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17/01/2002 - 09h32

Pesquisadores encontram bactéria do câncer gástrico no fígado

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) encontraram a bactéria Helicobacter pylori, uma vilã já implicada em casos de úlcera e câncer no estômago, no fígado humano.

A mera presença do microrganismo ali já seria uma surpresa, pois ele está mais acostumado à ácida mucosa do estômago. Mas os cientistas mineiros também estão estudando uma possível correlação do micróbio com a cirrose hepática, grave doença do fígado.

A Helicobacter, quando foi encontrada pela primeira vez no estômago humano, surpreendeu os cientistas: ninguém pensava que algo sobrevivesse ao suco gástrico, que tem pH (nível de acidez) entre 1 e 2 (quanto menor o pH, mais ácido) e possui em sua composição o ácido clorídrico.

Acontece, porém, que boa parte dos estômagos na população tem o micróbio -para ser mais exato, 60% deles, de acordo com uma pesquisa feita pela UFMG em Belo Horizonte. "Entre 10% e 15% dos portadores da bactéria poderão desenvolver uma úlcera e 1% deles poderão ter câncer", afirma Dulciene Queiroz, da Faculdade de Medicina da UFMG.

Queiroz, que pesquisa a Helicobacter desde 1986 e coordena os estudos que isolaram o microrganismo no fígado, explica que a simples presença da bactéria não basta para causar doenças. "É uma cadeia de eventos que depende de fatores genéticos, da relação da bactéria com o hospedeiro e da dieta", diz a pesquisadora.

No estômago e no duodeno (porção superior do intestino delgado), a infecção pela bactéria pode causar uma inflamação séria da mucosa e, em casos extremos, induzir uma mutação, o que causaria o câncer. "É difícil dizer qual dos fatores é mais importante para isso, mas quem não tem a bactéria muito dificilmente terá câncer", afirma Queiroz.

A equipe da UFMG começou a desconfiar que a H. pylori poderia estar envolvida em casos de doenças hepáticas ao isolar a bactéria no fígado. A descoberta foi publicada na revista especializada norte-americana "Gastroenterology" (www.gastrojournal.org) em outubro do ano passado.

Os pesquisadores passaram, então, a examinar amostras do tecido hepático (do fígado) de cem pacientes que tinham esses órgãos contaminados com o vírus da hepatite C. Além disso, certos membros desse grupo também haviam desenvolvido cirrose como uma complicação da hepatite.

Praticamente todos os pacientes com cirrose tinham a H. pylori em seu fígado, de acordo com Queiroz. A pesquisadora considera provável que a bactéria tenha chegado até lá vindo do duodeno, que se liga ao fígado pelo canal biliar. Pode ser uma pista, que os pesquisadores mineiros ainda precisam confirmar com mais testes, de uma relação entre a bactéria e a cirrose.

Os médicos entrevistados pela Folha dizem que a presença da bactéria no fígado é surpreendente. "Eu nunca ouvi falar de algo parecido", diz Hoel Sette Júnior, do hospital Emílio Ribas.

Antibióticos ajudam

Uma pesquisa divulgada pela médica americana Juanita Merchant confirma a relação entre a H. pylori e a úlcera no estômago. Ela descobriu, ainda, que o uso de antiácidos para tratar o problema pode favorecer outras bactérias. O ideal seria tomar antibióticos.
 

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