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21/12/2001 - 08h38

Revista 'Science' elege 10 maiores conquistas científicas de 2001

DONALD KENNEDY
especial para a Folha de S.Paulo

A cada ano, os editores da "Science" se reúnem para examinar indicações para o Avanço do Ano. Sempre é desafiador abordar uma seleção de novas descobertas, mas este ano tivemos uma tarefa particularmente difícil: encontrar um ato de ciência com brilho suficiente para suceder o sequenciamento do genoma da mosca Drosophila. Ela não só levou o prêmio do ano passado como iniciou uma rica sucessão de projetos similares, a começar pelo rascunho do genoma humano.

Os sucessos que se seguiram comparecem como um dos itens na arca de tesouros científicos deste ano, que parece estar tão carregada quanto há um ano. A lista de indicações (veja quadro à direita) inclui peças que vão da nanotecnologia à história do clima, da condução de axônios à supercondutividade.

Parte do entusiasmo vem do campo da estrutura e da função moleculares. Um antigo professor de bioquímica dizia que, à medida que a ciência progride, a sua disciplina terminaria se transformando em anatomia: quando a função se acha suficientemente reduzida, afirmava, é de estrutura que se passa a tratar.

Bem, chegamos lá. Entre os avanços emocionantes deste ano está uma visão íntima de como a estrutura da enzima polimerase de RNA lhe permite receber o molde do DNA e emitir o RNA recém-sintetizado no mesmo poro.

Outro avanço demonstrou, como aprendemos com o ribossomo, que o próprio RNA (e não a proteína que o acompanha) age como uma enzima [catalisador de reações". Isso aumenta a chance de que um mundo de RNA tenha precedido o de DNA que aprendemos a conhecer e amar.

Outras moléculas

Algumas revelações dramáticas das estruturas no nível molecular vieram não da biologia, mas da física da matéria condensada e da ciência dos materiais, contribuindo para a formação de uma nova disciplina, já notoriamente conhecida como nanotecnologia. Os avanços vieram de vários campos: microscópios de varredura, tecnologias para produzir nanotubos de carbono e nanocabos de vários materiais e novos compostos orgânicos que se prestam a montagens condutoras.

Em conjunto, essas formas de criar e trabalhar com estruturas de escala molecular se combinaram para nos dar o Avanço do Ano. No entanto, o avanço não é dos próprios dispositivos, ainda que o trabalho que os produziu mereça muitos elogios. Ele se aplica à realização extraordinária de combiná-los em circuitos que podem de fato realizar operações lógicas: amplificar sinais, inverter fluxos de corrente e até realizar tarefas de computação simples.

As possibilidades são notáveis, porque a escala é de milésimos do que está incorporado nos melhores chips de computador contemporâneos. Daí se vislumbra, naturalmente, uma nova geração de poderosos e minúsculos computadores. Chegar lá tem tudo para ser uma jornada longa e acidentada, porque as escalas de produção e os custos econômicos serão provavelmente formidáveis.

Com efeito, não temos a menor idéia do que será uma instalação fabril num nanomundo pós-silício. Mas, nos minúsculos porém funcionais circuitos que os cientistas criaram este ano, há algo de comprovação de um princípio, e isso é decerto um avanço.

O que virá em seguida? A cada ano tentamos escolher alguns vencedores e, no ano seguinte, temos a tarefa humilde de verificar como nos saímos. A retrospectiva deste ano para a bola de cristal do ano passado resulta numa avaliação mista. Por exemplo, acertamos na interferência do RNA, porque o ano revelou-se repleto de pedacinhos de RNA.

No entanto, e apesar das preocupações com as doenças infecciosas e com a infra-estrutura de saúde pública após o ataque de 11 de setembro, a produção científica sobre as principais doenças e o desenvolvimento de vacinas foi decepcionantemente escassa.

Como nos sairemos no próximo ano? Pode apostar nos seus favoritos. Meus colegas gostam de relógios ópticos e prevêem um grande ano para telescópios, sejam eles reais ou virtuais. Estão também de olho na proteômica, mas vai ser difícil destacar-se nela: todo mundo gosta dessa área, que parece ser a preferida da indústria biotecnológica.
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Donald Kennedy é editor da revista científica norte-americana "Science" (www.sciencemag.org)
 

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