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18/02/2002 - 06h32

Genoma entusiasma em reunião nos EUA

MARCELO LEITE
enviado especial a Boston

Um ano depois da publicação dos rascunhos do genoma humano, o campo de pesquisa que mais arrecada dinheiro no mundo continua sendo um sucesso de público, como ficou patente na reunião anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência). A estrela em ascensão é Eric Lander, do Instituto Whitehead (EUA), que produziu cerca de um terço das leituras de DNA do Projeto Genoma Humano.

A conferência de Lander, anteontem, mais que lotou um salão preparado para 200 pessoas. Se depender de seu entusiasmo e do que consegue provocar no platéia, a genômica não terá dificuldades para continuar angariando fundos de pesquisa -e vai precisar muito deles, porque Lander diz que há pelo menos 10 ou 20 anos de pesquisa pela frente para começar a ler o que chamou de "a mais extraordinária biblioteca".

"Ainda estamos na pré-escola", disse o cientista do Whitehead, associado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Para ser rigoroso, nem a escola nem sua biblioteca estão sequer construídas. Afinal, o genoma publicado há um ano era um rascunho cheio de rasuras e saltos nas sequências.

Desde então, só 70% do genoma foi passado a limpo. Segundo Lander, os restantes 30% deverão estar finalizados até abril do ano que vem -quando a descoberta da estrutura do DNA em hélice dupla, por James Watson e Francis Crick, completará 50 anos.

Mesmo um ano depois, a julgar pela conferência de Lander, os geneticistas continuam sem saber explicar a pequena quantidade de genes já achada (entre 30 mil e 40 mil, conforme a fonte, contra uma previsão anterior de 100 mil). "Parece que há mais "splicing" alternativo [do que esperado]", disse, referindo-se ao fato de que muitas sequências intercaladas entre as partes do gene são cortadas fora na hora em que a célula fabrica a proteína de que necessita e cuja receita vai buscar no genoma.

A ausência mais notada na AAAS foi a de Craig Venter. Ele faltou sábado à tarde ao seminário organizado por sua mulher, Claire Fraser, do Tigr (O Instituto para Pesquisa Genômica).

Venter foi o cérebro e motor do projeto genoma privado levado a termo pela empresa Celera. Sem essa concorrência, a transcrição dos 3 bilhões de letras do DNA da espécie humana dificilmente teria sido concluída no ano 2000.

Venter anda meio eclipsado após seu afastamento da presidência da Celera. Segundo analistas do setor de biotecnologia, a sócia principal da joint-venture, Applera, estaria impaciente com a lentidão da genômica em gerar medicamentos para uma indústria viciada em drogas "blockbusters" e lucros exorbitantes.

A falta de resultados concretos dramáticos num campo de pesquisa que, só entre 1998 e 2000, consumiu em todo o mundo US$ 3,7 bilhões (segundo compilação de Robert Cook-Degan, da Universidade Stanford), pode começar a minar seu prestígio. De sinônimo de tecnologia de ponta a serviço da qualidade de vida de cada um e promessa de tornar a medicina uma ciência exata, a genômica parece estar madura para começar a ser posta em questão -não, claro, do ponto de vista do entusiasmado Lander.
 

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