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21/01/2002 - 11h56

Mulher fareja genes do pai em camisetas de desconhecidos

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Um grupo de mulheres conseguiu indiretamente detectar genes herdados de seus pais ao literalmente cheirá-los em camisetas suadas de homens desconhecidos. O experimento, feito com 49 mulheres de origem alemã e austríaca, mostrou que elas preferem os cheiros desses homens por causa de genes que elas herdaram dos pais, mas não das mães.

"As mulheres podem realmente farejar diferenças genéticas. Elas podem farejar diferenças tão pequenas quanto um único gene", diz a pesquisadora Martha K. McClintock, da Universidade de Chicago, co-autora do trabalho. O artigo descrevendo a pesquisa está sendo publicado na edição de fevereiro da revista "Nature Genetics" (www.nature.com/ng).

McClintock é uma das principais especialistas em odores humanos. Em 1971, ainda estudante na Universidade Harvard, ela descobriu que mulheres vivendo juntas muitas vezes menstruam ao mesmo tempo, a chamada sincronia na menstruação. Mais recentemente ela e a colega Kathleen Stern anunciaram a descoberta de dois hormônios humanos ligados à atração sexual pelo odor, os "feromônios", e o modo como controlam a sincronia menstrual.

Os genes pesquisados no estudo são sequências de material genético que têm um papel fundamental tanto nas preferências olfativas como na defesa do organismo. Os genes HLA (sigla em inglês para antígeno de leucócito humano) permitem ao organismo distinguir entre células do corpo e aquelas invasoras.

Existem milhões de combinações desses genes HLA. Os experimentos envolveram seis homens escolhidos pelos tipos de gene que tinham, apresentando alguns em comum com as mulheres que provariam seus cheiros.

Os "doadores de odor" (como o estudo se refere a eles) usaram a mesma camiseta dois dias seguidos, durante os quais tinham de se abster de alimentos que pudessem afetar seu cheiro (como alho). Tampouco podiam chegar perto de fumantes ou animais.

As camisetas foram cortadas e colocadas em caixas de papel com aberturas triangulares para pôr o nariz. As participantes tinham então de responder qual odor escolheriam, e qual não, se tivessem de senti-los o tempo todo.

"Nosso objetivo não era medir por qual cheiro as mulheres se sentiriam sexualmente atraídas, mas qual gostariam de ter perto o tempo todo", diz McClintock.

Depois de cheiradas as amostras -que também incluíam odores suaves não-humanos, como água sanitária ou cravo-da-Índia, para controlar as respostas- foram comparados os genes das mulheres cheiradoras com os dos homens cheirados.

O resultado foi que as mulheres escolheram cheiros de homens com genes não muito diferentes nem muito semelhantes aos delas, mas com uma posição intermediária. Comparados com os genes dos pais e mães, foi constatada a relação com os genes paternos.

A equipe procurou demonstrar que a escolha dos genes pelo cheiro não estava ligada a mecanismos ambientais ou de desenvolvimento. Mas não foi totalmente afastada a hipótese de que exposições ambientais aos odores possam de algum modo também afetar o padrão das escolhas feitas pelas voluntárias.
 

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