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18/01/2002 - 05h26

Capa de gelo antártica está engrossando

CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo

Aqueles que se preocupam com o derretimento das calotas polares e sua pior consequência, a elevação no nível do mar, podem dormir mais tranquilos. Uma dupla de pesquisadores dos EUA afirma que a capa de gelo ocidental da Antártida está engrossando, não afilando, como se imaginava.

A descoberta, publicada hoje na revista norte-americana "Science" (www.sciencemag.org), é resultado de novas medições de satélite das chamadas correntes de gelo, imensos rios glaciais que drenam a calota polar. O achado pode representar uma reversão nas previsões sobre o futuro do clima no planeta.

Os dados, obtidos pelo americano Ian Joughin, da Nasa (agência espacial dos EUA), e pelo polonês Slawek Tulaczyk, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, mostram que parte dessas correntes, que desembocam na plataforma de Ross (oeste da Antártida), está fluindo mais devagar ou simplesmente parou, represando gelo suficiente para aumentar a espessura da calota polar.

"É algo completamente contra-intuitivo, e foi isso o que mais nos animou no estudo", disse Tulaczyk à Folha, por telefone.

Ocupando uma área equivalente à do México e retendo 13% de todo o gelo do sexto continente, a capa de gelo antártico ocidental (conhecida pela sigla inglesa Wais) é uma das maiores preocupações dos glaciologistas.

Desde o fim da última glaciação, há cerca de 10 mil anos, ela já se retraiu 1.300 km. Se derretida, elevaria o nível médio dos mares em até seis metros, arrasando parte das zonas costeiras do planeta. As últimas previsões afirmam que isso aconteceria em 4.000 anos, mas o aquecimento global -que poderá ser de até 5,8C neste século- aceleraria o processo.

Na semana passada, pesquisadores britânicos estimaram que a probabilidade de desintegração era de 5% nos próximos 200 anos.

Os dados coletados por Joughin e Tulaczyk afirmam que, pelo menos para uma parte da Wais, essa tendência está se revertendo. Eles analisaram as correntes de gelo de Ross, uma espécie de sistema de descarga da calota. Esse sistema é formado por seis grandes rios congelados, que fluem à velocidade média de 0,5 km por ano.

Um desses rios, chamado corrente de gelo C, parou de correr há cerca de 150 anos. Um outro, a corrente Whillans, está se desacelerando e pode parar em 70 anos. Somadas, hoje, as seis correntes estão adicionando 26,8 bilhões de toneladas de gelo à Wais por ano.

Um estudo anterior, de 1987, calculou que o balanço de massa (diferença entre o que uma geleira ganha por precipitação de neve e o que perde por descarga) era de menos 20,9 bilhões de toneladas/ ano, indício de retração da calota e de elevação anual de 0,06 mm no nível médio dos oceanos.

Se Whillans parar, a quantidade de gelo represado sobe para 57 bilhões de toneladas, rebaixando o nível do mar. "Não sei qual é o equivalente disso no Brasil, porque vocês têm rios imensos aí. Mas, para padrões americanos, é quase como barrar o rio Missouri [segundo do país]", diz Tulaczyk.
 

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