinheiro enrolada, essa molécula apresenta potencial para uso em sensores, computadores moleculares, nanomáquinas e supercondutores.

Os experimentos demonstraram que o nanocircuito era capaz de realizar várias das chamadas operações lógicas booleanas (de George Boole, o matemático britânico que as desenvolveu, no final do século 19).

Exemplos desses operadores são o "AND" (E) e o "OR" (OU), usados entre outros programas por buscadores da internet. Quando alguém quer achar uma página que verse sobre Boole e transistores, pode fazer uma busca com o formato "Boole AND transistores". O resultado é a lista das páginas que contêm os dois termos. Se o usuário usasse "OR", a resposta seriam as páginas contendo um dos termos ou ambos.

Com variações mais sofisticadas, os operadores booleanos são capazes de controlar todos os processos lógicos das máquinas.

Bom e barato

A grande promessa dos nanotubos não é tanto a redução do tamanho do transistor (embora os tubos em si sejam bem menores que os transistores de silício, o conjunto pode não fazer muita diferença). O potencial maior é o barateamento dos circuitos.

"A idéia é que certos componentes (como transistores) possam ser sintetizados quimicamente. Esse seria um modo barato de fazer bilhões deles", disse à Folha Peter Hadley, um dos colaboradores de Dekker na pesquisa.

Uma solução contendo esses transistores moleculares seria espalhada sobre um circuito, e os transistores se prenderiam sozinhos nos locais corretos por causa de uma interação química entre o transistor e o circuito.

O pesquisador estima que as aplicações mais simples para os nanotubos em computação devem aparecer em três a cinco anos, em sensores moleculares. Para cálculo (o forte dos computadores atuais) será preciso bem mais que isso. "Provavelmente levará mais de 20 anos antes que qualquer tecnologia possa destronar o silício de sua posição dominante na computação", diz.
 

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