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14/01/2002 - 09h49

Células-tronco podem ser usadas para fixar próteses metálicas

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) estão testando em laboratório uma nova técnica para auxiliar a adaptação de próteses metálicas em pacientes com fraturas. Usando células-tronco (que assumem a função de qualquer tecido), eles querem criar um cimento celular entre a prótese e os ossos, evitando novo desgaste ósseo.

O croata Radovan Borojevic, biólogo da UFRJ e coordenador da pesquisa, tem experiência no trabalho com células-tronco. Sua equipe já desenvolveu com sucesso uma técnica para recuperar a pele de pacientes com queimaduras de terceiro grau usando esse tipo de estrutura celular."Dois pacientes são atendidos por semana no Hospital da Aeronáutica, aqui no Rio, usando nossa técnica", afirma Borojevic.

As células-tronco estão entre as vedetes da medicina do futuro. Encontradas em áreas do organismo responsáveis por grande produção celular, como a medula óssea, não possuem uma função definitiva fixada. Sob os estímulos certos, elas se transformam em células de tecido muscular, ósseo ou mesmo nervoso.

No tratamento desenvolvido por Borojevic, células-tronco retiradas das camadas mais profundas da pele do próprio paciente ou de sua medula óssea -evitando assim riscos de rejeição- mostraram uma capacidade espantosa de crescimento: um centímetro quadrado de epiderme implantada, depois de poucas semanas, originou um metro quadrado de pele.

Os testes para utilizar as células-tronco no tratamento de fraturas em ossos grandes, como o fêmur, foram motivados pelos grandes inconvenientes das próteses metálicas. "Em geral, a prótese é cimentada no osso com uma cola inorgânica", explica Borojevic.

Ponto de desgaste

"Depois de algum tempo, quando o efeito dela passa, começa a haver atrito entre o metal e o osso, que se corrói. Isso obriga o paciente, no fim das contas, a trocar sua prótese por uma maior."

Se células-tronco forem usadas para integrar prótese e osso, o problema desaparece, já que as células se transformam em tecido e se forma um calo ósseo, cobrindo a extremidade do metal. Se obtiver sucesso, a técnica será ideal para pacientes com osteoporose, que são mais sujeitos a fraturas e, por causa da idade, têm menor capacidade de recuperação óssea.

A equipe de Borojevic também vai iniciar, este mês, testes clínicos para recuperar a cartilagem do joelho de pacientes usando células-tronco. "A técnica poderá ser aplicada tanto em pacientes jovens, que adquiriram esse problema em atividades esportivas, quanto em pessoas feridas em acidentes de carro", diz o biólogo.

Para Borojevic, a pesquisa com células-tronco ainda tem vasto campo a explorar, sem necessidade de usar tecidos embrionários, procedimento questionado no mundo todo e proibido pela Lei de Biossegurança no Brasil.

"O embrião doador é um indivíduo geneticamente distinto do receptor das células, o que já representa problemas", diz o cientista, embora concorde que a pesquisa com células-tronco embrionárias tem um potencial importante: "É relativamente óbvio que as células de embriões são mais maleáveis que células idosas", diz Borojevic.

Outra alternativa, de acordo com ele, é armazenar o sangue que circula entre o feto e a placenta na hora do parto, também cheio de células-tronco. "Isso poderia ser transformado num banco de células para o indivíduo por toda a vida", afirma.

O efeito desse último tipo de células é bem conhecido em laboratório. "Um camundongo já velho que recebe células-tronco da sua própria placenta melhora todas as suas funções vitais", afirma.
 

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