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12/11/2001 - 08h40

Cientistas conseguem "transformar" células da íris em retina

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

Uma equipe de cientistas da Universidade de Kyoto, no Japão, realizou com sucesso um experimento que pode tornar o transplante de retina um tratamento viável no futuro para curar alguns casos de cegueira.

Usando olhos de ratos, os cientistas conseguiram transformar uma cultura de tecido extraído da íris em neurônios fotorreceptores, as células responsáveis por captar a luz no aparelho visual.

A descoberta é considerada importante porque as células fotorreceptoras da retina, assim como neurônios ligados a elas, são incapazes de se regenerar quando lesionadas. Usar células da íris para repô-las seria uma forma de devolver a visão a pessoas com problemas como retinopatia diabética, lesões na mácula (centro da retina) ou doenças hereditárias.

A realização dos japoneses foi possível porque a íris e a retina derivam das mesmas células, que formam a camada interna do globo ocular em embriões.

Para induzir características fotorreceptoras no tecido extraído da íris, o grupo, liderado pela cientista Masayo Takahashi, separou as células em uma cultura artificial semelhante ao meio embrionário que promove a diferenciação do tecido retiniano. Com isso, produziram novas células, que reagiam a impulsos nervosos, mas ainda assim não eram sensíveis à incidência de luz.

Para completar o experimento, Takahashi usou um vírus alterado para introduzir nessas células as proteínas responsáveis pelo desenvolvimento das características das células retinianas.

Apesar do sucesso obtido, a possibilidade de uso clínico da técnica ainda parece distante. "Não podemos obter células suficientes para um transplante, ainda. Talvez devamos fazer as células da íris proliferarem, antes de induzi-las à fotorrecepção", disse Takahashi, por e-mail, à Folha.

A pesquisadora afirma que deve tentar agora transplantar as células que se tornou capaz de criar. "Planejamos fazer experimentos em animais", afirma. Um artigo sobre seu estudo foi publicado no site da revista "Nature Neuroscience" (neurosci.nature.com).

Ligações nervosas

Para o oftalmologista Fausto Uno, pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o trabalho de Takahashi abre novas possibilidades, mas transplantes de retina ainda enfrentam dificuldades técnicas. "Transplantar um fotorreceptor seria complicado. Seria necessário ligar cada uma das células na conexão nervosa certa", diz.

Hoje, o único tratamento existente é o laser, que estimula a reação de fotorreceptores inativos. "Mas o laser não faz milagre", diz Uno. Na cegueira provocada por diabetes, por exemplo, o sucesso do tratamento depende de quão rápido o problema é encontrado.

Para Uno, pesquisas com outros alvos, como uma prótese cibernética, poderão chegar antes à solução para a cegueira de retina.
 

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