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11/02/2002 - 11h36

Evolução liga sintético ao biológico

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da Folha de S.Paulo

Nem os andróides biológicos de "Blade Runner", nem o homem-máquina que virou Anakin Skywalker ao se tornar Darth Vader na série cinematográfica "Guerra nas Estrelas". O rumo das pesquisas que buscam substituir órgãos e tecidos humanos por equivalentes artificiais está a meio caminho entre esses extremos.

Ao que parece, neurônios cultivados em laboratório e chips de silício vão ter de trabalhar juntos para que o homem chegue ao sonho de construir um cyborg (contração de "organismo cibernético", em inglês). Essa é a conclusão a que a comunidade científica parece estar chegando, pelo que se pode ler no especial sobre biônica publicado na última "Science" (www.sciencemag.org).

Tome-se o exemplo do desenvolvimento do coração artificial, um dos campos mais avançados quando o assunto é substituir um órgão natural por um artificial. "A idéia sempre foi de que a substituição total do coração seria o ideal", diz Fábio Jatene, cardiologista do Instituto do Coração, em São Paulo, e filho do também cardiologista Adib Jatene.

"Isso, entretanto, não vem se provando na prática. Os VADs [ventrículos artificiais, que auxiliam as funções do coração, mas não o substituem" dão menos complicação, são mais práticos e ainda mantêm a possibilidade do reaproveitamento do órgão original, caso se recupere."

Não é à toa. Por melhor que funcionem, os corações totais artificiais (como o AbioCor, que já foi implantado em vários pacientes nos EUA desde o ano passado) são muito menos capazes de se adaptar do que os músculos naturais. E uma falha no funcionamento é morte quase certa. Por isso, eles só são autorizados para uso em pacientes cuja expectativa de vida não ultrapassa os 30 dias.

E isso porque o coração é essencialmente só uma bomba, nada muito sofisticado em termos mecânicos. Com coisas de funcionamento complexo, como a medula espinhal, a solução para um substituto provavelmente só virá da criação de culturas de células capazes de corrigir o dano original.

Nesse caso, o campo que merece mais atenção é o da engenharia de tecidos -uma área que ainda está começando, mas que já apresenta alguns resultados.

"Tecidos conectivos estão atualmente no front da pesquisa aplicada, com osso, cartilagem, pele e vasos à frente. Para falha de órgãos, esperamos desenvolver alternativas para transplantes", diz Linda Griffith, engenheira de tecidos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA.

"Muitas dessas tecnologias dependem do que acontece nas pesquisas de células-tronco [aquelas que podem se diferenciar em vários tipos de célula". Se pudermos colocar células-tronco em locais de tecidos danificados e corrigir o problema, nem precisaremos manter tecidos em cultura", diz.

Embora as mais polivalentes células-tronco sejam embrionárias (que, ao serem extraídas, causam a morte do embrião, daí a polêmica em torno desses estudos), Griffith ainda acha cedo para avaliar seu potencial. "O uso de células-tronco embrionárias para curar um modelo de doença humana ainda não foi demonstrado. Ainda há muita ciência a fazer antes de saber que papel elas terão."

Híbrido

Um caso de hibridização do orgânico com o sintético é o atual esforço para a criação de fígados artificiais. Os principais sistemas em teste envolvem um aparelho biorreator, constituído por estrutura que abriga em seu interior uma cultura de células hepáticas.

Eles ficam fora do organismo e são ligados ao corpo por meio de tubos, de forma similar ao que ocorre no processo de diálise, para compensar a inação dos rins. "Alguns grupos estão tentando trabalhar com um interno, na França, mas está difícil avançar com ele clinicamente", diz Alastair Strain, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

Os atuais aparelhos ainda estão longe de ser um substituto à altura do fígado original. Apesar de conterem células hepáticas, elas não conseguem executar todas as funções ligadas ao órgão natural.
Mesmo assim, a estratégia híbrida parece ser o melhor caminho. Até mesmo para estruturas simples, como braços e pernas.

"Materiais híbridos, como biotecidos ou componentes similares a tecidos inspirados pela biologia, são provavelmente o que Luke Skywalker vai usar para substituir seu braço", diz William Craelius, da Universidade Rutgers, nos EUA. "Ainda estamos bem longe desse cenário". O caminho, entretanto, já está sendo traçado. (SALVADOR NOGUEIRA)
 

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