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24/10/2001
-
00h11
da Folha de S.Paulo
O destino da exploração humana em Marte nos próximos anos começa a ser decidido no início desta madrugada. Está prevista para os primeiros minutos do dia a entrada da sonda Mars Odyssey na órbita do planeta, após 200 dias e 460 milhões de quilômetros de viagem.
Se tudo tiver dado certo, a Nasa ficará apenas 20 minutos sem contato com a sonda, enquanto ela contorna o planeta para realizar sua primeira órbita.
Embora todos na agência espacial americana e no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) estejam otimistas, o retrospecto não é lá muito favorável. Das 30 tentativas já feitas pela Terra (incluindo missões americanas, soviéticas e uma japonesa) de enviar um artefato para Marte, menos da metade teve sucesso. E não há sinal de melhora ao longo dos anos.
Em 1976, as sondas Viking-1 e 2, da Nasa, foram bem sucedidas, fazendo o primeiro pouso na superfície do planeta. A missão americana seguinte, Mars Observer _com etiqueta de preço na casa dos bilhões, assim como as Vikings_ foi perdida em 1993.
Após a perda, a agência reestruturou seu programa, com base na filosofia "faster, better, cheaper" ("mais rápido, melhor, mais barato"). O princípio é simples: a Nasa deve fazer o dinheiro do contribuinte americano render mais. Em vez de construir uma supermissão por década, a idéia é fazer missões menos ambiciosas e mais eficientes, com maior frequência.
A estratégia, implementada pelo diretor Daniel Goldin (que renunciou ao cargo na semana passada e deve deixar o posto no mês que vem), começou com o pé direito. Em 1997, a Mars Pathfinder e seu robozinho Sojourner cativaram o mundo com novas imagens da superfície marciana. No mesmo ano, a Mars Global Surveyor entrou em órbita, enviando as melhores fotos já obtidas do planeta. Tudo por US$ 414 milhões.
Mas a história da exploração de Marte já havia dado a lição: cada caso é um caso. A dupla de sondas lançada em 1998, Mars Polar Lander e Mars Climate Orbiter, foi perdida em 1999, trazendo muitas dúvidas sobre a real eficiência do conceito "faster, better, cheaper".
A Odyssey é o próximo passo nessa escalada _e a sonda marciana mais cara desde a Observer, com custo de US$ 297 milhões.
E, apesar de a Nasa estar confiante, vale lembrar que todas essas perdas ocorreram na chegada ao planeta _situação que a Odyssey enfrenta nesta madrugada. E, para adicionar emoção, Marte está atualmente passando por uma tempestade de areia global, o que obrigaria a equipe do JPL a monitorar a atmosfera para compensar surpresas durante o processo de aerofrenagem.
"Isso começará três dias após fazermos a inserção orbital", disse à Folha Jeffrey Plaut, um dos coordenadores da equipe.
Todo o grupo, incluindo Daniel Goldin, estará reunido nesta madrugada no JPL, em Pasadena, Califórnia, para acompanhar a chegada da sonda. "E teremos equipes fazendo turnos 24 horas", conta Plaut.
Objetivos científicos
Se a Odyssey sobreviver à madrugada, terá tudo para cumprir um passo importante rumo ao planejamento de uma missão tripulada ao planeta. Um dos equipamentos da sonda medirá a quantidade de radiação presente no ambiente marciano.
Isso é fundamental para garantir a segurança dos pioneiros que futuramente visitarão o planeta. A atmosfera rarefeita de Marte não oferece muita proteção contra radiação solar a quem estiver no solo. Se astronautas um dia pretendem pôr os pés lá, precisam saber com o que estarão lidando.
Os instrumentos da sonda também estão à procura de água. A pesquisa dá prosseguimento ao intenso esforço promovido pela Nasa de encontrar algo vivo (ou fossilizado) no planeta vermelho.
"Tiraremos uma ou duas fotos na primeira semana, para testar a capacidade de monitorar a atmosfera", diz Plaut. "Mas os primeiros resultados científicos só devem vir em janeiro."
Nasa torce pelo destino da sonda Mars Odyssey
SALVADOR NOGUEIRAda Folha de S.Paulo
O destino da exploração humana em Marte nos próximos anos começa a ser decidido no início desta madrugada. Está prevista para os primeiros minutos do dia a entrada da sonda Mars Odyssey na órbita do planeta, após 200 dias e 460 milhões de quilômetros de viagem.
Se tudo tiver dado certo, a Nasa ficará apenas 20 minutos sem contato com a sonda, enquanto ela contorna o planeta para realizar sua primeira órbita.
Embora todos na agência espacial americana e no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) estejam otimistas, o retrospecto não é lá muito favorável. Das 30 tentativas já feitas pela Terra (incluindo missões americanas, soviéticas e uma japonesa) de enviar um artefato para Marte, menos da metade teve sucesso. E não há sinal de melhora ao longo dos anos.
Em 1976, as sondas Viking-1 e 2, da Nasa, foram bem sucedidas, fazendo o primeiro pouso na superfície do planeta. A missão americana seguinte, Mars Observer _com etiqueta de preço na casa dos bilhões, assim como as Vikings_ foi perdida em 1993.
Após a perda, a agência reestruturou seu programa, com base na filosofia "faster, better, cheaper" ("mais rápido, melhor, mais barato"). O princípio é simples: a Nasa deve fazer o dinheiro do contribuinte americano render mais. Em vez de construir uma supermissão por década, a idéia é fazer missões menos ambiciosas e mais eficientes, com maior frequência.
A estratégia, implementada pelo diretor Daniel Goldin (que renunciou ao cargo na semana passada e deve deixar o posto no mês que vem), começou com o pé direito. Em 1997, a Mars Pathfinder e seu robozinho Sojourner cativaram o mundo com novas imagens da superfície marciana. No mesmo ano, a Mars Global Surveyor entrou em órbita, enviando as melhores fotos já obtidas do planeta. Tudo por US$ 414 milhões.
Mas a história da exploração de Marte já havia dado a lição: cada caso é um caso. A dupla de sondas lançada em 1998, Mars Polar Lander e Mars Climate Orbiter, foi perdida em 1999, trazendo muitas dúvidas sobre a real eficiência do conceito "faster, better, cheaper".
A Odyssey é o próximo passo nessa escalada _e a sonda marciana mais cara desde a Observer, com custo de US$ 297 milhões.
E, apesar de a Nasa estar confiante, vale lembrar que todas essas perdas ocorreram na chegada ao planeta _situação que a Odyssey enfrenta nesta madrugada. E, para adicionar emoção, Marte está atualmente passando por uma tempestade de areia global, o que obrigaria a equipe do JPL a monitorar a atmosfera para compensar surpresas durante o processo de aerofrenagem.
"Isso começará três dias após fazermos a inserção orbital", disse à Folha Jeffrey Plaut, um dos coordenadores da equipe.
Todo o grupo, incluindo Daniel Goldin, estará reunido nesta madrugada no JPL, em Pasadena, Califórnia, para acompanhar a chegada da sonda. "E teremos equipes fazendo turnos 24 horas", conta Plaut.
Objetivos científicos
Se a Odyssey sobreviver à madrugada, terá tudo para cumprir um passo importante rumo ao planejamento de uma missão tripulada ao planeta. Um dos equipamentos da sonda medirá a quantidade de radiação presente no ambiente marciano.
Isso é fundamental para garantir a segurança dos pioneiros que futuramente visitarão o planeta. A atmosfera rarefeita de Marte não oferece muita proteção contra radiação solar a quem estiver no solo. Se astronautas um dia pretendem pôr os pés lá, precisam saber com o que estarão lidando.
Os instrumentos da sonda também estão à procura de água. A pesquisa dá prosseguimento ao intenso esforço promovido pela Nasa de encontrar algo vivo (ou fossilizado) no planeta vermelho.
"Tiraremos uma ou duas fotos na primeira semana, para testar a capacidade de monitorar a atmosfera", diz Plaut. "Mas os primeiros resultados científicos só devem vir em janeiro."
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