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09/10/2000 - 09h23

Índios do Canadá querem retomar DNA

KURT KLEINER
DA "NEW SCIENTIST" *

Membros de uma nação indígena no oeste do Canadá que doaram sangue para um estudo genético, quase 20 anos atrás, estão exigindo suas amostras de volta. Eles afirmam que o cientista coletor das amostras, hoje um professor da Universidade de Oxford, usou-as sem consentimento para uma pesquisa diferente.

"Eu assinei um papel liberando meu sangue para pesquisa de artrite. Não havia menção a qualquer outro tipo de pesquisa. Quero-o de volta", diz Larry Baird, chefe da Primeira Nação Ucluelet, parte do povo Nuu-chah-nulth.

"Essa é uma questão importante sobre consentimento esclarecido, contar uma coisa às pessoas e fazer algo diferente", diz Michael McDonald, do Centro de Bioética Aplicada da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC, no Canadá). "É um problema sério com as populações indígenas no mundo todo. Eles estão muito bravos."

O pesquisador que coletou as amostras, Ryk Ward, chefe do departamento de antropologia biológica da Universidade de Oxford, afirmou em comunicado escrito: "É prática comum reter amostras para potencial uso em pesquisa posterior. No entanto, todos aqueles que doaram sangue (...) podem, a qualquer momento, retirar seu consentimento".

Ward ofereceu-se para destruir as amostras ou repassá-las a outro depositário. O pesquisador, então trabalhando na UBC, havia coletado amostras de 883 membros do grupo no início dos anos 80. Ele buscava marcadores genéticos de um tipo incomum de artrite.

Num trabalho publicado na década de 90, porém, Ward usou algumas das amostras para analisar a diversidade genética entre os Nuu-chah-nulth, relacionando-a com a maneira e a época em que humanos povoaram as Américas.

Na revista "PNAS" (vol. 88, pág. 8.720), ele diz que o material usado havia sido coletado "como parte de um estudo biomédico" entre 1984 e 1986.

Muitos meses depois, David Wiwchar, do Conselho Tribal Nuu-chah-nulth e do jornal "Ha-Shilth-Sa", publicou um artigo parcialmente baseado na pesquisa de Ward. Membros da comunidade, reconhecendo Ward como o coletor de amostras para o estudo de artrite, levaram a questão ao conselho tribal.

O conselho mostrou à "New Scientist" cópia de um dos formulários de consentimento de Ward, assinado em 1983, que menciona apenas artrite e outras doenças reumáticas. Membros do conselho afirmam que Ward nunca solicitou consentimento adicional.

Richard Spratley, da UBC, diz que, com base no formulário original de consentimento, a universidade teria requisitado a Ward que obtivesse permissão adicional para conduzir outros estudos. No entanto, quando começou a pesquisa sobre diversidade genética, Ward já estava trabalhando na Universidade de Utah (EUA).

Arthur Caplan, especialista em ética da Universidade da Pensilvânia, não vê problema, desde que ninguém seja identificado. "A não ser que se possa mostrar que houve dano, ofensa ou usurpação dos direitos de alguém, nada vai acontecer legalmente."

Baird afirma que o conselho tribal vai decidir esta semana que medidas tomar. "Talvez uma delegação da Primeira Nação na sua soleira em Oxford possa ajudar."

* Texto publicado na edição de hoje da Folha

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