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29/11/2001 - 09h51

Novo estudo alerta para poluição genética em milhos mexicanos

MARCELO LEITE
da Folha de S.Paulo

Desta vez a denúncia de poluição genética não partiu de uma organização não-governamental, nem foi anunciada no calor de uma entrevista coletiva. Saiu na publicação científica britânica "Nature": variedades mexicanas tradicionais de milho foram contaminadas com DNA de plantas transgênicas.

Uma constatação tanto mais importante porque o México faz parte da origem geográfica das plantas ancestrais do milho hoje plantado no mundo todo. Esse estoque de diversidade genética deveria ser preservado, pois pode ser útil para criar novas variedades, por cruzamentos, no futuro.

O artigo traz nova evidência, agora com a chancela da "peer review" (revisão por pares, espécie de controle de qualidade científica), de que organismos geneticamente modificados (OGMs), uma vez postos no ambiente, se comportam como bem entendem -e não como os manuais de biossegurança prescrevem.

David Quist e Ignacio Chapela, que assinam o trabalho e pesquisam na Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), alertam que a contaminação genética foi verificada dois anos depois da moratória no plantio de milho transgênico baixada pelo governo mexicano (em 1998). Ou seja, não deveria haver pólen de OGMs voando pela Sierra Norte do Estado de Oaxaca (sul do México).

Eles provaram que há, sim. E o pólen estava presente a pelo menos 20 km da estrada principal que corta as montanhas, num lugar remoto do município de Ixtlán, onde coletaram as espigas de milho "criollo" para teste.

O DNA de seus grãos foi comparado com o de outra amostra, de milho distribuído como alimento subsidiado pela agência governamental mexicana Diconsa. E, também, com alguns grãos de variedades antigas, historicamente preservadas, de milho do Peru e da própria região de Sierra Norte. Esta última amostra havia sido guardada desde 1971, quando não existiam transgênicos.

Quatro amostras de milho "criollo" mostraram sinais inequívocos, ainda que fracos, de DNA de origem transgênica. Segundo Quist e Chapela, a debilidade do sinal genético decorre de terem examinado todos os grãos de cada espiga ao mesmo tempo.

Cada grão é produto da fertilização de um óvulo por um grão de pólen individual, portanto a mesma espiga pode ter grãos transgênicos e não-transgênicos. Outra pesquisa, patrocinada pelo governo mexicano, havia examinado grãos individuais e verificado que a contaminação por OGMs é da ordem de 3% a 10%.

"Nossos resultados demonstram que há um alto nível de fluxo gênico do milho industrialmente produzido para as populações de variedades tradicionais progenitoras. Como nossas amostras se originaram de áreas remotas, é de esperar que regiões mais acessíveis estarão expostas a taxas mais altas de contaminação", escrevem os autores na "Nature" de hoje.

"A liberação intencional de grandes quantidades de sementes transgênicas comerciais no ambiente desde meados dos anos 90 representa oportunidade única para rastrear o fluxo de material genético por regiões biogeográficas, assim como uma influência importante no futuro genético do sistema alimentar global."
 

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