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22/11/2001 - 07h21

Olho biônico terá teste até o final do ano

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

Uma equipe de médicos da USC (Universidade do Sul da Califórnia), nos EUA, deve implantar nas próximas semanas as primeiras próteses eletrônicas permanentes para tentar devolver a visão a pacientes com cegueira de retina.

O estudo está sendo conduzido por pesquisadores do Doheny Eye Institute de Los Angeles (Costa Oeste dos EUA), ligado à UCS, e engenheiros da empresa Second Sight, criada só para esse projeto.

Em 13 anos de pesquisas, os cientistas desenvolveram diversos protótipos do chamado olho biônico e, neste ano, chegaram a um modelo composto de câmera, conversor de impulsos elétricos e placa de eletrodos ligada à retina do paciente.

Um dos três médicos do projeto é o oftalmologista brasileiro Gildo Fujii, 30, responsável pela técnica cirúrgica de implantação da prótese. O programa é coordenado pelo norte-americano Mark Humayun, que começou a desenvolvê-lo na Universidade Johns Hopkins, de Baltimore (Costa Leste).

Há quatro anos, os cientistas fizeram os primeiros testes de sensibilidade da retina aos eletrodos em 14 voluntários cegos. "Você fazia o implante, mas logo depois do teste tirava do olho do paciente", conta Fujii. "Como eles não receberam anestesia geral, puderam comunicar durante a cirurgia o que estavam vendo."

O protótipo inicial testado proporcionou aos pacientes uma definição de visão bastante rudimentar, com apenas 16 pixels (pontos que formam uma imagem, como numa tela de computador). Diante de 1 milhão de terminações nervosas do olho humano que processam pontos luminosos, 16 pontos parecem pouco, mas foram suficientes para incentivar os cientistas a continuar.

Há um mês e meio, o grupo obteve autorização da FDA (agência de fármacos e alimentos dos EUA) para realizar os testes de um novo modelo da prótese eletrônica em três pacientes. Mas não revelam o número de pixels na placa de eletrodos do novo aparelho. "Vamos implantar o máximo que pudermos", diz Fujii. "A resolução do olho humano é altíssima, e a gente não espera que o paciente vá alcançar a mesma resolução. Esperamos que ele consiga ter resolução suficiente para identificar formas e, talvez, até pessoas."

A prótese não serviria para qualquer tipo de cegueira. Como o modelo funciona por estímulos elétricos, seu uso seria possível apenas em pacientes que tenham as terminações nervosas na retina (células ganglionares) ainda vivas, apesar de suas células da camada fotorreceptora estarem mortas. É o comum em vítimas de doenças como retinose pigmentar, degeneração macular senil e retinopatia diabética.

O grande problema dessas doenças é que todas causam a morte de fotorreceptores, células incapazes de regeneração. Pacientes com outras doenças oculares graves, como glaucoma e catarata, podem ser tratados. Para eles, a prótese não seria recomendável.

O primeiro voluntário a receber a prótese permanente, com identidade ainda em segredo, será um deficiente visual com retinose pigmentar. Trata-se de doença no epitélio pigmentado, a camada da retina que capta os nutrientes levados pela corrente sanguínea.

Modelo canino

Para encontrar uma prótese que fosse segura e um método de cirurgia viável, os cientistas tiveram de superar diversos problemas, como infecção no globo ocular e descolamento de retina. "Trabalhamos muito com o modelo canino, porque o cachorro tem tamanho e anatomia do globo ocular muito semelhantes aos do olho humano", conta Fujii.

Enquanto o trabalho de implantação da prótese progride, os engenheiros já trabalham numa nova geração da prótese, que não usará fios. A transmissão da câmera para a placa de eletrodos será feita via frequência de rádio.

Um entusiasta da pesquisa do grupo é o cantor Stevie Wonder, 51, que tem cegueira de retina de nascença. "Ele está sempre entrando em contato para saber o andamento da pesquisa", diz Fujii, que o descreve como um "potencial doador" de fundos.

Fujii se formou na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e mudou para os EUA há três anos, quando foi escolhido para integrar a equipe de Humayun, ainda Na Universidade Johns Hopkins.

"Nós estamos bastante otimistas", diz Fujii. "Se os resultados forem bons, a gente vai ampliar o número de pacientes."
 

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