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24/01/2002 - 09h40

Grupo diz ter encontrado "célula perfeita"

SYLVIA PAGÁN WESTPHAL
da "New Scientist"

Ela pode se tornar a célula mais importante já descoberta. Trata-se de uma célula-tronco encontrada em adultos que pode se transformar em qualquer tecido no corpo humano.

Até agora, achava-se que somente células-tronco de embriões recém-formados tivessem essa capacidade. Se o achado se confirmar, células do seu corpo poderão um dia ser transformadas em todo tipo de tecidos -e até órgãos- de reposição perfeitos, sem problemas de rejeição.

Não seria preciso recorrer à clonagem terapêutica -clonar pessoas para extrair células-tronco compatíveis dos embriões. Nem seria preciso alterar geneticamente células-tronco embrionárias (ESCs, na sigla em inglês) para criar uma linhagem que não provoque rejeição imunológica.

A descoberta dessas versáteis células-tronco adultas esvaziaria, ainda, o debate sobre a pesquisa com células-tronco de embriões ser ou não justificável.

"O trabalho é emocionante", diz Ihor Lemischka, da Universidade de Princeton (Nova Jersey, EUA). "As células podem se transformar em quase tudo aquilo em que as ESCs podem se diferenciar."

As células foram encontradas na medula óssea de adultos por Catherine Verfaillie, da Universidade de Minnesota (norte dos EUA). Resultados extraordinários exigem provas extraordinárias, e a equipe publicou até agora poucos deles. Um pedido de patente examinado pela "New Scientist" revela que o grupo realizou experimentos amplos. E eles mostram que as células -batizadas de MAPCs (da abreviação em inglês para células progenitoras adultas multipotentes)- têm o mesmo potencial das ESCs.

"São muito dramáticos os tipos de observação que Verfaillie está relatando", afirma Irving Weissman, da Universidade Stanford (Califórnia). "Os achados, se forem reproduzíveis, são notáveis."

Pelo menos dois outros laboratórios afirmam ter encontrado células similares em camundongos. Uma companhia de biotecnologia, a MorphoGen Pharmaceuticals de San Diego (Califórnia), diz que as encontrou em pele, músculos e medula óssea de seres humanos. Mas a equipe de Verfaillie parece ter sido a primeira a realizar os experimentos-chave necessários para dar apoio à hipótese de que células-tronco adultas sejam tão versáteis quanto ESCs.

Verfaillie extraiu as MAPCs da medula óssea de camundongos, ratos e seres humanos em várias etapas. Células que não tinham certos marcadores em sua superfície, ou que não cresciam sob determinadas condições, eram gradualmente eliminadas, deixando uma população rica em MAPCs.

Verfaillie diz que seu laboratório conseguiu isolar as células seguramente de 70 dos cerca de 100 voluntários que doaram amostras de medula óssea.

Dois anos de cultivo

As células parecem se multiplicar indefinidamente em cultura, como as ESCs. Algumas linhagens das novas células estão sendo cultivadas por quase dois anos e mantiveram suas características, sem dar sinais de envelhecimento, diz a pesquisadora.

Sob as condições corretas, as MAPCs podem transformar-se numa grande variedade de tecidos: músculo, cartilagem, osso, fígado e diversos tipos de célula nervosa. Foi crucial Verfaillie ter mostrado, por meio de uma técnica chamada marcador retroviral, que as descendentes de uma única MAPC podem se transformar em todos esses tipos de célula -um experimento fundamental para comprovar que as MAPCs são realmente versáteis.

Além disso, o grupo de Verfaillie também realizou o teste de ouro para verificar a plasticidade das células. Ela implantou MAPCs individuais de humanos e de camundongos em embriões muito novos desses roedores, quando são ainda uma bolinha de células. Análises dos camundongos nascidos em seguida ao experimento revelaram que uma única MAPC pode contribuir para todos os tecidos do corpo.

As MAPCs têm muitas das características das ESCs, mas não são idênticas a elas. Por exemplo, não parecem formar massas cancerosas quando injetadas em adultos. Isso seria obviamente desejável, se confirmado.

"Os dados parecem muito bons, é difícil achar qualquer falha", afirma Lemischka. Mas tudo ainda precisa ser confirmado por outros grupos, acrescenta.

Enquanto isso, há algumas questões fundamentais que precisam ser respondidas, dizem outros especialistas. Uma é saber se as MAPCs realmente dão origem a células funcionais.

Freda Miller, da Universidade McGill (Canadá), diz que células-tronco que se diferenciam podem exibir marcadores característicos de muitos tipos de célula, mas encontrar marcadores de tecido neural não prova necessariamente que a célula-tronco se tornou um neurônio funcional.

Os resultados de Verfaillie levantam questões sobre a natureza das células-tronco. Sua equipe acha que as MAPCs são células raras da medula óssea que podem ser pescadas ao longo de várias etapas de seleção. Outros acreditam que o processo de seleção pode, na realidade, criar as MAPCs.

"Não acho que haja "uma célula" por ali que possa fazer isso. Acredito que Catherine [Verfaillie" achou um meio de produzir a célula que se comporta desse modo", diz Neil Theise, da Universidade de Nova York.
 

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