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30/01/2002 - 15h57

Alemanha discute pesquisa com embriões; veja os pontos polêmicos

da Agência Lusa

Os deputados alemães estão hoje reunidos para discutir se é eticamente aceitável fazer pesquisas com embriões humanos e se a legislação nacional deve autorizar ou interditar a importação de células-tronco embrionárias para pesquisa.

O tema divide todos os campos políticos com assento no Bundestag, o parlamento alemão, onde se prevê uma votação sobre a matéria para o fim da tarde.

A comunidade científica alemã espera que haja uma regulamentação sobre as pesquisas, que de outra maneira ficarão paralisadas no país.

São os seguintes os conceitos básicos da discussão, que alguns pesquisadores classificam de mero confronto entre partidários e críticos do aborto:

- Objetivo da investigação com células-tronco: Os cientistas querem controlar as características de transformação das células-tronco para aplicá-las na medicina. A meta é enxertar ou transplantar células-tronco nos tecidos afetados para, mediante a sua regeneração celular, reparar esse tecido e catalisar inclusive a auto regeneração do órgão ou sistema afetado. Já é uma realidade a criação de células produtoras de insulina para corrigir o problema que apresentam alguns diabéticos.

- Células-tronco: Também chamadas precursoras, estaminais, troncais ou germinais, são células que apresentam a capacidade de transformar-se em outros tipos de células. Existem dois tipos de células-tronco, as adultas e as embrionárias.

- Células-tronco adultas: São encontradas em alguns tecidos do corpo humano (pele, cordão umbilical, fígado e medula óssea). Os cientistas fazem pesquisas com elas há três décadas e, apesar da sua capacidade de reprogramação ser limitada, podem originar outros tipos de células, principalmente sanguíneas, musculares e nervosas.

- Células-tronco embrionárias: Como o seu nome indica, só se encontram nos embriões. A investigação com esse tipo de célula é um clássico nas pesquisas com animais, mas tornou-se polêmica desde que em 1998 o norte-americano James Thomson começou a cultivar células-tronco embrionárias humanas. Dependendo da fase de desenvolvimento embrionário em que são extraídas, estas células podem ser totipotenciais ou pluripotenciais.

- Células-tronco embrionárias totipotenciais: Encontram-se na primeira divisão do óvulo fertilizado e dão lugar a um ser humano. Se as duas primeiras células do embrião se separam nascerão gêmeos. A sua manipulação apresenta muitas dificuldades técnicas, o que levou os cientistas a deixarem os estudos de lado.

- Células-tronco embrionárias pluripotenciais: Aparecem no blastocito que formam as células totipotenciais cinco dias após a fecundação, uma espécie de esfera contendo cerca de 140 células que permitem o desenvolvimento primário do embrião, mas que não podem originar sozinhas um ser humano. Estas células, ainda imaturas, não estão diferenciadas para se comportarem com identidade própria e cumprir uma função específica no organismo, daí o seu potencial. São as atualmente estudadas pelos cientistas.

- Que embriões se utilizam: Os cientistas utilizam, em termos gerais, os embriões humanos supranumerários dos tratamentos de fertilização 'in vitro', quer seja porque lhes faltam cromossomas e jamais poderiam desenvolver-se, ou porque, após um exame genético, se sabe que esses embriões cresceriam com alguma doença mortal. Até aqui a investigação não tropeça em grandes problemas éticos porque se trata de embriões inviáveis. O problema dos cientistas é que, precisamente por se tratar de embriões doentes, não podem utilizá-los em terapêutica.
O objetivo futuro é a utilização de embriões congelados saudáveis provenientes da fecundação 'in vitro' que os pais já não queiram, ou a clonagem de embriões, neste caso a clonagem terapêutica.

- Clonagem terapêutica: Não se trata de clonar seres humanos, mas apenas de uma clonagem de embriões para fins terapêuticos mediante a combinação das técnicas usadas pelos criadores da ovelha Dolly e por Thomson para a obtenção de células-tronco embrionárias. Para a clonagem embrionária extrai-se uma célula de um adulto, retira-se o seu núcleo, onde se encontra toda a informação genética, e a introduzir em um óvulo que teve previamente extraído o núcleo. O óvulo desenvolve-se e produz um embrião humano clonado. Prosseguindo segundo a técnica de Thomson, o embrião clonado é destruído para lhe subtrair culturas de células-tronco e diferentes tecidos.
Estas células-tronco seriam idênticas ao receptor, pelo que não haveria lugar a qualquer fenômeno de rejeição, daí o seu caracter terapêutico.

- O que acontece aos embriões: Independentemente do método adotado pelos cientistas, uma vez extraídas as células-tronco embrionárias pluripotenciais dos blastocitos, os embriões morrem por não poderem continuar se desenvolvendo. Os críticos a este método acham que a situação configura um aborto. Os cientistas afirmam que só se poderia considerar um aborto se os embriões tivessem sido extraídos do útero da mãe, o que não é o caso.

- Quais são as melhores células-tronco: As células-tronco embrionárias, apesar dos problemas éticos que envolvem, abrem melhores perspectivas porque apresentam duas importantes qualidades: podem converter-se nos mais de 200 tecidos do corpo humano e podem ser cultivadas de forma quase ilimitada. As células-tronco adultas não apresentam reservas éticas, mas, por serem menos versáteis, a sua capacidade de diferenciação em outras células é limitada. Além disso, ao contrário das embrionárias, as células-tronco adultas não são tão abundantes e não se reproduzem com tanta facilidade.

- Importação de células-tronco: A importação destas células é a única possibilidade que resta aos cientistas dos países em que, como na Alemanha, é proibido fazer pesquisas com embriões humanos e, portanto, obter linhas celulares próprias. Ainda não existe a linhagem de células que será utilizada na medicina, mas já estão sendo estudadas 72. Estas células encontram-se em laboratórios dos Estados Unidos, Israel, Suécia, Reino Unido, Austrália e Índia. A meta de todos os cientistas que trabalham nesta direção é criar uma linhagem de células constante que se possa utilizar em terapêutica e que não envelheça. A ovelha Dolly traduz este problema, apresentando sinais de envelhecimento precoce.

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