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07/01/2002
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03h42
free-lance para Folha
Até pouco tempo atrás, os neurônios (células nervosas) eram considerados incapazes de regeneração -uma vez mortos numa pessoa adulta, outros não tomariam seu lugar.
Hoje sabe-se que áreas do cérebro podem produzi-los, mas em pequena escala. É para driblar essa limitação e combater doenças que pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro transformaram células-tronco em novos neurônios.
As células-tronco são encontradas em embriões no início de seu desenvolvimento, na medula óssea ou em outras áreas do corpo com alta produção de novas unidades celulares. Elas podem ser definidas como células em potencial: são capazes de se diferenciar em células maduras de praticamente qualquer tecido (muscular, epitelial ou nervoso).
É por serem "células-curinga" que elas atraíram a atenção dos pesquisadores da UFRJ. No caso das doenças degenerativas que atacam os neurônios cerebrais, como o mal de Parkinson, as células-tronco poderiam recuperar áreas teoricamente condenadas.
O problema, diz a médica Rosalia Mendez Otero, 47, coordenadora do projeto, é entender o que induz a transformação das células-tronco nos temperamentais neurônios. "Nós estamos lidando com duas coisas que são muito novas: os mecanismos que levam essas células a se diferenciarem e o conhecimento sobre a regeneração dos neurônios", explica.
Em camundongos e ratos, a equipe de Otero já conseguiu induzir a diferenciação das células-tronco em neurônios, embora ainda em pequenas quantidades. A matéria-prima para o feito veio da medula óssea dos próprios roedores doentes.
Usar a medula óssea do próprio indivíduo afetado como fonte de células-tronco tem uma vantagem óbvia: com material genético próprio, os riscos de rejeição inexistem. Outras opções exploradas pelo grupo de Otero são as células-tronco da medula espinhal ou do cérebro de indivíduos mortos.
"Nesse último caso, as células podem ser transplantadas em até 12 horas depois da morte, embora possam ocasionar problemas de rejeição", afirma a médica.
Essas células-tronco vêm do hipocampo (região cerebral ligada à memória) e do bulbo olfatório (responsável pela identificação dos odores) -as únicas áreas do cérebro que, por motivos até agora mal compreendidos, ainda as produzem.
Testes em pacientes
De acordo com Otero, os testes com seres humanos ainda demorarão para acontecer no projeto, que tem prazo de duração de três anos.
"Encaminhar o desenvolvimento das células-tronco de maneira que elas se tornem neurônios é mais difícil do que com células musculares ou da pele", afirma, citando os outros projetos do Instituto do Milênio.
O Instituto, organização que reúne 90 pesquisadores e recebe apoio financeiro do Ministério da Ciência e Tecnologia, conduz outros projetos com células-tronco para regeneração de tecidos epiteliais ou do coração.
Para Otero, a incapacidade de trabalhar com células-tronco embrionárias, consideradas uma grande possibilidade de avanços nessa área, mas proibidas pela legislação brasileira, não corresponde a uma limitação.
"Já temos duas vertentes para explorar, e não é necessário seguir outra. O que não pode parar é a pesquisa para entender essas células, já que se sabe tão pouco sobre elas."
Células-tronco viram neurônios em roedor
REINALDO JOSÉ LOPESfree-lance para Folha
Até pouco tempo atrás, os neurônios (células nervosas) eram considerados incapazes de regeneração -uma vez mortos numa pessoa adulta, outros não tomariam seu lugar.
Hoje sabe-se que áreas do cérebro podem produzi-los, mas em pequena escala. É para driblar essa limitação e combater doenças que pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro transformaram células-tronco em novos neurônios.
As células-tronco são encontradas em embriões no início de seu desenvolvimento, na medula óssea ou em outras áreas do corpo com alta produção de novas unidades celulares. Elas podem ser definidas como células em potencial: são capazes de se diferenciar em células maduras de praticamente qualquer tecido (muscular, epitelial ou nervoso).
É por serem "células-curinga" que elas atraíram a atenção dos pesquisadores da UFRJ. No caso das doenças degenerativas que atacam os neurônios cerebrais, como o mal de Parkinson, as células-tronco poderiam recuperar áreas teoricamente condenadas.
O problema, diz a médica Rosalia Mendez Otero, 47, coordenadora do projeto, é entender o que induz a transformação das células-tronco nos temperamentais neurônios. "Nós estamos lidando com duas coisas que são muito novas: os mecanismos que levam essas células a se diferenciarem e o conhecimento sobre a regeneração dos neurônios", explica.
Em camundongos e ratos, a equipe de Otero já conseguiu induzir a diferenciação das células-tronco em neurônios, embora ainda em pequenas quantidades. A matéria-prima para o feito veio da medula óssea dos próprios roedores doentes.
Usar a medula óssea do próprio indivíduo afetado como fonte de células-tronco tem uma vantagem óbvia: com material genético próprio, os riscos de rejeição inexistem. Outras opções exploradas pelo grupo de Otero são as células-tronco da medula espinhal ou do cérebro de indivíduos mortos.
"Nesse último caso, as células podem ser transplantadas em até 12 horas depois da morte, embora possam ocasionar problemas de rejeição", afirma a médica.
Essas células-tronco vêm do hipocampo (região cerebral ligada à memória) e do bulbo olfatório (responsável pela identificação dos odores) -as únicas áreas do cérebro que, por motivos até agora mal compreendidos, ainda as produzem.
Testes em pacientes
De acordo com Otero, os testes com seres humanos ainda demorarão para acontecer no projeto, que tem prazo de duração de três anos.
"Encaminhar o desenvolvimento das células-tronco de maneira que elas se tornem neurônios é mais difícil do que com células musculares ou da pele", afirma, citando os outros projetos do Instituto do Milênio.
O Instituto, organização que reúne 90 pesquisadores e recebe apoio financeiro do Ministério da Ciência e Tecnologia, conduz outros projetos com células-tronco para regeneração de tecidos epiteliais ou do coração.
Para Otero, a incapacidade de trabalhar com células-tronco embrionárias, consideradas uma grande possibilidade de avanços nessa área, mas proibidas pela legislação brasileira, não corresponde a uma limitação.
"Já temos duas vertentes para explorar, e não é necessário seguir outra. O que não pode parar é a pesquisa para entender essas células, já que se sabe tão pouco sobre elas."
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